Dormir com dor crônica
A dor crônica afeta um percentual significativo da população. Em um estudo com 5 mil pessoas, 43% dos pesquisados relataram ter sentido dores na última semana, principalmente nas pernas, costas ou cabeça. Destes, 54% relataram sofrer de dor crônica de longa duração, o que tem um impacto significativo em suas vidas e os impede de dormir bem.
As causas mais comuns de dor crônica são artrite, reumatismo e enxaquecas. Para combatê-la, mais de 60% dos pacientes tomam analgésicos. Essa medida tem inúmeros efeitos colaterais quando os medicamentos são consumidos a longo prazo, incluindo novas patologias que agravam ainda mais o desconforto dos afetados.
Como a dor crônica afeta os pacientes?
Sofrer de dor crônica diminui significativamente a qualidade de vida. O fato de o desconforto ser diário gera, além da própria dor física, um desconforto psicológico importante. Algumas das áreas mais afetadas pela dor crônica são as seguintes:
- Qualidade do sono.
- Vida social.
- Habilidade cognitiva.
- Atividade física.
- Desempenho no trabalho.
- Várias atividades diárias (higiene pessoal, fazer compras, cozinhar, dirigir, escrever, etc.).
- Maior predisposição a sofrer de distúrbios psicológicos, como ansiedade e depressão.
Tudo isso pressupõe um estresse muito grande para o paciente; infelizmente, em muitos casos, a dor contínua acaba gerando um estresse crônico .
A dor crônica impede o paciente de dormir bem
A qualidade do sono é considerada uma variável fundamental para avaliar se um tratamento para a dor crônica é satisfatório ou não. Cerca de 50-70% dos pacientes com dor moderada ou grave têm algum tipo de distúrbio do sono. Isso é especialmente comum em pacientes mais velhos. Os distúrbios mais comuns são os seguintes:
- Dificuldade para dormir.
- Acordar à noite por causa da dor.
- Sono que não revigora.
- Sonolência diurna
Nestes pacientes, a dor gera um sono de má qualidade. Como consequência, ocorre a hiperalgesia, ou seja, uma maior percepção da dor. Sentir mais dor leva a um sono pior, então a situação se retroalimenta e o paciente é extremamente prejudicado.
Efeitos da medicação analgésica no sono
Os medicamentos administrados para o tratamento da dor crônica melhoram os sintomas, mas afetam a qualidade do sono do paciente. Entre os mais comuns, encontramos os seguintes:
Anti-inflamatórios não esteroides
Os anti-inflamatórios não esteroides, também conhecidos como AINEs, são alguns dos analgésicos mais comumente usados em adultos. Eles não apenas diminuem a inflamação, mas também reduzem a febre, o inchaço e a vermelhidão. Eles são prescritos para tratar problemas crônicos de saúde, como a artrite ou o lúpus.
Como eles afetam o sono? Os AINEs reduzem a eficácia do sono e aumentam o número de vezes que acordamos à noite. Isso se deve a três possíveis causas principais:
- Diminuição da síntese de prostaglandinas.
- Interferência na liberação de melatonina.
- Irritação gástrica devido à ingestão crônica.
Opioides
Os analgésicos opioides são seguros quando prescritos pelo médico e tomados por um período limitado de tempo. Seu consumo habitual pode causar dependência e, se ingeridos de forma inadequada, podem causar overdose e até a morte. Portanto, eles são prescritos com grande cautela pelos médicos.
Como afetam o sono? Diminuem a fase do sono REM e o sono de ondas lentas, ambos essenciais para o correto desenvolvimento fisiológico dos ciclos do sono.
Corticosteroides para a dor crônica
Os corticosteroides são medicamentos prescritos principalmente para reduzir a inflamação em doenças como artrite, asma, lúpus, esclerose múltipla e alguns tipos de câncer.
Seu consumo contínuo pode provocar diversos efeitos colaterais, como enfraquecimento dos ossos ou catarata. Por esse motivo, muitas vezes são prescritos por curtos períodos de tempo.
Como eles afetam o sono? Em altas doses, funcionam da mesma forma que os opioides: eles reduzem os movimentos rápidos dos olhos e o sono de ondas lentas.
Conclusões sobre a dor crônica e o sono
A literatura científica encontrou uma relação direta entre a dor crônica e a dificuldade de dormir bem. A dor dificulta o descanso, e a má qualidade do sono aumenta a percepção da dor.
É importante considerar que as mudanças estruturais no sono são multifatoriais. A idade desempenha um papel importante, assim como o tipo de analgésico. No entanto, outras variáveis, como patologias concomitantes ou circunstâncias externas que prejudicam o repouso noturno e aumentam a sensação de dor, não devem ser excluídas.
Ao prescrever um tratamento analgésico para tratar a dor crônica, recomenda-se substituir as formulações de liberação rápida por formulações de efeito lento. Estudos têm demonstrado que esses tipos de medicamentos reduzem o aparecimento de distúrbios do sono associados aos medicamentos analgésicos.
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