A evolução do amor em uma relação amorosa
Segundo a antropóloga Helen Fisher, as pessoas nasceram para amar. Não importa se são amores que dão mais ou menos certo, esse sentimento intenso e complexo é uma fonte da existência humana, da criatividade, e também de muitas de nossas preocupações. Por isso, conhecer a evolução do amor em uma relação amorosa permite que nos aprofundemos nessa própria essência de nós mesmos que é amar.
Se eu dissesse agora que o “o amor é tudo”, muitos de vocês olhariam para essa afirmação com ceticismo. Culturalmente costumamos ser, pelo menos em geral, um pouco cínicos com essa ideia. Se olharmos a partir de um ponto de vista biológico e até mesmo antropológico, no entanto, essa sensação, esse impulso de vida e de revolução foi o que nos permitiu tornar o que somos como espécie nesse planeta. Porque o amor não apenas facilita a consolidação de um casal, como também a aparição de filhos entre eles.
“A paixão é mais rápida de se desenvolver, mas também mais rápida para desaparecer. A intimidade se desenvolve mais lentamente, e o compromisso é mais gradual ainda”.
– Robert Stenberg –
O afeto dá lugar a uma cooperação, permitindo que uma pessoa se envolva no cuidado e na atenção a outro ser. O amor nos da fôlego, de forma que reduz a ansiedade e o estresse, apaga os medos e inclusive desperta o nosso lado mais criativo. Entender, portanto, todas as suas mudanças e se aprofundar na forma como o amor evolui dentro de um relacionamento amoroso permitirá ver como cada etapa, cada fase em nossas relações, tem seus próprios benefícios, funções, e seu próprio sentido.
A evolução do amor em uma relação amorosa
Um sentimento variável, porém sólido
Gerald Huther, neurobiólogo e professor de neurobiologia da Universidade de Göttingen na Alemanha, oferece algumas concepções bastante interessantes. Ele fala sobre a evolução do ser humano, a nossa evolução.
Segundo esse pesquisador, até o momento a ciência sempre enfatizou o conceito da evolução por meio da seleção natural. Também ressaltou o princípio da sobrevivência baseada no indivíduo mais apto ou adaptado ao ambiente.
No entanto, para o professor Huther, o que realmente fez a espécie humana avançar não foi nada além dos delicados e incrivelmente sólidos laços do amor.
Ao mesmo tempo, se há algo que a maioria de nós sabe é que o amor, esse material que não pode ser tocado nem observado sob a lente de um microscópio, nem sempre dura ou permanece igual. Surgem os obstáculos. Surgem os desafios, as desilusões.
Para Gerald Huther, e também para a mencionada antropóloga Helen Fisher, nada pode ser mais importante do que entender a evolução do amor em relacionamentos amorosos. Se compreendermos as características de cada etapa, com certeza estaremos mais preparados. Assim, lidaremos melhor com os altos e baixos ao longo da vida de um casal.
A paixão
Essa é a etapa da qual muitas pessoas gostam mais. A paixão, cheia de mistérios, fantasias e descobertas variadas. Aquele momento em que temos em nós uma bomba prestes a explodir, carregada de dopamina, serotonina, oxitocina, noradrenalina.
Tudo é muito intenso, as emoções são avassaladores. Nada pode ser mais significativo para o nosso cérebro do que aquela pessoa desejada.
Conforme o psicólogo John Gottman diz em seu livro Principia Amoris: The New Science of Love, essa primeira fase da paixão define o que conhecemos como um estado de graça absoluta. Ela é marcada pela euforia e pelo desejo incontrolável.
Amor romântico ou vinculação
Depois da flechada do cupido que nos infectou com uma combinação de paixão e fascinação, chega outra etapa. Outra fase dentro da evolução que do amor em uma relação amorosa.
É o momento em que surgem dúvidas: “O que começamos aqui significa a mesma coisa para você e para mim?”. “Você quer estar comigo a todo momento?”. “Eu posso contar com você, confiar em você?”
- Esses tipos de perguntas são as que mostram que estamos entrando em uma nova fase do relacionamento: o amor romântico. A paixão ainda se mantém, mas agora surgem os medos, as preocupações e, acima de tudo isso, um desejo de transcender, de se vincular com o ser amado. É uma das fases mais bonitas da vida de um casal, uma fase em que tem início a viagem mais autêntica e pura, em que a obsessão da paixão dá lugar a um sentimento de confiança.
- Por outro lado, também é muito comum que surjam alguns problemas nessa etapa do amor romântico. Desejamos fortalecer nossos laços e, para isso, somos obrigados a nos conhecer melhor, a negociar, a resolver as discordâncias, a ser alguém que está dançando e sabendo o que está fazendo, mas ao mesmo tempo tentando não controlar a dança do outro, apenas fluir junto. Nesse momento devem brilhar a empatia, a reciprocidade, o cuidado e a tolerância.
Se resolvemos essas questões com efetividade e inteligência, ganharemos muita maturidade para as fases seguintes.
Amor maduro e o laço da lealdade
Não há uma estimativa perfeita de quanto tempo dura um amor romântico. Há quem estabeleça uma média entre os 4 e os 5 anos. Helen Fisher, no entanto, indica em um artigo que entre 30 e 40% dos casais de idade avançada afirmam que ainda estão vivendo essa etapa. Que o romantismo ainda não desapareceu, o desejo ainda está lá e há um vínculo muito feliz e satisfatório.
Não obstante, John Gottman fala sobre a importância de trabalhar para a consolidação de um amor maduro. Trata-se de ser capaz de construir um compromisso firme, de ver no outro o melhor companheiro possível. É preciso valorizar profundamente a outra pessoa, praticando uma ternura e um vínculo emocional atento e compreensivo. Assim, é possível enriquecer a ambos igualmente.
Para concluir, se há algo que fica muito claro quando olhamos para a evolução do amor em uma relação amorosa é que não é o tempo que faz com que essas fases nos alcancem no nosso relacionamento. O amor e suas mudanças não são normativas e nem seguem um calendário.
Alcançar a estabilidade e a felicidade comprometida, leal e enriquecedora precisa de trabalho. É necessário um trabalho praticamente artesanal, mas também intuitivo e atento. Temos que aparar as arestas, desenvolver um olhar que entende e, ao mesmo tempo, que é atento, um ouvido que escuta, um coração que sabe entender, ceder e acolher…
É uma viagem completa, não há dúvidas quanto a isso. Afinal, amor é uma aventura que sempre vale a pena ser vivida, sempre!
Imagens cortesia de Vladimir Kush.