Estou triste e irritado sem saber o porquê

Estou triste e irritado sem saber o porquê
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 15 novembro, 2021

Às vezes noto que estou triste sem saber o motivo. Há dias assim, em que a tristeza nos abraça e um sentimento inexplicável de irritação se mistura com o gosto da apatia e do desânimo, ofusca e complica ainda mais a nossa realidade ou nos impede de alcançar todos os objetivos que estabelecemos para nós…

É possível que esse sentimento seja familiar para você. A maioria de nós daria qualquer coisa para que esses dias cinzentos nunca mais aparecessem no nosso calendário. Adoraríamos que a irritação desaparecesse para sempre das nossas vidas como alguém que usa uma escova para remover o pó ou os fiapos do seu casaco favorito.

“Naquele momento eu comecei a experimentar uma tristeza terrível, mas ao mesmo tempo, senti algo como um formigamento na alma”.
– Fiodor Dostoiévski –

Se sentimos essa necessidade é por uma razão simples: nos ensinaram desde a infância que existem emoções positivas e negativas. As emoções negativas, como no caso da raiva ou tristeza, devem escondidas, e esse é um hábito que está nos adoecendo. Acreditamos que quando fingimos que tudo está bem, teremos uma melhor aparência exteriormente.

E o nosso interior? Se há dias em que estou triste e irritado, deve haver um motivo. Toda emoção cumpre um propósito. Esse componente biológico orquestrado quimicamente no nosso cérebro tem uma função muito clara: facilitar a nossa adaptação, a nossa sobrevivência em cada um dos ambientes nos quais circulamos diariamente.

A tristeza, por exemplo, nos alerta de que algo está acontecendo e de que a nossa obrigação é parar, diminuir o ritmo e favorecer uma introspecção adequada para tomar decisões. Portanto, não existem “emoções negativas”, todas cumprem um determinado objetivo que precisamos conhecer e assumir. Os momentos de tristeza são momentos de pausa para refletirmos sobre a nossa vida.

Nuvem presa dentro de gaiola

Estou triste e irritado: o que há de errado comigo?

Há uma realidade muito comum que a maioria dos psicólogos encontram no seu consultório: há pessoas que se surpreendem ao receber um diagnóstico de depressão, pacientes que estavam completamente certos de que o que eles sentiam há meses era uma simples tristeza.

Outras pessoas, entretanto, vão ao terapeuta ou mesmo ao clínico geral pedindo um tratamento para a depressão, quando o que experimentam é apenas uma dificuldade para aceitar emoções como a tristeza, a irritação ou a frustração. Essas duas realidades, sem dúvida, representam um problema real que nos obriga mais uma vez a lembrar a importância da educação das emoções.

Além disso, algo que não podemos ignorar é que algumas pessoas simplesmente não toleram a tristeza. Uma emoção necessária para o nosso desenvolvimento pessoal e para a nossa capacidade de superação diária, que nem sempre é bem aceita e muito menos compreendida. Portanto, precisamos saber a diferença entre tristeza e depressão, bem como a utilidade prática da primeira.

As características da tristeza e o seu propósito

Começaremos definindo a tristeza. Algo que devemos considerar em primeiro lugar é que ela é uma emoção normal e, como tal, devemos tolerá-la e entendê-la. Por outro lado, um segundo detalhe que deve ser lembrado é que a tristeza, assim como a irritação, sempre tem um gatilho, um motivo. Algo que, muitas vezes, não acontece na depressão.

A tristeza é uma emoção muito viva. Este termo pode nos surpreender, mas muito além do que podemos acreditar, o seu objetivo é nos fortalecer, nos dar coragem diante das adversidades da vida. A tristeza “nos obriga a parar e refletir” e, portanto, é comum sentir-se mais cansado, mais lento, menos receptivo ao que nos rodeia.

Essa emoção, assim como a irritação, exige que esqueçamos por um momento o mundo exterior para navegarmos dentro de nós mesmos e percebermos o que está acontecendo, o que nos incomoda, o que nos machuca, o que nos irrita…

Portanto, se estou triste, a minha obrigação é parar, me dar um tempo, me ouvir, me curar e entender o que está provocando todo esse processo.

Homem diante do mar

E se o que eu tenho é uma depressão?

Não podemos descartar essa possibilidade. Tudo isso que sentimos pode ser uma depressão. Portanto, é necessário conhecer os seus sintomas, as suas características e as nuances desses abismos psicológicos. Por esse motivo, antes de tirar conclusões precipitadas, é necessário procurar um profissional qualificado.

No entanto, mostraremos neste artigo algumas características básicas que nos ajudarão a diferenciar a depressão de uma simples tristeza.

  • Enquanto a tristeza é uma emoção normal e funcional, a depressão é completamente disfuncional e afeta todas as áreas da nossa vida. Além disso, nem sempre é necessário que “algo tenha acontecido” para desenvolvermos um distúrbio depressivo. Na maioria das vezes não há fatores desencadeantes. Na verdade, há pacientes com uma vida aparentemente perfeita, e apesar disso, não conseguem evitar a depressão.
  • O sentimento de exaustão, desconforto e negatividade é constante, quase crônico.
  • A vida deixa de ter interesse, não sentem prazer com nada.
  • Aparecem os problemas de sono: insônia ou excesso de sono.
  • Os pensamentos negativos são constantes, no entanto, o sentimento de culpa também aparece.
  • Por outro lado, esses estados tão desgastantes favorecem o aparecimento de ideias associadas ao suicídio.
Mulher sentada em balanço

Cada vez que enfrentarmos um novo dia com esse sentimento de ‘estou triste e não sei o motivo’, temos que parar e refletir. Isto acontece porque não estamos conseguindo expressar o que sentimos no nosso íntimo. É preciso entender que toda emoção tem um propósito. Se não conseguimos entender o que está acontecendo, se o que experimentamos é desamparo e a impossibilidade de assumir a responsabilidade por nós mesmos, é necessário procurar ajuda psicológica.


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  • Berrocal, P. F., & Díaz, N. R. (2016). Desarrolla tu inteligencia emocional. Editorial Kairós.
  • Greenberg, L. (2000). Emociones: una guía interna. Ed. Descleé de Brouwer.
  • Steiner, G. (2007). Diez (posibles) razones para la tristeza del pensamiento (Vol. 38). Siruela.

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