Conto de transformação: a borboleta que achava que ainda era uma lagarta

Conto de transformação: a borboleta que achava que ainda era uma lagarta
Cristina Calle Guisado

Escrito e verificado por a psicóloga Cristina Calle Guisado.

Última atualização: 13 abril, 2023

Esse conto de transformação relata a história de uma borboleta que achava que ainda era uma lagarta. Essa história nos fala sobre transformação e falta de aceitação de si mesmo. A verdade é que algumas vezes temos mais poder do que queremos enxergar e, assim, desperdiçamos nossa energia resistindo às mudanças, olhando para o passado e tentando continuar sendo quem não somos mais.

Há muito tempo nasceu uma pequena lagarta que, com alguma dificuldade, rastejava no solo de um lugar para outro. Até que um dia, cansada de rastejar, ela decidiu subir numa árvore. Mas não em qualquer árvore. Ela escolheu subir numa árvore de tronco e folhas bem grandes, sob a qual ela havia brincado, crescido e vivido durante anos.

“O que você nega o subordina. O que você aceita o transforma.”
-Carl G. Jung-

A lagarta subiu e subiu, mas às vezes escorregava, caia e não conseguia avançar. Apesar disso, ela não desistiu e, passo a passo, pouco a pouco, conseguiu finalmente subir. Ela chegou a um galho do qual conseguia ver todo o vale. A vista era maravilhosa. Lá de cima, ela conseguia ver outros animais, conseguia admirar o céu azul com nuvens brancas de algodão e, no horizonte, um extenso mar pintado de azul intenso. Naquele galho, a lagarta respirava paz.

Ela ficou imóvel, observando o mundo a sua volta e sentiu que a vida era muito bonita para não se transformar com ela. Ela estava cansada e, ao mesmo tempo, grata pela sua vida como lagarta. Mas sabia que havia chegado o momento de se transformar em outro ser.

“O melhor presente que podemos dar ao mundo é a nossa própria transformação.”
-Lao Tsé-

Um conto de transformação de uma lagarta em borboleta

A lagarta adormeceu, sentindo uma grande paz a sua volta e pensando que seu destino era ser mais do que uma simples lagarta. Ela dormiu e dormiu, fazendo crescer um casulo ao seu redor, um escudo que conservou a sensação de paz durante tempo suficiente para que ela se transformasse em outro ser.

Quando acordou, se sentiu presa em uma armadura na qual não conseguia se mexer. Ela sentiu que nas suas costas havia crescido algo estranho. Com muito esforço, movimentou o que pareciam ser enormes asas azuis e o casulo se quebrou. A lagarta já não era mais uma lagarta, era uma borboleta azul. No entanto, ela tinha sido uma lagarta por tanto tempo que não percebeu que já não o era mais.

Borboleta azul em folha verde

A borboleta azul desceu da árvore usando suas pequenas patas, mesmo tendo asas agora. Ela carregava o peso daquelas grandes asas azuis, um peso que pouco a pouco consumia suas forças. A borboleta azul se movimentava usando suas patas como sempre havia feito. Ela achava que continuava sendo uma lagarta e continuava vivendo como se fosse uma. Mas suas asas faziam com que fosse difícil se movimentar no chão com a mesma agilidade de antes.

“O que para a lagarta se chama o fim do mundo, para o resto do mundo se chama borboleta.”
-Lao Tsé-

O peso das asas

A borboleta que acreditava continuar sendo uma lagarta não entendia por que sua vida tinha se complicado tanto.  Cansada de carregar o peso das suas asas, ela decidiu voltar ao galho no qual tinha passado por sua transformação. Mas dessa vez, ao tentar subir na árvore, achou que seria impossível.

Uma corrente de vento ou qualquer outro pequeno imprevisto a fazia retroceder. A borboleta que acreditava continuar sendo uma lagarta ficou imóvel e olhou para cima, na direção daquele galho que parecia tão distante, ao mesmo tempo em que começou a chorar desesperada. Ao ouvir seu choro, uma linda e sábia borboleta branca se aproximou, pousou em uma flor e durante um momento observou a borboleta azul sem dizer nada. Quando o choro diminuiu, a borboleta branca disse:

  • O que você tem?
  • Não consigo subir até aquele galho. Uma coisa que antes, mesmo com dificuldade, eu conseguia fazer.
  • Mesmo que você não possa subir até o galho… talvez você consiga voar até ele.

A borboleta azul que acreditava continuar sendo uma lagarta olhou de maneira estranha para a borboleta branca e, em seguida, olhou para si mesma e para suas grandes e pesadas asas. Como no dia em que saiu do seu casulo, movimentou com força as asas e as abriu. Elas eram tão grandes e tão bonitas, de um azul tão intenso que a lagarta transformada se assustou e as guardou rapidamente.

  • Você está desgastando suas patas por não usar suas asas. – disse a borboleta branca levantando voo enquanto abria suas lindas asas e se afastava com elegância.

Levantar voo

A borboleta azul observou impressionada cada movimento da borboleta branca e refletiu sobre as palavras que ouviu. Nesse momento, ela começou a entender que já não era mais uma lagarta, que talvez aquelas pesadas asas pudessem servir para alguma coisa. 

Ela as abriu de novo e dessa vez as manteve abertas. Fechou os olhos e sentiu como o vento as tocava. Ela sentiu que as asas agora faziam parte dela e aceitou que já não era mais uma lagarta, por isso não podia continuar vivendo como tal, rastejando no chão.

A borboleta azul abriu mais ainda suas asas e cada vez se sentia mais borboleta e menos lagarta. Ela observou o lindo tom azul, quase mágico, das suas asas. E, sem perceber, estava voando, estava subindo lentamente até aquele galho. Voar era muito mais simples do que rastejar, mesmo que ainda precisasse aprimorar seu voo. Ela descobriu que o medo de voar não havia permitido que ela aceitasse quem realmente era: uma lagarta transformada em borboleta azul.

Esse conto de transformação relata a história de uma borboleta que achava que ainda era uma lagarta. A história da linda borboleta azul, com asas grandes, fortes e resistentes, capazes de ir contra a corrente, de voar em meio a tempestades e de enfrentar o mais forte dos ventos. A borboleta azul tinha grandes e lindas asas de um azul brilhante. Um azul que contém uma ampla gama de tons azuis, desde o azul do céu mais claro até o do mar mais furioso. Mas nem ela mesma sabia.

Borboleta voando sobre as mãos de um homem

Os ensinamentos do conto de transformação da borboleta azul

A transformação de lagarta em borboleta é uma das metáforas mais utilizadas para falar de resiliência . As borboletas são um símbolo de transformação, um símbolo de fragilidade e grandeza simultaneamente. Por isso, é fácil encontrar uma borboleta como protagonista de um conto de transformação.

Esse conto de transformação nos lembra de que vivemos em um mundo mutável, em um mundo em constante evolução e que nós fazemos parte desse mundo dinâmico, fazendo parte dessa evolução. Mas, às vezes, apesar de termos nos transformado e termos força para evoluir, não conseguimos aceitar por vários motivos: medo, vergonha, culpa…

“É impossível ser sempre a mesma pessoa, porque vivemos.”
-Eloy Moreno-

Neste caso, uma linda e forte borboleta azul não conseguia aceitar que já não era mais uma lagarta e que, portanto, não podia viver como se fosse. Uma parte dela desejava evoluir, mas outra parte temia as mudanças e tentava se agarrar ao passado e continuar vivendo da mesma maneira, inclusive tentando ser outro ser. Ela demorou algum tempo para aceitar e descobrir para que suas asas serviam e como podia viver a partir de então. Para isso, ela precisou de ajuda. Nesse sentido, devemos pensar que os outros costumam ver com mais clareza os nossos pontos positivos do que nós mesmos.


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