O efeito Flynn: por que estamos cada vez mais inteligentes
O efeito Flynn propõe que nossas mentes estão mudando. Cada vez somos mais inteligentes e nosso pensamento abstrato é mais hábil. Esse crescente desenvolvimento, no entanto, nem sempre caminha de mãos dadas com o crescimento da satisfação pessoal ou da felicidade. Apesar de ser provável que uma mente aguçada consiga resolver cada vez melhor certos problemas, o aspecto emocional fica ainda como questão pendente.
Muito foi escrito sobre essa teoria desde o momento em que o pesquisador James R Flynn, da Universidade de Otago, na Nova Zelândia, a criou em 1994. Na época, ele divulgou uma notícia que foi muito impactante: o coeficiente intelectual da população vem sofrendo um aumento constante. Isso é algo que vem sendo observado desde o início do século XX.
“A felicidade é a coisa mais rara entre as pessoas mais inteligentes”.
-Ernest Hemingway-
Além disso, outros cientistas e especialistas em inteligência humana, como o psicólogo Joe Rodgers, da Universidade de Oklahoma, assinalam outros aspectos interessantes. Examinando os testes de inteligência aplicados mais frequentemente nos últimos 30 anos, como as Escalas Wechsler de Inteligência, o aumento da pontuação é visto anualmente, em uma comparação de ano a no.
Somos conscientes de que algo assim chama muito a atenção e nos faz pensar. Quer dizer que nossos netos serão superdotados em comparação a nós? Para tirarmos conclusões, no entanto, essa teoria tem algumas nuances que é muito importante mencionar.
O efeito Flynn e os avanços tecnológicos
O efeito Flynn indica que hoje em dia uma criança terá uma média mais ou menos 10 pontos maior que seus pais em um teste de inteligência. Por essa regra, parece que o futuro da humanidade terá mentes muito mais habilidosas, sofisticadas e com um potencial muito grande. Os especialistas em inteligência humana, porém, levantam argumentos sobre alguns aspectos chave.
Esse aumento do QI indicado pelos testes de inteligência não significa que nosso potencial cerebral “bruto” aumenta do mesmo modo. A melhora em nosso rendimento intelectual deu um salto notável com a revolução industrial. Nesse contexto, aspectos como a educação, uma melhor nutrição e também os avanços da tecnologia são estímulos que criaram uma base sólida para que nossa mente evolua.
Dito de outro modo, a inteligência avança à medida que a própria sociedade se desenvolve. Fazemos isso para nos adaptar melhor. Precisamos estar sintonizados com esse mundo em que a informação corre cada vez mais rápido. Queremos ser parte disso, estar lá para cada avanço técnico, para cada mudança e cada inovação. Assim, um fato que tem sido observado nas provas de inteligência é um aumento da rapidez de resposta e da capacidade das crianças de hoje para estabelecer relações entre objetos.
O raciocínio abstrato das crianças, assim como a rapidez de sua percepção, é algo que melhora ano a ano. Os neurologistas nos indicam que tudo isso pode estar acontecendo graças ao desenvolvimento das novas tecnologias. As telas interativas, os jogos e o mundo virtual tão cheios de estímulos que pedem respostas muito rápidas mudam o modo como a mente humana processa a informação.
Tudo isso não é melhor nem pior. O efeito Flynn revela a forma como aprendemos a reagir em um ambiente que nós mesmos estamos criando.
Somos cada vez mais inteligentes… mas somos também mais felizes?
Mas e a felicidade? Estamos falando de satisfação pessoal também? Se a cada ano as pessoas se mostram mais capazes de resolver problemas, inovar e facilitar o avanço do nosso mundo e sociedade… isso quer dizer que estamos experimentando maiores níveis de satisfação e bem-estar pessoal?
Jean Twenge , professora de Psicologia da Universidade Estatal de San Diego, publicou um artigo na revista científica American Psychological Association que nos convida a uma profunda reflexão. As novas gerações, as mesmas que alguns autores denominas como a geração “IGen” pela sua relação tecnológica, estão repletas de adolescentes claramente infelizes. Eles são descritos como crianças hiperconectadas, intolerantes e insatisfeitas, pouco preparadas para o amadurecimento.
A dependência tecnológica deu forma a um novo cenário bastante complexo, que se atualiza a todo instante e gera um novo panorama diferente do anterior. As formas de se relacionar também mudaram, o que para muitos inclui até mesmo a forma de olhar para si mesmo e de ver o mundo. Talvez seja essa nossa questão pendente. Se o efeito Flynn nos torna cada vez mais habilidosos do ponto de vista intelectual, devemos aprender também a sobreviver melhor em um contexto cada vez mais tecnológico e sofisticado.
Por outro lado, temos um dado curioso que vale a pena mencionar. É a teoria do transumanismo. Segundo esse movimento filosófico liderado por David Pearce e Nick Bostrom, dois professores da Universidade de Oxford, o futuro da humanidade será muito interessante.
No próximo século a humanidade dará um salto evolutivo de acordo com esses autores. Não só seremos mais inteligentes, como também seremos uma sociedade voltada exclusivamente para o hedonismo e para a felicidade. Por que isso vai acontecer? Basicamente porque os avanços da engenharia genética, da farmacologia, estimulação intracraniana e nanotecnologia molecular acabarão com doenças e trarão uma ótima qualidade de vida para o envelhecimento.
O que podemos dizer hoje, enquanto esperamos para ver se isso se torna realidade ou não, é: nós seremos uma humanidade voltada para o prazer, ou pelo contrário, uma humanidade melancólica que habita uma sociedade tecnológica e asséptica? Só um caminho é possível. Mas olhando para o presente e orientando nossa mente e inteligência não apenas para o progresso, mas também para o bem-estar pessoal, poderemos ter mais chances de escolher nosso caminho. Afinal, alguns pontos a mais em testes de inteligência não servem para nada se não formos capaz de criar uma realidade mais feliz para todos.