"Estación Delirio", o romance com uma curiosa história real por trás
Estación Delirio é um romance da escritora peruana Teresa Ruiz Rojas que fala sobre 14 mulheres que receberam alta de um hospital psiquiátrico na Alemanha em novembro de 1984. A obra é baseada em uma história real, mas vários dos acontecimentos narrados também são fruto da imaginação da autora.
Além de seu valor literário, Estación Delirio traz uma grande contribuição ao mostrar a realidade de um dos tratamentos psiquiátricos mais polêmicos: os eletrochoques. Também questiona os parâmetros dentro dos quais ocorre a internação psiquiátrica, questão que continua a despertar muitas preocupações no mundo da saúde mental.
A obra descreve com sensibilidade e detalhe as vivências, reais e imaginárias, deste grupo de mulheres que conviveram durante vários anos, num contexto de sofrimento, mas também de esperança, como ocorre em qualquer hospital psiquiátrico.
“O problema, como em muitas coisas, é o abuso que foi feito e quantas pessoas que provavelmente não precisavam também foram diagnosticadas e essa terapia foi administrada de forma brutal. Tem uma história de terror aí ”.
-Teresa Ruiz Rojas-
Estación Delirio e a história que a inspirou
Estación Delirio baseia-se na existência de uma prestigiosa clínica psiquiátrica, localizada em Stuttgart (Alemanha). É administrada por um médico brilhante que usa uma abordagem tradicional que inclui tratamentos controversos como o eletrochoque. Da mesma forma, e usando a abordagem tradicional, ele diagnosticou seus pacientes com base em uma apreciação pessoal, contrastada com a classificação de um manual de psiquiatria.
O diretor e proprietário da clínica decide em determinado momento que é hora de se aposentar da profissão, pois já tem idade para isso. O que lhe ocorre ao dar esse passo é preparar os 14 pacientes que estavam no local para que possam seguir suas vidas por conta própria, assim que o estabelecimento fechar. Em seguida, eles os envia para casa.
Foi assim que as 14 mulheres que estavam no hospital, que era só para mulheres, foram levadas para uma estação de trem e mandadas para casa. O médico havia dado a elas um sedativo para que a experiência não as deixasse muito nervosas. A pessoa encarregada de realizar essa tarefa era Anne Kahl, a assistente do psiquiatra. É o único nome real usado na peça.
Um tratamento controverso
Estación Delirio aborda alguns dos aspectos que mais polêmicas têm suscitado no campo psiquiátrico. A primeira delas é o diagnóstico. Nesse campo da saúde mental, geralmente é realizado com base na observação do médico e com base nas características definidas em um manual de psiquiatria. Claro, este método implica um alto grau de subjetividade e, às vezes, uma simplificação extrema.
Nem todas as pessoas que passam por um delírio podem ser classificadas como esquizofrênicas, mas é comum que recebam esse diagnóstico. Da mesma forma, nem todos os estados de depressão requerem hospitalização. No entanto, em muitos casos, a decisão é de encarcerá-los, temendo que possam ameaçar suas vidas e criar responsabilidade legal para o médico que os atende.
Por outro lado, existem os eletrochoques, uma técnica que continua a ser usada, mas contra a qual muitos psiquiatras têm grandes reservas. Durante as décadas de 1960 e 1970, esse método foi abusado, muitas vezes com resultados lamentáveis. É verdade que em alguns casos pode ser útil e é por isso que continua a ser usado, mas centenas de psiquiatras pensam que o risco é maior do que os possíveis benefícios.
Uma situação paradoxal
Teresa Ruiz Rojas, autora de Estación Delirio, teve acesso à história das 14 mulheres graças ao depoimento de Anne Kahl, uma alemã que havia sido sua colega de escola. A escritora também conseguiu entrevistar o médico que dirigia a clínica psiquiátrica e que atendia as pacientes da história.
Um dos aspectos mais marcantes era que todas essas pacientes sentiam uma espécie de adoração pelo psiquiatra. Apesar de as condições de sua internação serem até nefastas em alguns casos, elas viam nele e em seus métodos uma ajuda inestimável que só gerava gratidão.
Não se sabe o que aconteceu com suas vidas depois que saíram da clínica onde moravam. Embora seus nomes tenham sido alterados no romance e vários elementos fictícios tenham sido introduzidos em seus registros médicos, os fatos essenciais da Estación Delirio são reais. Este trabalho é uma boa referência para olhar mais de perto o mundo enigmático dos transtornos mentais e seu tratamento.
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- Fantin, JC y Fridman, P. (2002). El diagnóstico en psiquiatría. Revista Alcmeón.
- Yrigoyen, J. C. (2020, 13 enero). “Estación delirio”, nuestra crítica a la novela de Teresa Ruiz Rosas. El Comercio Perú. https://elcomercio.pe/luces/libros/estacion-delirio-nuestra-critica-a-la-novela-de-teresa-ruiz-rosas-jose-carlos-yrigoyen-noticia/.