Essa voz que alguns chamam de consciência

Essa voz que alguns chamam de consciência

Última atualização: 27 maio, 2016

Chamamos comumente de “voz da consciência” essa parte de nós que atua como guardião da moral sobre o que pensamos, sentimos ou fazemos. É a capacidade que o homem tem de conhecer os valores e mandamentos morais e aplicá-los nas diferentes situações da vida.  É como um “outro eu”, que promove um diálogo interno. E ste diálogo adverte, critica, recrimina ou até mesmo castiga e nos diz o que é certo ou errado. Essa voz está lá para geralmente nos levar até a culpa.

A voz da consciência é a expressão da nossa autoridade interna. Essa fonte de autoridade foi inculcada dentro de nós e corresponde a um pai, a um deus, a uma religião ou a qualquer outra forma de poder que define nossas regras de conduta.

“A consciência nos faz descobrir, denunciar ou acusar, e a ausência de testemunhas atesta contra nós mesmos”.

-Michel de Montaigne-

As leis da consciência nascem do hábito; toda pessoa que aceita e pratica as ideias e costumes aprovados e aceitos pela sociedade ao seu redor não consegue desligar-se deles sem remorso.

A “voz da consciência” é a capacidade de observar e avaliar as nossas ações e nos fala de moralidade, decência e bons costumes. Parece um fiscal, porque o seu papel é o de acusador e, para algumas pessoas, torna-se extremamente insidioso. Na verdade, há alguns que experimentam fisicamente essa voz, um sussurro em seu ouvido que está sempre apontando o dedo, ameaçando e agredindo quem a escuta.

A consciência moral e o preconceito

Todos nós nos transformamos em pessoas capazes de viver em uma sociedade civilizada, porque alguém nos ensinou. Como diz uma velha canção, “o que não é dito, o que não é feito, o que não é tocado.” Para conviver com os outros não podemos agir da forma que queremos. Nós temos que desistir de alguns dos nossos desejos, em nome de uma adaptação saudável e algumas regras básicas que governam o mundo.

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Desde criança, nos impuseram um catálogo de consciência moral dividido em duas partes por uma linha vermelha: de um lado o que é certo e do outro o que é errado. Normalmente, os pais ou responsáveis nos transmitem uma moralidade que já foi estabelecida por outras pessoas. Assim, aprendemos a valorizar o bem e o mal a partir da religião, do direito, da cultura ou qualquer outro conjunto de princípios que regem a sociedade.

Muitos desses princípios e valores estão longe de ser razoáveis; muitas vezes se baseiam em preconceitos, medos nocivos ou desejos inconfessáveis.

Algumas pessoas por exemplo, nos ensinam que a discriminação racial é positiva, enquanto protegem a “pureza” de um determinado grupo. Outros acreditam que a masturbação pode enlouquecer a pessoa. Em ambos os casos, o que é transmitido é irracional e mesmo assim ensinado como algo válido.

A rigidez moral e a arbitrariedade

A consciência moral, normalmente, é transmitida de forma arbitrária. Na verdade, os pais e o mundo consideram um dever ajudar a criança a aceitar os preceitos morais da sociedade. Não é necessário que elas entendam realmente o que significam esses princípios, mas que aceitem e obedeçam. Para muitos, educar consiste em fazer com que todos obedeçam.

Em algumas famílias e em algumas sociedades, especialmente aquelas que transmitem princípios de conduta em desacordo com a razão, são usadas ameaças e punições para conseguir o respeito e a obediência das pessoas próximas. 

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É o que acontece por exemplo, nas culturas onde existe discriminação contra as mulheres. A conduta para elas é muito rigorosa e cheia de restrições. Desse modo, em algumas sociedades, ocorre a castração feminina ou a violência física por parte dos homens. São submetidas a castigos e penalidades constantes para evitar a insubordinação.

A consciência moral e a moralidade

Todos esses princípios morais incluem algum tipo de irracionalidade. Uma grande parte desses princípios é direcionado para o comportamento sexual e o relacionamento com o poder. Muitas infâncias são uma etapa de doutrinamento, onde se busca basicamente quebrar a vontade do indivíduo, para que não desenvolva comportamentos “fora das normas”.

Muitas pessoas interiorizam tão profundamente esses princípios que se transformam na vida adulta em presas fáceis da culpa. De fato, chegam a se sentir culpadas só de pensar na possibilidade de questionar esses preceitos.

Sentem-se mal se questionam o comportamento dos seus pais ou a validade conceitual de uma religião. A voz da consciência se transforma em uma instância perseguidora e perturbadora que os mantêm vigiados e os induz a castigar-se com severidade se infringirem as normas.

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Uma das tarefas de um adulto saudável é filtrar esses valores nos quais foi educado. Ao contrário da moral, a ética é uma construção pessoal, que não tem muita rigidez e se baseia em uma valorização mais objetiva de si mesmo e do mundo, através da razão.

A ética justifica as ações com evidência lógica e razões de conveniência pessoal e social, enquanto a moral é baseada em preconceitos, ou seja, nos argumentos que terminam em arbitrariedades do tipo “porque deve ser assim”, “porque será castigado na outra vida”, “porque isso é normal”.
Precisamos de mais ética e menos moralidade para termos uma convivência saudável.
Em uma época de tantos estímulos, abusos e transgressões, é muito importante a percepção da própria consciência para mantermos o equilíbrio interior e não praticarmos nenhuma ação com consequências desastrosas.

Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.