A culpa patológica e sua rede

A culpa patológica e sua rede
Sergio De Dios González

Escrito e verificado por o psicólogo Sergio De Dios González.

Última atualização: 11 fevereiro, 2018

O sentimento de culpa é, a princípio, saudável. Embora cause desagrado, trata-se de um mecanismo que está associado à autocrítica. É inevitável que às vezes ajamos de forma inadequada e acabemos prejudicando os outros. Nesses casos, a culpa nos alerta para a necessidade de reparar. No entanto, existem circunstâncias em que a reprovação vai além do que é razoável, e é aí que a culpa patológica aparece.

A culpa envolve um chamado à consciência. Aparece quando algum princípio foi violado ou passamos por cima de algum valor em que acreditamos. A culpa é um sentimento fortemente associado à ideologia e à consciência moral.

“Vamos de inocentes a culpados em um segundo. O tempo é assim, pica-paus cantando em uma árvore cansada “.
-Juan Gelman-

Em termos psicológicos, é praticamente impossível definir se um comportamento é “bom” ou “mau”. Inclusive, aqueles que prejudicam deliberadamente podem ser motivados por distorções em seus pensamentos ou emoções, resultado de um ambiente alterado, doente ou disfuncional.

No entanto, individualmente cada pessoa faz esse tipo de avaliação em termos de certo e errado. Quando sente que passou por seu sistema de crenças ou valores, sente remorso. Quando ocorre a mudança de culpa normal para patológica? Vamos nos aprofundar.

Mulher triste sentindo culpa patológica

Culpa normal e culpa patológica

Nem sempre fica clara qual é a diferença entre uma culpa que poderíamos chamar de “normal” e uma culpa patológica. Uma primeira pista para distinguir uma da outra é a avaliação de sua frequência e intensidade. Se é experimentada regularmente e é um sentimento muito forte e invasivo, podemos falar de culpa patológica.

Há transtornos psicológicos em que a culpa está muito presente. Um dos mais comuns é a depressão. Sob esse estado, é muito comum que a pessoa tenda a recriminar a si mesma constantemente. Na verdade, ela começa a se sentir culpada por estar deprimida e não poder se sentir como os outros.

A culpa patológica também está presente nos transtornos obsessivo-compulsivos, em fobias e nos vícios. Nesses casos, a culpa opera como parte do problema. Não é uma culpa saudável que leva a reparar ou redirecionar o comportamento. Em vez disso, funciona como um fator de constante castigo emocional, que geralmente agrava o problema central.

As faces da culpa

Às vezes a culpa se apresenta um pouco camuflada. Nesses casos, não se trata do típico remorso depois de ter feito ou falado algo que consideramos reprovável. Existe, por exemplo, a culpa traumática, uma das formas adotadas pela culpa patológica.

Mulher com uma foto sua diante do rosto

O mecanismo funciona da seguinte maneira: uma pessoa é vítima de uma arbitrariedade, um abuso ou de um evento extremamente doloroso. Nestes casos, o impacto emocional é extremamente elevado. Está configurado, então, o que é chamado de “trauma”. Embora a pessoa seja vítima disso, desenvolve um sentimento de culpa diante da situação. Esse é precisamente um dos efeitos do trauma. Neste caso, há uma culpa patológica.

Da mesma forma, há casos em que uma pessoa se sente culpada simplesmente por imaginar um dano, embora na prática nunca o tenha causado. Não deveria haver arrependimento, porque nenhum dano foi causado. No entanto, se a moral ou o superego da pessoa é extremamente restritivo, irá perceber tudo como se realmente tivesse feito algo errado.

Superar a culpa patológica

A culpa patológica pode chegar a ser muito incisiva. Pouco a pouco faz fendas e se infiltra nas diferentes ações da vida. Diminui muito a autoestima, embora também seja um produto de baixa valorização de si mesmo. Por exemplo, alguém com pouco amor próprio sente que deve agradar aos outros o tempo todo, e se ele não tiver sucesso, se sente culpado.

Mulher cortada em seções

O que se requer nesses casos é um processo que permita abrir a mente para poder ver tudo a partir de outra perspectiva. É importante refletir sobre as normas e crenças que temos e, acima de tudo, avaliar a razão de ser e sua lógica. A grande maioria das vezes envolve códigos excessivamente rígidos, que, na realidade, não levam a ser uma pessoa melhor ou um membro melhor da sociedade. Eles apenas cumprem o papel de atormentar.

Em muitas ocasiões, é necessário realizar este processo com a ajuda de um psicoterapeuta. Pode ser que a culpa tenha raízes tão profundas que seja difícil de enfrentar sem apoio. Vale a pena fazer esforços para se livrar da culpa patológica. Trata-se de uma força que às vezes se torna esmagadora e pode arruinar toda a sua vida.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.