As consequências da falta de sono
Dormir não é só um prazer, mas também uma necessidade, e são muitas as consequências da falta de sono. Tanto o ato de adormecer quanto o de sonhar são enigmáticos para os seres humanos desde o princípio dos tempos. Nenhuma de nossas funções vitais se detém ao dormir, com exceção daquelas relacionadas à plena consciência. Com respeito às demais funções, o corpo inteiro continua ativo e a mente também.
É verdade que existe uma maneira habitual de dormir: oito horas durante a noite. Porém, também é verdade que muitas pessoas não se adaptam a este esquema. Existem pessoas que só descansam quatro horas ou menos e com isso se sentem renovadas. Também existem outras que precisam de mais de 9 horas para se sentirem realmente descansadas.
A quantidade de horas que dormimos muda com a idade, com os hábitos e as características do próprio indivíduo. Quando nascemos, precisamos de muitas horas de sono. Quando envelhecemos, nos habituamos aos períodos de sono curtos e intermitentes. Nesse assunto não existem esquemas fixos.
Existem perguntas que ainda não têm uma resposta definitiva. Uma delas é quanto tempo uma pessoa pode passar sem dormir? Os poucos dados que existem a respeito foram extraídos de experiências voluntárias. Não seria ético submeter alguém à privação do sono por um tempo prolongado só para pesquisar os seus limites.
Para que dormimos?
A maioria das pessoas jamais pensaria em perguntar por que ou para que devemos dormir. Parece óbvio que o corpo se cansa durante a jornada diária e, por isso, precisa de descanso. A forma mais natural de conseguir esse descanso é o sono.
No entanto, se refletimos melhor, isso não é tão óbvio. Na realidade, nem o corpo nem o cérebro são “desativados”, por assim dizer, quando vamos dormir. É verdade que reduzimos a mobilidade externa ao mínimo e os músculos alcançam um estado de relaxamento que seria difícil conseguir em outra condição. Ficamos deitados, fazendo poucos movimentos até estar cômodos ou encontrar uma posição melhor. Mas, ao mesmo tempo, todos os órgãos do corpo continuam funcionando.
O cérebro permanece ainda em grande atividade enquanto dormimos. Por um lado, sonhamos. Nossa mente constrói cenários e situações que envolvem pensamentos e emoções, às vezes bem intensos. Também existem pessoas que falam ou caminham enquanto estão adormecidos. Além disso, uma parte do cérebro continua acordada. Se escutamos um forte ruído ou aparece algum perigo, uma zona do cérebro transmite um alerta para despertarmos.
Então, finalmente, quando vamos para a cama, a única coisa que descansamos é a movimentação dos membros do corpo e a manutenção de um nível básico de atenção. A ciência ainda não conseguiu determinar exatamente para que dormimos. Sabemos que o sono influencia a produção de mielina, a formação de novas conexões neurais e a eliminação de resíduos cerebrais. No entanto, até agora, não existe uma resposta plena e convincente para o seu exato papel.
O que acontece quando você não dorme
Todos já passamos alguma vez pela experiência de não dormir horas suficientes. Sabemos que aparecem sensações de cansaço, irrealidade, e às vezes dores de cabeça, além de tonturas e náuseas. Além disso, a atividade mental fica lenta e perdemos a concentração com facilidade.
Quando o tempo de vigília se prolonga demais, aparecem outros sintomas. Entre eles estão: visão turva, dor muscular, enfraquecimento do sistema imunológico, tremor nas mãos e pernas, aumento dos níveis de colesterol, ansiedade, depressão, enxaqueca, aumento da pressão arterial, irritação e problemas de memória. Em casos ainda mais graves são frequentes as alucinações e as condutas psicóticas.
Existem alguns indícios que mostram que não dormir poderia causar dano cerebral. Esta conclusão provisória foi revelada por um estudo feito na Suécia. Solicitaram que 15 adultos voluntários, com um peso mediano, passassem a noite sem dormir. Este grupo passou por um monitoramento após a noite sem dormir e depois de outra noite em que dormiram por oito horas. O objetivo era detectar que tipos de mudanças ocorriam.
Os pesquisadores encontraram uma alta concentração de duas moléculas associadas ao cérebro no sangue dos indivíduos estudados. Essa descoberta leva a pensar que houve uma certa deterioração no tecido cerebral. Depois de uma noite de sono, a composição do sangue era normal. A experiência não verificou mudanças a longo prazo.
O tempo limite sem dormir
Não se pode dar uma resposta exata à pergunta de quanto tempo uma pessoa pode passar sem dormir. Oficialmente, o recorde da maior quantidade de horas sem dormir é de um estudante de colegial chamado Randy Gardner. Em 1965, ele passou 264 horas sem dormir, ou seja, 11 dias. Ele estava fazendo um trabalho para uma feira de ciências. O caso foi documentado pelo psiquiatra J. Christian Gillin, professor de psiquiatria da Universidade da Califórnia.
O estudante tinha 17 anos e aqueles que o observaram disseram que durante o tempo que ele esteve sem dormir, desenvolveu vários sintomas. Ele apresentou deficiências cognitivas, problemas na fala e na visão, inclusive alucinações. Existem versões nas quais outras pessoas passaram mais tempo sem dormir. Por exemplo, existem referências de uma mulher britânica que permaneceu 18 dias sem dormir para ganhar uma competição. Porém, esses dados não foram comprovados.
Também sabemos que existem umas 40 famílias no mundo que padecem de uma doença estranha conhecida como Insônia Familiar Fatal. Trata-se de um mal genético que altera o sistema nervoso e gera um tipo de orifício dentro do tecido neural. Aqueles que sofrem com esse problema chegam a um ponto no qual não conseguem dormir. Depois de algumas semanas, eles se comportam como sonâmbulos, enfraquecem, e acabam morrendo.
As consequências da falta de sono podem levar à morte?
As pessoas que sofrem de Insônia Familiar Fatal morrem depois de um tempo por não conseguir dormir, mas não pela falta de sono. O que provoca a morte é o dano cerebral generalizado. Não poder dormir é uma das manifestações desse padecimento, mas não o eixo central do mesmo.
Na década de 80 foi realizada uma pesquisa no Laboratório do Sono Allan Rachtschaffen, na Universidade de Chicago. Nesse estudo foram comprovadas as consequências geradas pela impossibilidade de dormir em um grupo de ratos. Eles foram impedidos de pegar no sono por meio de uma corrente elétrica cada vez que tentassem dormir. O resultado foi que, depois de um intervalo entre 11 e 32 dias, a maioria desses animais havia falecido ou estava moribundo.
Os cientistas concordam que a falta de sono faz com que as pessoas fiquem um pouco “loucas”. É obvio que as funções normais do cérebro sofrem alterações. As pessoas se estressam, demostram estar irritadas, começam a ter comportamentos excêntricos e até sofrem alucinações. Às vezes terminam dizendo incoerências. Tudo isso acontece. No entanto, também é obvio que quando a pessoa volta ao seu padrão normal de sono, todos esses sintomas desaparecem e não ficam sequelas visíveis.
Apesar disso, não é estranho pensar que a falta de sono extrema poderia levar à morte. Um dano severo no sistema nervoso seria potencialmente grave para diferentes órgãos do corpo humano. Daria início a uma cadeia de eventos que eventualmente poderia chegar a um desenlace fatal. Também poderíamos pensar que existe um ponto no qual materialmente nenhuma pessoa aguentaria continuar acordada. Apesar de ser contra a sua vontade, ela seria derrotada pelo sono.