Quando a obrigação bloqueia a oportunidade de ser feliz

Evoluir na nossa relação com as obrigações é a chave do nosso crescimento. Conectar desejo com obrigação é uma arte, um exercício ao qual todos nós somos obrigados. Além disso, fazê-lo bem é uma das melhores garantias de bem-estar e saúde mental.
Quando a obrigação bloqueia a oportunidade de ser feliz
Sergio De Dios González

Revisado e aprovado por o psicólogo Sergio De Dios González.

Escrito por Edith Sánchez

Última atualização: 18 maio, 2023

Querendo ou não (e na maioria das vezes não), todos nós estamos sujeitos a alguma obrigação, praticamente desde o início da vida. Aprender a responder a esses deveres faz parte do crescimento normal e saudável. Mas se isso for levado ao extremo, acaba bloqueando a oportunidade de ser feliz.

A obrigação bem compreendida é um fator que ajuda a estabelecer e desenvolver o princípio de realidade. Ou seja, a consciência dos limites que nossos desejos têm, dependendo das diretrizes e exigências do meio. Todos, em algum momento, devemos desistir de fazer o que queremos porque o caminho que devemos seguir é outro.

No entanto, em alguns casos, viver de acordo com a obrigação  torna-se um padrão muito invasivo. Dessa forma, chega-se a uma situação em que o que se quer acaba sendo inibido , até mesmo em graus extremos, e apenas a obrigação existe. Se isso acontecer, também se abre mão da oportunidade de ser feliz. Vamos ver tudo isso com mais detalhes.

Se nada é evidente, nada é demonstrável,e se nada é obrigatório em si mesmo, nada é obrigatório em absoluto.”

-Clive Staples Lewis-

mulher preocupada pensando
As pessoas que se deixam levar pela obrigação costumam ser muito exigentes consigo mesmas.

A obrigação como guia de conduta

A tendência natural do ser humano é seguir seu desejo ou, em outras palavras, fazer o que quer. Uma parte importante da educação consiste em introduzir na consciência o conceito de obrigação ou dever. Por exemplo, você quer comer a caixa inteira de doces, mas deve se moderar. Você quer bater em outra criança porque ela tirou um brinquedo de você, mas não deveria.

Para fazer parte da comunidade humana é preciso renunciar a uma parte importante de nossos desejos e seguir o caminho da obrigação. No entanto, a educação, ou algumas experiências de vida, podem levar à adoção de deveres que não são necessários para viver na civilização, mas que respondem a ideias ou crenças que nem sempre são válidas.

De fato, existe a possibilidade de uma pessoa acabar vivendo somente com base na obrigação e passar a ver seu desejo como intrusivo ou negativo e, consequentemente, reprimi-lo ou negá-lo. Um exemplo é o de quem prefere não tirar férias, considerando que é muito mais útil e produtivo continuar trabalhando o ano inteiro.

A obrigação como obstáculo

As pessoas que têm a obrigação como eixo de conduta também costumam ser muito exigentes consigo mesmas. Elas exigem não tanto fazer as coisas com perfeição, mas sim corresponder plenamente às exigências feitas por uma autoridade ou por normas estabelecidas.

A conveniência ou validade dessas demandas não é avaliada, mas há um profundo desejo de cumpri-las. As coordenadas do dever são estabelecidas por outros e o desejo que prevalece é o de se ajustar a elas. Sair desses parâmetros causa preocupação, senão ansiedade. Nessa equação, o que se quer não tem lugar. Ou melhor, o que se quer, acima de tudo, é cumprir esses deveres impostos para evitar a angústia.

É nesses casos que a obrigação se torna um obstáculo para ser feliz. Se o dever for escolhido de forma racional e autônoma, por mais difícil que seja, coincide com o querer e não entra em conflito com a felicidade. Como o caso de uma pessoa que se compromete com uma causa que exige sacrifícios, mas no fundo faz o que quer.

Por outro lado, no campo da obrigação imposta de fora, não há reafirmação individual, muito pelo contrário. A pessoa nega-se a si mesma e cumpre o seu dever para não contrariar a figura ou a norma que desempenha o papel de autoridade.

Funcionário bajulador conversando com sua chefe

A obrigação de ser feliz

A obrigação deve ser completamente esquecida em favor do desejo ou do prazer? A resposta é não. Quando alguém faz apenas o que quer fazer, não tem o ponto de referência da obrigação para fazer o contraste e, portanto, não sente satisfação. O oposto também é verdadeiro: agir somente com base na obrigação é algo como impor tortura sistemática sobre nós mesmos.

Uma pessoa que vive para a obrigação não é uma pessoa exemplar, mas um ser humano extremamente condicionado. O fundamento de suas ações não é a liberdade ou a autonomia, mas o mandato e, provavelmente, o medo de contradizê-lo. Pela mesma razão, faz do dever um automatismo e não uma expressão do seu ser.

O ideal é manter o equilíbrio entre obrigação e desejo. Um dá sentido ao outro e permite gerar aquele contraste que faz fluir emoções espontâneas de esforço e satisfação. Cumprir a obrigação é louvável, desde que não seja uma forma de sabotar a própria felicidade.


Todas as fontes citadas foram minuciosamente revisadas por nossa equipe para garantir sua qualidade, confiabilidade, atualidade e validade. A bibliografia deste artigo foi considerada confiável e precisa academicamente ou cientificamente.


  • De Olaso, J. (2013). Paradojas de la inhibición. In V Congreso Internacional de Investigación y Práctica Profesional en Psicología XX Jornadas de Investigación Noveno Encuentro de Investigadores en Psicología del MERCOSUR. Facultad de Psicología-Universidad de Buenos Aires.
  • González, A. M. (2010). Deber ser.
  • Ricoeur, P., & de Mendilaharsu, S. A. (1967). Principio de placer y principio de realidad. Revista Uruguaya de Psicoanálisis, 9(1), 65-84.

Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.