Estratégias de desativação no apego evitativo: o que são e que papel desempenham?
Ao estabelecer uma relação de casal, esperamos criar intimidade afetiva, contato frequente e construir juntos um projeto de futuro. Mas se todas essas metas forem angustiantes, o relacionamento deve ser sabotado e interrompido? Essa situação paradoxal ocorre em pessoas com apego evitativo e os passos em detrimento do vínculo são chamados de estratégias de desativação.
Conviver com alguém assim significa enfrentar seus comportamentos desconcertantes: um dia demonstra amor e entusiasmo e no outro frieza e distanciamento. A pessoa diz que não quer compromisso, mas segue em frente. Ela parece estar feliz no relacionamento e, de um momento para o outro, se apega a qualquer detalhe para acabar com ele. Então, o que acontece? Nós vamos te contar.
Como são as estratégias de desativação?
De acordo com um estudo publicado no PLOS ONE, as estratégias de desativação são táticas ou manobras que a pessoa implementa para interromper esse impulso natural de criar vínculos. O curso normal de uma relação afetiva passa por aprender a ser interdependente com o outro, buscando nele conforto e consolo, criando uma aproximação afetiva cada vez maior.
Como essas situações geram grande angústia, medo ou desgosto, elas tentam se apaziguar por diferentes meios, como os seguintes:
- Envolver-se em relacionamentos com pessoas que não estão disponíveis: por exemplo, casados ou pessoas que moram distante.
- Considerar os mínimos detalhes da outra pessoa como um defeito: é assim que ela faz com que os sentimentos românticos ou afetivos percam intensidade.
- Evitar se abrir emocionalmente com a outra pessoa: ela não compartilha emoções e não é vulnerável, pois assim se sente independente.
- Flertar com outras pessoas durante um relacionamento: ou ainda pensar em seus parceiros anteriores. Novamente, esta é uma forma de sabotar o vínculo e não deixar crescer aquela proximidade emocional com o atual parceiro.
- Evitar conversas que envolvam sentimentos: elas os evitam ou tentam mantê-los em um nível mais superficial, evitam conflitos e se retraem quando eles surgem, como alerta um artigo da Frontiers in Psychology.
- Recusar um compromisso de forma direta e clara: embora suas ações sejam consistentes com o progresso no relacionamento, a recusa em assumir um compromisso garante uma brecha de liberdade à qual ela pode recorrer quando seus medos surgirem.
- Distanciamento: acontece justamente quando há uma maior proximidade emocional e um relacionamento se sente mais confortável ou envolvido. Essa distância pode ser física (deixando de ver a pessoa ou não respondendo suas mensagens) ou psicológica (mostrando-se mais fria e distante em sua comunicação).
Por que as estratégias de desativação surgem no apego evitativo?
A base desses comportamentos estranhos é encontrada no estilo de apego. Este é definido como o vínculo estabelecido entre o bebê ou lactente e seus principais cuidadores durante os primeiros anos de vida. Dependendo de como os adultos respondem às necessidades da criança, a criança aprende a criar uma imagem de si mesma, dos outros e do mundo.
Aqueles que desenvolvem um apego evitativo o fazem porque seus cuidadores não respondem às suas demandas. Eles podem ter deixado a criança chorar em vez de confortá-la ou até mesmo se tornado hostis e irritados com seu choro. Mais tarde, é provável que, em vez de acolher suas emoções (de medo, raiva ou tristeza), ela fosse rotulada como fraca, menosprezada por seus sentimentos ou repreendida por se expressar.
A conclusão a que a criança chega é que não receberá ajuda, apoio ou compreensão dos outros quando necessitar e que não é seguro senti-la ou expressá-la. Em suma, a pessoa entende que não é confiável associar-se com os outros ou esperar algo deles, pois recebeu rejeição a esse respeito. Assim, ela se torna uma pessoa hiperindependente e incapaz de se mostrar vulnerável a outro ser humano.
Abordando o apego evitativo para curar relacionamentos
Estar em um relacionamento com uma pessoa evitativa ou com apego evitativo devasta sua autoestima e saúde mental, especialmente se você tem um apego ansioso. Insegurança, incerteza e sentimento de rejeição estarão presentes e é possível que suas necessidades de comunicação ou proximidade física ou emocional não sejam atendidas adequadamente. Também é difícil atender às necessidades do seu parceiro.
Por outro lado, se você é uma pessoa com apego evitativo, pode sentir insatisfação em seus relacionamentos. E é que, apesar do medo, angústia ou desgosto que uma conexão profunda com o outro possa lhe causar, talvez você queira alcançar isso. Essa contradição impede a criação ou manutenção de um relacionamento sólido e gera certo sofrimento e isolamento.
Para reverter essa tendência, é importante entender que você está aplicando estratégias de desativação e por que está fazendo isso. Aceitar seu medo de se relacionar com os outros é o primeiro passo para superá-lo. É muito positivo buscar acompanhamento profissional, trabalhar a comunicação, a confiança e a interdependência. Aproximar-se de um vínculo seguro é possível.
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