Dizer "não" de maneira positiva

Dizer "não" de maneira positiva
Anet Diner Gutverg

Escrito e verificado por a psicóloga Anet Diner Gutverg.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

Com as novas idéias sobre educação e disciplina positiva, o “não” tão usado por nossos pais e avós passou a ser visto como algo quase demoníaco. Muitos pais se sentem à deriva, sem fórmulas para impor normas. Assim, buscam uma maneira de impor seus critérios, mas sem passar a sensação de que são pais autoritários e excessivamente restritivos. Neste artigo, vamos aprender a dizer não de maneira positiva.

O “não” que nossos filhos merecem, quando acreditamos que devemos ir contra um de seus desejos, é melhor que seja um não razoável, baseado em razões fortes. Por outro lado, existem graus intermediários entre o não e o sim. Podemos propor, por exemplo, que façam o que desejam mais tarde, quando as circunstâncias forem mais adequadas. Também podemos oferecer outras alternativas que consideramos apropriadas e das quais eles possam gostar.

O fundamental é ajudar nossos filhos para que eles mesmos pouco a pouco se autorregulem e aprendam a agir sob determinadas regras. Embora seja um processo longo e constante, não podemos nos esquecer de que são crianças e nós somos responsáveis ​​pela sua educação. Paciência, porque este pode ser um caminho tão belo quanto longo.

Pai e filho conversando

A curiosidade de nossos filhos nos causa ansiedade

As crianças são curiosas por natureza, o triste é que parte desta inquietude parece desaparecer quando nos tornamos adultos. Talvez os “nãos” tenham freado esta curiosidade porque de alguma forma ela devia incomodar os adultos, enquanto a maneira de ensinar da escola, à base de repetições e mais repetições, também não ajudava.

Por outro lado, é muito difícil encontrar o equilíbrio entre permitir que nosso filho explore e libere sua curiosidade e conviver com o nosso medo de que algo aconteça. Se formos muito nervosos e nos deixarmos dominar por nossa ansiedade, é provável que dizer “não” seja nosso recurso e que gritemos “não faça isso…” “não suba aí…”, “não toque nisso…”. Assim fica claro que não dizemos “não” de maneira positiva.

Por outro lado, podemos tentar fazer um esforço, mas nesse esforço também acumulamos ansiedade. Uma ansiedade da qual muitas vezes também nos livramos gritando: usando aquele “não!” que assusta e desorienta nossos filhos. Eles pensam: “Por que você grita comigo se eu pedi permissão e você me deu?”.

Nesse sentido, é melhor que acompanhemos nossos filhos em suas “travessuras” e explorações. Façamos um balanço realista do que supõe um perigo real: nada acontece se você cair na grama, mas cair descendo uma escada pode ser mais delicado. Vamos segui-los, mas mantendo uma certa distância. Vamos aumentando lentamente a liberdade que lhes damos e aumentando nossa confiança em seu julgamento à medida que crescem.

Diga menos “não” e explique mais “por que não”

Em muitas ocasiões abusamos do “não”. Se não queremos que toquem em algo, podemos dizer: “Isso corta”, “Está sujo”, “Isso é meu, do seu pai ou do seu irmão”. Também podemos explicar a função das coisas: “As cadeiras são para sentar”, ou “Coisas, animais e plantas devem ser tratados com respeito e cuidado”, e explicar o motivo de nossas ações: “Estou falando ou fazendo isso, mas quando eu terminar posso lhe dar atenção.” Desta forma, nossos filhos entenderão melhor o que acontece, pelo menos muito melhor do que com um “não” brusco e sem explicação.

Rotinas e regras também ajudam a dizermos menos “nãos”, por exemplo: “É hora do banho e, depois, vamos para a cama porque amanhã tem aula”, “É hora de ir para casa, porque está ficando tarde e temos que preparar o jantar”,” Depois de comer a comida, você pode apreciar a sobremesa que gosta, porque o seu corpo agradecerá por você ter se alimentado com algo que te deixa forte”.

E assim poderíamos colocar vários exemplos que fazem com que as crianças adquiram critério. Também funciona explicar as consequências do que fazem, por exemplo, “Se você bater no seu irmão ou nos seus amigos, provavelmente não vão querer brincar com você depois” ou “Estudar vai te ajudar a passar na prova” ou “Em uma casa organizada será mais fácil encontrar o que você está procurando.”

Mãe e filho felizes

Alternativas para dizer não de maneira positiva

Enquanto o “não” é uma negativa clara, as alternativas são opções que também ajudam nossos filhos a tomar suas próprias decisões no futuro. Às vezes enfrentaremos uma espécie de luta, e apesar de sermos adultos e termos sempre a última palavra, forçar nossos filhos a se submeterem a este sistema, sem deixar pelo menos um pequeno espaço para defenderem suas idéias e nos fazer mudar de opinião, é uma atitude que não os ajudará em seu crescimento. Às vezes será cansativo argumentar com eles, podendo exaurir nossa paciência com sua energia, com certeza; mas com uma atitude diferente, mesmo que nos custe mais, também os ajudaremos mais.

Ajuda dar alternativas como: “A faca é muito afiada, mas você pode me ajudar a montar a salada” ou “Está chovendo, está frio para sair, mas podemos brincar, cozinhar ou montar um quebra-cabeça em casa”, “Você pode jogar mais 5 minutos e quando chegarmos em casa te conto uma história.” Por exemplo, oferecer uma opção pode ajudá-los a ir mais facilmente para a cama: “É hora de dormir, mas você pode levar o que quiser para a cama, um bicho de pelúcia, uma boneca, uma história, etc”.

E quando realmente temos que dizer “não”

Vamos ficar na altura das crianças, falar com firmeza, sem gritar, e usar seu nome para falar com elas. Não há razão para sermos grosseiros ou rudes, insultar ou dizer coisas das quais possamos nos arrepender. Vamos mudar o nosso discurso. Por exemplo, “Estou com raiva porque você quebrou isso ou você fez aquilo, eu NÃO gostei do que você fez”.

Vamos falar de ações, e não dizer à criança que o que ela fez em determinado momento a define. Por exemplo: “Você fez uma coisa boba” e não “Você é burro” ou “Às vezes você demora muito tempo para fazer as coisas” ao invés de “Você é um vagabundo.” Vamos usar o exemplo e ser consistentes. Por exemplo, se nós prometemos algo, como brincar um pouco depois de escovar os dentes: “Você não quis escovar os dentes, então não vai ter história” ou “Nós não vamos montar o quebra-cabeça, porque não voltamos do parque a tempo.”

Encontrar maneiras alternativas de colocar limites em nossos filhos, sem cair no constante “não” ou não dizê-lo nunca, nos torna educadores inteligentes, porque somos inteligentes quando conseguimos dizer não de maneira positiva. Significa renovar os modelos educacionais com critérios, razões e sentido.

Provavelmente esta nova abordagem vai requerer um esforço, e no começo pode ser mais cansativo, mas quando tivermos nos acostumado com a dinâmica o esforço será muito menor, porque teremos preparado nossos filhos para que entendam os nossos pontos de vista por si mesmos, e teremos contribuído para internalizar um critério adequado para decidir quais desejos satisfazer e quais não.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.