Os dois lados da ambição: falta e excesso

Os dois lados da ambição: falta e excesso
Gema Sánchez Cuevas

Escrito e verificado por a psicóloga Gema Sánchez Cuevas.

Última atualização: 31 maio, 2018

A cultura da nossa sociedade faz a ambição ser repleta de paradoxos. Há linhas de pensamento que a condenam, outras que a exaltam.  A ambição é, na verdade, um dos traços de personalidade que muitos não saberiam sequer definir como sendo algo positivo ou negativo. Por isso falamos que há dois lados da ambição.

A ambição pode ser definida como um desejo intenso e veemente de conseguir uma coisa difícil de alcançar, especialmente riqueza, poder ou fama. Ao menos é isso que está escrito no dicionário. A própria definição marca essas duas caras da ambição: por um lado, pode motivar alguém a alcançar metas importantes e difíceis, por outro lado, pode servir para distorcer a perseguição de metas banais.

“Não se pode deter a ambição, nem quando você já chegou ao topo”.
-Napoleão Bonaparte-

Agora, também há outro modo de ver esses dois lados da ambição: quando há falta ou quando há excesso. Se algo está faltando e nada se faz, estamos diante de um conformismo que dificilmente leva alguém para a evolução e para o crescimento. Se algo está sobrando, estamos perante a falta de limite ou a falta de escrúpulos. Conseguimos aquilo que queríamos e nos propusemos a mais. E agora?

A falta de ambição e o conformismo

Muitas vezes nos enviam mensagem para fomentar a aceitação da realidade como ela é, convidando-nos a não tentar mudar as coisas e a nos resignar diante dos fatos que se colocam. Essa mensagem pode ser muito positiva quando se refere a situações que envolvem a impossibilidade de mudança. Por exemplo, quando alguém morre e não conseguimos aceitar a morte.

Homem pensativo encostado na parede

Em outros casos, no entanto, a mensagem pode se converter em uma algo muito danoso. Normalmente, quando colocada em um momento inoportuno, esse tipo de mensagem envolve medo, autoritarismo de quem a emite, ou ambos. O normal nos seres humanos é querer evoluir, estar sempre caminhando adiante, não aceitar tudo que acontece com resignação. O que acontece é que há linhas de pensamento que fomentam a obediência como forma de nos controlar.

O medo, a falta de confiança em nós mesmos e a dependência excessiva de um poder externo nos transformam em conformistas. Isso, em outras palavras, significa renunciar à ambição. Ou seja, ficamos apenas com o que a vida oferece sem tentar nunca ir mais além.

O excesso de ambição e a ganância

No extremo oposto do conformismo está a ganância. Ser ganancioso é uma característica que envolve um desejo incontrolável principalmente por sucesso e riqueza. O ganancioso é como um saco sem fundo, pois nunca ficará satisfeito com o que já alcançou ou o que já tem. Sempre desejará mais e mais, porque sua insatisfação é eterna.

A ganância é um sentimento tóxico. Arrasta aquele que o sente para verdadeiros infernos e costuma arrastar também quem está em volta. A ganância não se detém diante de nada, porque é uma paixão irreparável. Ela é típica de quem considera coisas como “os fins justificam os meios”. O importante é só conseguir mais e mais, não importando o que deverá ser feito para alcançar isso.

Homens e mulheres fortes

Uma pessoa se deixa invadir pela ganância porque se sente carente. Não é que ela seja carente o tempo todo, mas pode ser que esteja experimentando o sentimento por um momento. E qualquer falta que a pessoa sente é como uma dor insuportável. Ela pensa, lá no fundo, que se conseguir mais e mais de algo que deseja, em algum momento esse vazio será enfim preenchido.

Os dois lados da ambição

Vemos até agora então que a ambição tem duas caras: uma quando falta ambição e há conformismo e uma quando sobra ambição e há ganância. Mas também há mais características que diferenciam esses dois lados, dependendo dos motivos que a alimentam, da forma como é gerida e dos fins que ela tem.

A ambição é feita do mesmo material de que são feitos os grandes sonhos. Trata-se de uma força enorme que nos leva a tomar decisões e nos aventurarmos por caminhos difíceis, para conseguir algo que desejamos muito. Nesse sentido, a ambição pode ser uma grande virtude, porque faz as pessoas saírem de sua zona de conforto e exigirem sempre um pouco mais de si mesmas. Essa é a fonte da qual nascem as grandes conquistas da vida.

Também podemos dizer que a ambição tem duas caras quando falamos de propósitos construtivos em oposição a propósitos obsessivos e egoístas. Em ambos os casos é necessária a existência de uma força vital que empurre a pessoa adiante. Enquanto, porém, há uma ambição que promove a pessoa em direção a metas razoáveis, há pessoas que só querem acumular para se exaltar e alimentar seu próprio narcisismo.

Mulher subindo escada corporativa

Não é bom promover a falta de ambição e as atitudes conformistas, já que isso só leva a um aumento das inseguranças e a desvalorizar os esforços para ser cada vez melhor. Também é necessário, no entanto, saber o limite dos desejos de obter mais e mais. A questão é aprender a gerir esses dois lados que a ambição possui. Mesmo que as diferenças sejam sutis, as consequências são grandes.


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