Emoções que nos tornam violentos

Emoções que nos tornam violentos
Roberto Muelas Lobato

Escrito e verificado por o psicólogo Roberto Muelas Lobato.

Última atualização: 05 janeiro, 2023

As emoções precedem o comportamento. Elas iniciam as marcas fisiológicas e as estruturas mentais que ajudam a unir as memórias. No entanto, o mais importante é que as emoções agem como motivadoras do comportamento humano.

As emoções nos levam a nos comportarmos de diferentes maneiras, até mesmo de forma violenta. Há emoções que nos tornam violentos. Uma emoção não nos torna violentos, é a combinação de várias emoções que pode nos levar a usar a violência.

Normalmente, as emoções são entendidas como uma reação psicofisiológica que as pessoas experimentam individualmente. Mas graças à empatia, podemos contagiar as emoções e fazer com que as outras pessoas sintam o mesmo. Isso também acontece dentro de um grupo. Um grupo pode sentir a mesma emoção: podem se sentir culpados ou sentir raiva em relação a outro grupo. Este é o ponto de partida para entendermos as emoções que nos tornam violentos.

A Hipótese ANCODI

A hipótese ANCODI, cujo nome vem da palavra em inglês para três emoções: raiva, desprezo e nojo, indica que a mistura dessas três emoções pode nos levar a usar a violência. Ela argumenta que a raiva, desprezo e nojo são uma experiência emocional volátil, uma  mistura que contribui para a agressão e violência intergrupal através da capacidade da raiva para  motivar, do desprezo para desvalorizar os outros e do nojo para eliminar. A hostilidade e a violência são o resultado da criminalização do ódio e da raiva.

As emoções podem ser transmitidas através de narrativas e se tornam uma maneira de promover emoções grupais. Por exemplo, os discursos de ódio que acusam um grupo minoritário ou um grupo considerado inimigo.

Pessoas levantando a mão

A hipótese ANCODI sugere que algum evento passado, ou narrativa histórica, provoca indignação e, portanto, raiva. Esses eventos são reavaliados a partir de uma posição de superioridade moral do grupo e, portanto, da inferioridade moral do outro grupo, o que se traduz em desprezo. O outro grupo é avaliado como um grupo que deve ser evitado, rejeitado e até mesmo eliminado.

Dessa forma, as emoções que nos tornam violentos seguem um processo de três fases que descreveremos abaixo.

As emoções que nos tornam violentos

A indignação baseada na raiva

Na primeira fase, a raiva aparece. A raiva é uma emoção que se expressa através do ressentimento e da irritabilidade. Podemos perceber as expressões externas de raiva na expressão facial, na linguagem corporal, nas respostas fisiológicas e, em determinados momentos, em atos públicos de agressão. A raiva descontrolada pode afetar negativamente a qualidade de vida.

Em princípio, certos eventos nos levam a perceber a injustiça. Esses eventos fazem com que procuremos um culpado, seja uma pessoa ou um grupo. Nesses casos, geralmente acreditamos que o culpado ameaça o bem-estar do nosso grupo ou o nosso modo de vida. Assim, essas interpretações carregadas de raiva são direcionadas ao culpado.

A superioridade moral baseada no desprezo

Na segunda fase é acrescentado o desprezo, um intenso sentimento de desrespeito ou reconhecimento e aversão. O desprezo supõe a negação e a humilhação do outro, cuja capacidade e integridade moral são questionadas. O desprezo implica um sentimento de superioridade. Uma pessoa que sente desprezo enxerga o outro com condescendência. A pessoa desprezada é considerada indigna.

Os grupos começam a reinterpretar as situações que provocam raiva e os eventos identificados na primeira fase. Essa avaliação dos fatos é feita a partir de uma posição de superioridade moral, o que implica que o grupo considerado culpado seja visto como moralmente inferior, o que, por sua vez, leva um grupo a sentir desprezo pelo outro.

Peças de um jogo

Eliminação baseada no nojo

Na última fase surge o nojo ou repulsa, que é uma emoção básica e primária causada pela percepção de contaminação ou pelos agentes da doença. É um sentimento universal. Coisas semelhantes causam nojo ao redor do mundo, como por exemplo a putrefação. O nojo é uma emoção moral usada frequentemente para punir as crenças e os comportamentos morais das pessoas.

Nesta fase, ocorre outra avaliação dos eventos e chega-se a uma nova conclusão. Esta conclusão é muito simples: é necessário se afastar do grupo culpado. Outra possibilidade mais forte é a conclusão de que é necessário eliminar esse grupo. Essa é uma forma extrema cujas ideias são estabelecidas pela emoção do descontentamento.

Como vimos, a combinação dessas três emoções pode ter consequências desastrosas. Essas emoções que nos tornam violentos tendem a distorcer as percepções e nos levam a conclusões equivocadas e, em último caso, em comportamentos hostis. Por isso, é fundamental uma regulação e compreensão das emoções através da inteligência emocional.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.