Éric Sadin e os desafios da inteligência artificial
Éric Sadin é um filósofo francês que tem despertado grande interesse por suas profundas reflexões sobre um fenômeno que nos preocupa a todos: a inteligência artificial. Para este pensador não se trata de um simples avanço tecnológico, mas de uma ruptura da civilização tal como a conhecemos. Por isso, não hesita em dizer que é o desafio filosófico mais importante do século XXI.
Sadin destaca que a evolução da tecnologia foi exponencial nos últimos anos. No início, tinha a ver com o tratamento da informação de forma funcional e, principalmente, quando o volume era muito grande. Hoje, segundo o especialista, a tecnologia é capaz de “criar verdades” e controlar as ações humanas.
Diante disso, o filósofo chama a atenção para um fato fundamental: embora a inteligência artificial esteja se tornando cada vez mais inteligente, os sujeitos sobre os quais incide sua ação não apenas não a rejeitam, mas a acolhem e até com fascínio. Os gadgets e suas funcionalidades cativam as pessoas.
«A inteligência artificial apresenta-se doravante como uma espécie de superego, dotada de intuição da verdade e chamada a orientar as nossas vidas em todas as circunstâncias para a maior eficiência e conforto imagináveis».
-Éric Sadin-
Eric Sadin e a inteligência artificial
É importante deixar claro que Sadin não é um pensador “anti-tecnologia”. Seu trabalho é analisar o impacto das novas tecnologias no quadro da civilização e identificar os desafios que elas representam. Uma de suas preocupações é o fato de muitos dos aparelhos não terem mais a função de “ajudar” o ser humano, mas sim de “substituí-lo”.
Como é óbvio, é provável que o rumo desse frenesi tecnológico mude, mas é altamente improvável que seja interrompido pelas vantagens competitivas que ele traz. Sadin acredita que estamos perto de entrar totalmente no transumanismo. O principal desafio, nesse sentido, será a fusão entre o cérebro humano e o computador, para dar origem a uma realidade superior: a superinteligência.
No âmbito do transumanismo, espera-se que a vida seja muito mais longa, que possamos manter a saúde física e mental por muitos anos, mas, acima de tudo, que nossas habilidades cognitivas sejam extraordinariamente vitaminadas. Até agora, tudo muito bem. O problema é que isso será direcionado e controlado de fora da consciência individual. Esse “mundo perfeito” será gerido por consciências e interesses externos ao indivíduo.
As três dimensões da “vida algorítmica”
Para Éric Sadin há três dimensões envolvidas no que ele chama de “digitalização da consciência” ou “vida algorítmica”. Uma é ontológica ou relacionada ao ser; a outra é epistêmica ou associada à produção de verdades; Por fim, há a dimensão ético-política, que diz respeito ao comportamento humano ético e ao poder.
Um dos grandes riscos que Sadin destaca é o fato de a inteligência artificial ter se tornado produtora de verdades. Algoritmos são capazes de analisar situações, tirar conclusões e propor rotas. O exemplo mais simples é dado pelas redes sociais. Com base no que uma pessoa consulta ou classifica, os algoritmos decidem quais informações “devem” mostrar a cada usuário e quais não.
Isso ocorre em todas as escalas, inclusive na ciência. Assim, para Sadin inaugurou-se um novo regime: a verdade algorítmica. Isso é universal e não contempla exceções. É a primeira vez na história que isso acontece; corresponde à dimensão epistêmica e tem muitas implicações.
O real e o neutro
Sadin também argumenta que esta nova versão do mundo leva a um “desaparecimento do real”. Para ele, o real gera incerteza e impõe limites. Neste novo “mundo perfeito” que se pretende construir através das tecnologias, se persegue um fim: eliminar a incerteza. Em outras palavras, elimine o real.
Outro perigo reside no fato de que todos esses avanços são apresentados aos olhos do grande público como “neutros”. É como se por trás de toda essa estrutura não existisse outra intenção senão facilitar e melhorar a vida humana. Entretanto, não é assim. Já sabemos que os algoritmos também nos tornam bons clientes e domam os eleitores.
Por fim, Éric Sadin nos alerta sobre um fato incontestável: estamos mudando a civilização. Como sempre, isso traz benefícios, mas também riscos. Aqueles que estão implicados no mundo da inteligência artificial são importantes o suficiente para não serem perdidos de vista.
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