Erros linguísticos mais comuns em crianças com idades entre 3 e 6 anos

Erros linguísticos mais comuns em crianças com idades entre 3 e 6 anos
Sara Clemente

Escrito e verificado por psicóloga e jornalista Sara Clemente.

Última atualização: 27 janeiro, 2023

Quando as crianças começam a falar, cometem uma série de erros linguísticos que resultam do seu processo de aprendizagem. Na verdade, às vezes ficamos alarmados quando vemos que nosso filho pronuncia frases muito simples de apenas 3 palavras ou que mal consegue falar, mas isso não tem que ser um problema. Por isso, é importante saber quando se preocupar e quando tomar esses pequenos erros como simples fases em seu processo de desenvolvimento.

Também é necessário ter em conta que alguns destes erros, muitas vezes, também acontecem aos adultos: os famosos lapsus linguae. Erros involuntários que cometemos quando queremos dizer uma palavra, mas proferimos outra, ou quando trocamos conceitos involuntariamente.

Isso se deve ao fato de que nossos pensamentos, por vezes, não se apresentam gramaticalmente formados em nossas mentes e, portanto, é necessário realizar um processo de escolha de palavras mais apropriadas. Vejamos a seguir alguns dos erros mais comuns em crianças de 3 a 6 anos, dependendo da unidade afetada.

“Nós pensamos com palavras, e estes pensamentos vêm a nossa mente na forma gramatical de sujeito, verbo, objetos e complementos sem que saibamos como a oração é produzida”.
– Lashley, 1958 –

Erros linguísticos mais comuns na infância

Erros semânticos (léxico e significado)

A nível semântico, entre 2 e 3 anos, as crianças fazem muito progresso nos processos de categorização e conceituação. Assim, começam a compreender um grande número de significados, ainda que não estejam no mesmo nível de crianças mais velhas ou mesmo os adultos. De fato, entre as idades de 2 e 6, as crianças podem aprender até 5 palavras por dia. Faça os cálculos!

“Aprender implica cometer erros e aprender com eles”.

Criança aprendendo a falar

Quando começam a usar uma nova palavra, as crianças não estão cientes de qual é seu verdadeiro significado. Gradativamente, vão aprendendo e diminuindo essa diferença semântica graças aos seus erros (julgamento-erro) e ao seu entorno. Quer dizer, vão depurando o significado dos conceitos. No entanto, neste processo de aprendizagem são cometidos dois tipos de erros linguísticos:

  • Por incompatibilidade: são aqueles em que a criança se refere a algo por outro nome. Por exemplo, chama uma “bola” de “gato” ou “carro” de “cão”. Embora raros, são o resultado de uma inadequação entre o significado e o significante.
  • Por sobreposição: são mais comuns do que os anteriores e ocorrem quando há uma coincidência parcial entre o significado que a criança dá à palavra e ao real ou o considerado por um adulto. Estes, por sua vez, são de dois tipos.
    • As extensões são as mais comuns nesta idade. Surgem quando o pequeno estende o significado de um conceito para as coisas, lugares, ou pessoas que possuem traços em comum. Por exemplo, quando você chama de “mãe” todas as mulheres com quem interage ou de “cachorro” todos os animais com patas.
    • O oposto são as limitações do campo semântico da palavra. Ocorrem quando a criança chama de “cadeira” somente aquelas que existem em sua cozinha, e não no restante dos lugares.

Erros fonéticos (sons)

Erros fonéticos são erros linguísticos produzidos nos fonemas, a menor unidade da linguagem. Às vezes essas faltas afetam toda a palavra, suas sílabas ou apenas alguns fonemas. Assim, certas vezes as crianças pronunciam as sílabas átonas, “engolem” letras ou não pronunciam a consoante final das palavras.

São dos seguintes tipos:

  • De antecipação (de repente pego > de repento pego)
  • De perseveração (é o banquinho > é o banquinha)
  • De troca fonética (“ladrões” > ladorões; absoluta, absueluta).

Existem crianças que proferem um número muito limitado de fonemas, porém o fazem muito bem. Outros, mais intrépidos, fazem a opção por tentar articular palavras que estão além de suas habilidades. Em geral, cada criança tem suas próprias preferências de articulação.

“Aprendemos a língua no final de inúmeras experiências”.
– Saussure –

Erros morfossintáticos

A morfologia e a sintaxe são dois componentes básicos da linguagem. As crianças, no desenvolvimento deste componente morfossintático, tendem a utilizar mecanismos de aquisição diferentes.

As crianças são como papagaios! Repetem o que escutam e até o que não devem. Por isso, quando seus pais dizem frases feitas, provérbios ou fórmulas linguísticas, existe a tentativa de copiá-los. Contudo, a lembrança está em um bloco como um todo, e não palavra por palavra.

Portanto, quando passam a imitá-las e a reproduzi-las em voz alta, não estão cientes de como elas foram construídas, apenas sendo capazes de dizê-las no contexto em que aprenderam. Por exemplo, se escutam a mãe dizer “Como você está bonito hoje” a seu marido, as crianças farão a opção por reproduzir essas mesmas palavras em casa diante da mesma situação. Elas não generalizam essa fórmula.

Da mesma forma, quando estão aprendendo, as crianças de 3 anos não sabem como o sistema linguístico está estruturado. Eles não estão cientes das regras gramaticais, ou de que as palavras são construídas com base em critérios. Por isso, aprendem formas sintáticas independentes e isoladas umas das outras.

Com a passagem do tempo, elas percebem que existem regras às quais devem se submeter e as levam ao extremo. É o que se conhece como hiper-regulação. Exemplos disso são “fazido” > “feito” e “não sabo” > “não sei”.

Crianças contando segredo

Quando é preciso se alarmar?

Existem certos tipos de comportamentos linguísticos que podem ser inadequados para cada idade evolutiva e indicam um atraso na aquisição e desenvolvimento da língua. Alguns deles são:

  • Articulação incorreta da maioria dos sons.
  • Uso de frases isoladas ou muito pobres. O uso de frases formadas por apenas três palavras ou menos (até 36 meses é normal).
  • Omissão sistemática de verbos, preposições, pronomes ou artigos em frases.
  • A grande maioria das suas emissões orais são ininteligíveis e quase incompreensíveis.
  • Emprego excessivo de linguagem gestual para fazer-se compreender.
  • Vocabulário e léxico pobres. Não mostra sinais de palavras progressivamente adquiridas.

No entanto, os erros linguísticos das crianças não são sintomas de um retrocesso no desenvolvimento das suas competências linguísticas. Pelo contrário, são um sinal de que o pequeno está progredindo e começando a entender o sistema linguístico (Borregón, 2008).

Bibliografia

Arias, O., Fidalgo, R., Franco, N. y García, J. N. (2007). Avaliação e intervenção em distúrbios linguísticos expressivos (PP. 133-142). Madrid: Pirâmide.


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