A "estupidez funcional": demandada em muitas empresas

A "estupidez funcional": demandada em muitas empresas

Última atualização: 14 março, 2017

Por mais que seja difícil dizê-lo em voz alta, é uma evidência: atualmente a estupidez funcional continua sendo o principal motor de muitas organizações. A criatividade não se aprecia, ter um pensamento crítico é uma ameaça para o empresário que prefere que nada mude, e que procura acima de tudo funcionários dóceis.

Somos conscientes de que em nosso espaço já falamos mais de uma vez sobre o grande capital humano que um cérebro criativo pode oferecer a uma corporação. Contudo, pensar de modo diferente, sendo mais livre e conectado às próprias intuições, às vezes é mais um problema do que uma vantagem no contexto profissional.

É duro dizer isso. Sabemos, contudo, que cada empresa é como uma ilha peculiar com sua própria dinâmica, suas políticas e seus climas internos. Existem empresas que são um fantástico exemplo de inovação e eficácia. Contudo, atualmente, a tão desejada mudança ainda não teve início. As grandes corporações e mesmo as pequenas empresas procuram pessoas preparadas, não resta dúvida, mas também que sejam fáceis de lidar, solícitas e silenciosas.

A inovação baseada nesse capital humano que nasce da mente aberta, flexível e crítica é um grande perigo. Isto é assim porque a diretoria continua enxergando com temor as novas ideias. Porque nossas organizações continuam se baseando em uma estrutura rígida, em um esquema vertical onde a autoridade exerce um controle voraz. Por sua vez, também os colegas de trabalho costumam ver com desconfiança essa voz que traz novas ideias, e que portanto os coloca em evidência ressaltando capacidades que eles mesmos não têm.

É uma realidade complexa sobre a qual desejamos refletir.

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A estupidez funcional, a grande triunfante

Mats Alvesson, professor da Escola de Economia e Administração da Universidade de Lund (Suécia), e Andre Spicer, professor de comportamento organizacional, escreveram um livro muito interessante sobre o tema intitulado “The Stupidity Paradox” (O Paradoxo da Estupidez). Uma coisa que todos sabemos é que vivemos uma modernidade onde palavras como “estratégia” ou “management” têm muito peso.

São competências apreciadas baseadas na criatividade ou no “Mental System Management” (MSM), mas entre valorizá-las e permitir que sejam aplicadas há uma longa distância. De fato, existe um tremendo abismo desconfortável. Porque a inovação é muito cara, porque sempre será melhor se adequar ao que já funciona em vez de arriscar experimentar o que ainda não se conhece. Tudo isso contribui para uma realidade tão crua quanto desoladora: a economia baseada na inovação, na criatividade e no conhecimento é muito mais um sonho do que uma realidade.

Por sua vez, é preciso considerar outro aspecto. A pessoa brilhante e bem formada também é alguém que precisa de um trabalho. No fim das contas, assumirá tarefas rotineiras e pouco prestigiosas porque a resignação e a suposição da estupidez funcional são fundamentais para preservar o emprego.

Não importa a sua formação, suas ideias ou suas fantásticas competências. Se você erguer a voz, aparecerão imediatamente os seus predadores: diretores e colegas menos brilhantes e criativos que pedirão silêncio no interior desse rebanho de ovelhas brancas. Porque você os coloca em evidência, porque as suas ideias rompem a “férrea cadeia de montagem” muitas vezes baseada em perpetuar a própria mediocridade.

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Não faça isso, não se transforme em um estúpido funcional

É possível que a própria sociedade não esteja preparada para receber tanta gente formada ou capaz de oferecer um capital humano alternativo: mais crítico, dinâmico, criativo. Nem a demanda se relaciona com a oferta nem as empresas são receptivas a essa faísca baseada na inovação. A estupidez funcional se cristaliza porque “não há outro jeito” além de aceitar o que for para pagar as contas no fim do mês.

Mas a estupidez funcional que impera em muitas das nossas estruturas sociais é habitada, como já sabemos, por profissionais competentes e brilhantes mas terrivelmente desperdiçados. Todos nós poderíamos dar muito mais de nós se as condições fossem favoráveis.

Contudo, nos diluímos completamente nesta suposta imbecilidade para sustentar um sistema que se mantém, que sobrevive, mas não avança. E isto não é uma boa estratégia, porque neste contexto nos sentimos frustrados, e acima de tudo, infelizes.

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Problemas sobre os quais refletir

Mats Alvesson e André Spicer, autores do livro citado anteriormente, apontam que existem quatro aspectos que sustentam este problema:

  • Procuramos agradar a quem tem o poder na organização.
  • Temos a necessidade de não causar problemas e de não dizer a certas pessoas coisas que não desejam ouvir.
  • Muitas vezes ser um “estúpido funcional” faz com que tudo dê mais um menos certo: mantemos o trabalho e somos aceitos.
  • A grande maioria dos trabalhos atuais demanda esta característica. Se você deseja ascender e, ainda por cima, preservar o seu trabalho, é melhor ser solícito, serviçal e não questionar o que é feito.

Muitos definem nosso atual sistema como uma economia baseada na inovação, na criatividade e no conhecimento. Contudo, poderíamos dizer, quase que sem engano, que apenas 20% estão colocando isto em prática. O que acontece então com todos esses cérebros brilhantes? Com tantas pessoas dispostas a dar o melhor de si?

Possibilidade e mudanças

Passamos grande parte das nossas vidas escolares e acadêmicas procurando a dimensão onde se encontram nossas aptidões naturais e as tendências pessoais, diria Sir Ken Robinson, para que no fim das contas, chegada a hora de entrar no mundo profissional, tudo desabe. A rendição não é uma boa saída, nos transformarmos em mais uma peça de motor do século XIX e discriminatória não fará com que as coisas mudem.

Talvez o cérebro criativo também precise ser treinado em coragem e iniciativa. Para assumir riscos e sair desses círculos caducos para criar novas empresas capazes de oferecer serviços inovadores a uma sociedade cada vez mais exigente. As grandes mudanças não vêm de um dia para o outro. Mas sim com o movimento cotidiano, com esse barulho lento mas constante que sempre antecede a abertura de alguma coisa nova e constante.

Imagem principal “Tempos modernos”, Charles Chaplin (1936).


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