Como a moralidade social pode contribuir para a normalização da violência?

Como a moralidade social pode contribuir para a normalização da violência?
Gema Sánchez Cuevas

Escrito e verificado por a psicóloga Gema Sánchez Cuevas.

Última atualização: 28 março, 2018

A moralidade social é o grau em que as pessoas se conformam com os preceitos da moral socialmente estabelecida. A moral é o conjunto de normas e valores que as pessoas devem seguir. Ou seja, em nossa vida diária, vamos nos ajustar às regras diversas que consideramos adequadas para coexistir com os demais.

Em relação à moralidade social com a violência, seriam as normas que a sociedade entende que devem ser respeitadas para evitar tal violência. Se observarmos quais elementos ou agentes direcionam a culpa pela geração desses atos violentos, obteremos uma visão mais ou menos precisa dessas considerações morais.

Teoria do mundo justo

Esta teoria é um indicador muito bom do grau de moralidade social em relação à violência. Parte da ideia genérica de que as pessoas querem viver em um mundo justo. Ou seja, temos a necessidade de acreditar que tudo acontece por algum motivo para a nossa tranquilidade psicológica.

Se atribuirmos que os vários crimes são um produto do azar e da má sorte, significa assumir que nós também poderíamos ser vítimas deles. Uma viagem perturbadora que gera desconforto. Pelo contrário, se essa atribuição for feita aos outros (por exemplo, eles foram roubados porque passaram por uma área perigosa), isso nos faz pensar que teremos menos chance de sofrer um evento violento (por exemplo, se não atravessarmos áreas perigosas, não acontecerá conosco).

Mulher com guarda-chuva

Essa percepção é baseada em uma distorção cognitiva. Envolve uma elaboração simbólica de cognições sociais. As premissas são:

  • A vítima tem características negativasdesvalorização e reconstrução negativa da pessoa. Fazemos inferências a aspectos e características da pessoa, como sua personalidade. Ou seja, como a vítima é de uma certa maneira, então é normal que ela tenha sofrido esse crime.
  • A vítima se comporta mal: a culpa é atribuída à vítima por comportamentos específicos. Por exemplo, se roubassem a carteira de alguém no Rio de Janeiro, não seria estranho ouvir: “É o Rio, você precisa ficar mais atento…”

Técnicas de justificação

Como dissemos em todo o artigo, na sociedade existem valores aceitos ou vistos. No entanto, existem também outros tipos de valores “subterrâneos”. Por que eles são chamados assim? Bom, a ideia é simples: eles são os valores que muitas pessoas seguem, mas não são externalizados da mesma forma porque conflitam com aqueles que são mais aceitos.

Essa ideia foi originalmente criada por Skyes e Matza, incorporada em sua teoria da neutralização. Geralmente, os próprios criminosos usam essas técnicas para aliviar as consequências de suas ações. No entanto, há pessoas que também usam algumas dessas técnicas para dar sua opinião sobre os eventos que ocorreram, legitimar ou justificar o perpetrador dessa maneira (aquele que cometeu o crime).

Essas técnicas são:

  • Negação do crime: “Foi pouco dinheiro, não pode ser considerado roubo”; “Não tem ninguém na estrada essa hora, não tem nada demais ir mais rápido”.
  • Negação da existência das vítimas: “Não faço mal a ninguém”.
  • Condenação daqueles que condenam: “Os políticos roubam muito mais do que os cidadãos”.
  • Apelo a algo superior: “Eu fiz isso por…”
  • Necessidade do comportamento: “Eu não tive escolha”.
  • Defesa de um valor: “Não era uma pessoa confiável”.
  • Negação de justiça: “Sempre alguém sairá ferido”.
  • Todo mundo faz isso.
  • Tinha o direito de fazê-lo: “Estava provocando”; “Eu a matei porque ela era minha.”
Homem diante de espelho

Cálculo da moralidade social

Tudo o que explicamos é refletido em inúmeros exemplos reais em que a pessoa que sofreu o  crime  é culpada e recebe a responsabilidade pelo delito. Assim, encontramos planos de prevenção de agressão sexual em que são estabelecidas diferentes diretrizes que as vítimas em potencial devem seguir. Com elas, o estilo de vida da pessoa é condicionado e, indiretamente, diz-se que é o modo de vida ou as escolhas que provocam tais agressões.

Da mesma forma, podemos ouvir comentários de pessoas de diferentes profissões que atribuem o desempenho de atos violentos e antissociais, por exemplo, à forma de se vestir ou agir da vítima. A sociedade considera um crime, pelo menos do ponto de vista moral, o próprio comportamento da pessoa que sofreu o mal. Se o comportamento da vítima for visto como errado, o comportamento do perpetrador será normalizado (será visto como uma consequência lógica, quando moralmente não é).

A moralidade da sociedade se baseia no bom trabalho das pessoas: diretrizes, regras e padrões de comportamento que devem ser seguidos. Se eles não são considerados adequados para o que foi estabelecido socialmente, são atribuídos como a causa da violência gerada. Em suma, às vezes esses atos violentos são vistos como uma consequência inevitável.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.