Estilos de raciocínio disfuncionais no TOC

O transtorno obsessivo-compulsivo é uma das condições clínicas mais incapacitantes. Agora, você pode imaginar se a possibilidade de um evento catastrófico provocar em você a mesma reação emocional que um evento real? Algo semelhante acontece na TOC, e neste artigo vamos explicar isso.
Estilos de raciocínio disfuncionais no TOC
Gorka Jiménez Pajares

Escrito e verificado por o psicólogo Gorka Jiménez Pajares.

Última atualização: 18 maio, 2023

O transtorno obsessivo-compulsivo (daqui em diante, TOC) é uma condição clínica frequentemente incapacitante. Caracteriza-se pela presença de obsessões, que causam sofrimento, e às quais a pessoa responde com compulsões ou rituais, tanto comportamentais como mentais. Neste artigo vamos analisar o mecanismo que explica a formação das obsessões: estilos de raciocínio disfuncionais no TOC.

No TOC, as compulsões ou rituais estão longe de serem agradáveis, embora algumas pessoas sintam alívio quando são realizados. As respostas afetivas associadas ao TOC são muito variadas e também intensas. Além disso, é comum que as pessoas experimentem uma “necessidade de perfeição” avassaladora, o que lhes causa frustração e desconforto.

Mulher pensando
O TOC tem uma prevalência de 1 a 3% na população em geral.

O que é TOC?

Antes de falar sobre estilos de raciocínio disfuncionais, vamos refletir sobre o que caracteriza esse grave distúrbio. Assim, a Organização Mundial de Saúde define esta entidade clínica pela presença de obsessões e compulsões persistentes:

  • As obsessões assumem a forma de pensamentos, imagens ou impulsos persistentes e recorrentes, ou um sentimento de que “é muito urgente fazê-lo”. Esses pensamentos são muito irritantes, longe de serem desejados e muitas vezes estão associados à ansiedade. A pessoa tenta ignorar ou suprimir suas obsessões realizando comportamentos repetitivos (compulsões).
  • As compulsões são comportamentos físicos e mentais que uma pessoa realiza quando se depara com a urgência de suas obsessões. Elas são realizados de acordo com regras rígidas.

Por exemplo, uma pessoa com TOC de limpeza pode pensar que algo não ficará limpo até que seja esfregado 99 vezes. Como ela sente um grande desconforto quando pensa que está sujo, ele vai limpá-lo 99 vezes porque, se não o fizer, pode infectar as pessoas ao seu redor e conseqüentemente elas podem morrer.

Além disso, tanto as obsessões quanto as compulsões consomem muito tempo de uma pessoa. Em alguns casos, foram relatadas mais de 8 horas dedicadas em relação às obsessões e compulsões, o que produz graves interferências e substancial deterioração pessoal, social, educacional e ocupacional.

Quais são os estilos de raciocínio disfuncionais no TOC?

A “dúvida” é o elemento chave e fundamental, estando na base da formação das obsessões. O’Connor a define como ‘ uma interferência sobre um possível estado de coisas como se estivessem realmente ocorrendo’. Ou seja, as pessoas com TOC veem como real algo que está acontecendo apenas em sua mente. Aqui está um exemplo desse estilo de raciocínio:

“Eu tive um pensamento muito ruim. Acabei de pensar que posso matar meu filho. Não posso ficar com meu filho porque sou perigoso. Preciso me afastar do meu filho porque sou um assassino”.

Assim, em um estado em que a possibilidade de algo acontecer se confunde com sua ocorrência real, podemos distinguir vários elementos.

1. Inferência primária

A inferência primária refere-se ao componente base da dúvida. Assim, a essência da “dúvida” deve ser um conteúdo significativo, importante e de alta carga emocional para a pessoa.

A dúvida é o começo do TOC. É o gatilho da dúvida porque assume a forma de uma inferência (ou seja, uma pressuposição), com um poderoso significado pessoal e emocional.

“Acabei de comprar um carro e deixei estacionado, fechei o carro? Volto e verifico se o fechei. 10 minutos depois me assalta de novo a dúvida se realmente fechei carro. Eu realmente fechei? Preciso voltar para conferir”.

2. Confusão inferencial

A dúvida obsessiva que constitui a inferência primária é produto de um raciocínio falho. Está errado porque a pessoa com TOC confunde “o que é real” com “o que é possível”. Isso é causado por dois fatores:

  • Muitos portadores de TOC acabam desconfiando de suas próprias percepções e sentidos. Consequentemente, a pessoa não consegue diferenciar claramente entre o que é real e o que ela imagina ser real.
  • Dão maior credibilidade a possibilidades remotas e muitas vezes fictícias em oposição à realidade, acessível pelos sentidos (audição, visão, olfato, paladar).

Além disso, a confusão inferencial pode ser avaliada por meio do Questionário de Confusão Inferencial (ICQ), cujas pontuações explicam uma porcentagem significativa das relações entre os sintomas obsessivo-compulsivos e as crenças disfuncionais que estamos mencionando.

homem de óculos duvidando
As pessoas com TOC muitas vezes confundem o que é real e o que é possível quando raciocinam sobre suas obsessões.

3. Inferências secundárias

Diante da dúvida obsessiva que molda a inferência primária, a pessoa com TOC antecipa as consequências negativas (ou inferências secundárias) que podem ocorrer caso aconteça o que teme (uma possibilidade fictícia, possível e improvável).

Diante dessa situação, o paciente sente um grau de desconforto muito alto (geralmente ansiedade). Nesse momento, sua vontade é sequestrada pela necessidade de implementar comportamentos que mitiguem tanto o desconforto quanto as ameaças antecipadas.

Para concluir, vale mencionar que esse fenômeno de erro de raciocínio é curioso porque as pessoas com TOC cometem esses erros de raciocínio apenas quando raciocinam sobre suas obsessões. O outro raciocínio é feito como pessoas sem TOC.


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  • Borda, T., & Mazás, S. El Trastorno Obsesivo Compulsivo (TOC) es sustancialmente un trastorno emocional.

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