Escutando o corpo

Escutando o corpo

Última atualização: 28 abril, 2015

“Se contrai uma neurose por ter desconhecido as leis fundamentais do corpo vivente e por ter se afastado dele; o corpo então se rebela e aparece como um monstro frente à consciência que tenta instituir, suprimir ou deslocar, segundo o seu capricho, partes importantes do funcionamento basal da natureza do organismo humano” Carl G. Jung

Sabe-se que um dos obstáculos da humanidade para viver em harmonia é a falta de comunicação entre as pessoas. O ritmo em que costumamos viver nas grandes cidades começa a invadir até mesmo os pequenos povoados, dificultando a comunicação fluida e direta tradicional. A inovação tecnológica tem estabelecido novas normas e formas de nos relacionarmos. Prevalece a comunicação virtual à conversa cara a cara.

Para nos comunicarmos com eficácia, precisamos aprender a escutar. O dicionário nos dá o seguinte significado do verbo escutar.

1. Prestar atenção ao que se ouve.
2. Dar ouvidos, atender a um aviso, conselho ou sugestão.
3. Aplicar o ouvido para ouvir algo.
4. Na ciência medica, a auscultação é o método de escutar os ruídos do corpo durante um exame físico.

Contudo, no início do século XXI as pessoas perderam o contato com elas mesmas (provavelmente porque ainda não se inventou um meio tecnológico para falar consigo mesmo). As preocupações da vida diária, o desempenho laboral, as exigências com o papel de pais, profissionais e filhos, deslocam a nossa atenção para o que acontece fora de nós. Existe uma grande quantidade de livros e revistas sobre o cuidado corporal, mas continuamos sem escutar o corpo até que o momento em que surge uma doença. 

Os profissionais e as pessoas que assumem muitas responsabilidades ignoram habitualmente os sinais que lhes manda o corpo quando está incubando uma doença. Não prestam atenção aos sintomas. Em outras ocasiões, a pessoa vai a diferentes médicos em busca de uma cura imediata sem resultados. Vai de um especialista a outro sem causa física conhecida para o seu mal estar, até que um médico lhe indica um psicólogo.

Muitas pessoas se surpreendem frente a tal indicação. A época na qual a medicina desconhecia o componente psicológico na manifestação de sintomas vai pouco a pouco ficando para trás.

O corpo grita o que a mente cala.

A mente se comunica através de imagens e palavras. Costumamos nos lembrar de nossos sucessos como pequenos filmes que afloram emoções reprimidas. A pessoa que rejeita o que sente utiliza a racionalização para diminuir a intensidade dos seus sentimentos.

O corpo se expressa através da dor ou de sintomas sem a presença de causas físicas. Algumas pessoas levantam uma barreira que as impede de expressar os sentimentos e pensamentos, e assim somatizam o que calam. Por exemplo, os transtornos gástricos estão relacionados com a raiva, assim como as erupções de acne costumam aparecer naqueles que carecem de habilidades para se relacionar com outros. Dessa forma, o que vai mal no corpo se transporta à mente e o que vai mal na mente frequentemente se transporta também ao corpo, seja de maneira direta ou indireta.

A doença e a dor corporal são formas do corpo chamar atenção às necessidades não satisfeitas. Elas sugerem minimamente realizar uma pausa e avaliá-las. Por outro lado, quem se inibe de expressar suas emoções não realiza o contato com seu corpo e se insensibiliza. A sintomatologia forma parte da sombra.

A sombra é aquela parte que permanece oculta na nossa consciência. Os sintomas nos levam a reconhecer essa parte que não queremos ver. O desequilíbrio no qual nos encontramos se manifestará uma e outra vez, até que paremos para ouvi-lo. A farmacologia procura diminuir ou calar o sintoma, mas evadir o seu significado fará com que apareça outra anomalia. Uma doença ou dor nos obriga a reconhecer aquilo que nos falta. Integrar e assimilar o significado do sintoma nos permite harmonizar a nossa vida. Admitir o que nos falta é parte do processo de individuação. É importante reconhecer o momento que vivemos quando o corpo fala.

Para escutar a mensagem do sintoma é preciso se fazer duas perguntas: Qual é a sua origem? Qual é o seu propósito? Porque nada acontece por acaso; tudo tem um motivo. Analisar que vida tínhamos quando o sintoma se apresentou pela primeira vez permite que façamos um corte em nossa linha vital. Onde estamos atualmente em nosso processo de individuação nos leva a identificar a direção pela qual nos leva.

Frida Khalo, a famosa artista mexicana, criou as obras mais importantes da sua carreira quando o sintoma da sua doença se manifestou com maior intensidade. A sua maternidade frustrada, a sua invalidez e sua relação com Diego Rivero foram alguns dos seus marcos. Em meio ao caos, brilhou a sua criatividade. A sombra viu a luz.

O fim da doença é quando curamos aquilo que nos falta e impede o nosso livre desenvolvimento. Aproveite a oportunidade de se comunicar com a sua sombra nesses momentos de dor, ou quando outro sintoma se manifestar. É uma oportunidade de se conhecer e aprender. Escute-o, não se feche dentro de um casco como uma tartaruga. 


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.