Explosões de raiva: temperamento ou transtorno?

Quando as explosões de raiva são frequentes, não é mais uma questão de temperamento, e sim um transtorno que deve ser atendido por um profissional de saúde mental, pois pode gerar sérias consequências.
Explosões de raiva: temperamento ou transtorno?
Sergio De Dios González

Escrito e verificado por o psicólogo Sergio De Dios González.

Última atualização: 16 abril, 2020

Quase todo mundo já teve explosões de raiva alguma vez na vida. São momentos em que perdemos o controle e a raiva toma conta do nosso pensamento, nossa linguagem e nossas ações. Há uma perda temporária de consciência e a única coisa que se fixa em nossa mente é o ataque: um desejo irreprimível de ferir.

Nas explosões de raiva, o cérebro é desligado e a fera que todos temos dentro se acende. É uma faceta selvagem à qual nunca renunciamos completamente. No entanto, muitos de nós conseguem moderar esses instintos furiosos e só raramente eles vêm à luz em condições verdadeiramente extremas. Outros, por outro lado, levam a fera para passear toda vez que são contrariados.

“Não faça nada com a fúria da paixão; é como ir ao mar no meio de uma tempestade”.
-Thomas Fuller-

A pergunta que anima essa reflexão é a seguinte: essas explosões de raiva são simplesmente uma característica do temperamento que algumas pessoas têm? É verdade que existem indivíduos que são mais dados a emoções exaltadas, mas até que ponto isso é normal e em que momento isso se torna o sintoma de um distúrbio?

As explosões de raiva

A raiva nasce de duas fontes básicas. Uma é o medo, em qualquer uma de suas formas: o medo em si, ansiedade, angústia, pânico, etc. A outra é a frustração, também em qualquer das suas formas: não se sentir confortável consigo mesmo, não alcançar objetivos ou desejos, ver que as coisas não são como queremos.

Mulher explodindo de raiva

Quando uma pessoa sente raiva frequentemente, o comum é que existam crenças errôneas que a levam a interpretar a realidade de maneira assustadora ou frustrante. Estas são algumas dessas crenças equivocadas:

  • Os outros podem me machucar com facilidade. Isso leva a reações iradas a qualquer sinal de desaprovação ou rejeição.
  • Os outros têm que agir em prol do meu bem-estar e meus desejos. Isso leva a intolerâncias diante das ações dos outros quando contradizem o que queremos, pensamos ou sentimos.
  • Não deve haver obstáculos para alcançar o que eu quero. O aparecimento de alguma barreira desencadeia a raiva e, às vezes, explosões de raiva.
  • Os outros devem ler meus pensamentos e estar cientes dos meus sentimentos. Se eles não entenderem instantaneamente ou se não levarem em conta meu estado emocional, vou tratar a situação como um ataque.
  • Não posso nem devo admitir que me sinto frustrado. Isso é para os fracos. Eu sempre tenho que me mostrar forte, mesmo que assim acumule ansiedade em excesso.

O ciclo da raiva

Explosões de raiva são o resultado de ansiedades ou medos acumulados. Começam a incubar quando não atendemos a pequenos desconfortos que pouco a pouco se tornam frequentes. Tudo começa com um leve desconforto consigo mesmo, com alguém em particular ou com o mundo em geral.

Ciclo das explosões de raiva

Com o tempo, a pessoa sente esse desconforto e o processa, mas não o expressa ou administra. Fica com a ideia de que isso será diluído ou de que deveria simplesmente seguir em frente. Mas como a realidade que a incomoda não muda, os primeiros sintomas da raiva aparecem. Críticas ácidas, sarcasmos ou pequenas expressões de rejeição.

Apesar disso, o afetado continua tentando não prestar muita atenção à situação desconfortável. Tenta virar as costas, ignorá-la ou afastar-se dela. A qualquer momento há um gatilho que desencadeia a explosão de raiva e é aí que tudo sai de controle, dando origem a novos ciclos de conflito e raiva.

O distúrbio explosivo intermitente

O distúrbio explosivo intermitente é uma condição mental na qual existem expressões frequentes de raiva extrema em resposta a situações que não justificam tais explosões. Do ponto de vista psiquiátrico, é classificado como transtorno de controle de impulsos. Cleptomania, jogos de azar e piromania, entre outros, pertencem a esse mesmo grupo.

Aqueles que sofrem desse distúrbio apresentam breves surtos de raiva, nos quais experimentam uma sensação de liberação e/ou prazer ao ter explosões de raiva. No entanto, alguns minutos depois, eles sentem remorso. O mais comum é que eles destruam objetos ou ataquem fisicamente as pessoas. O gatilho geralmente é algo sem importância. Além disso, costumam ser pessoas com altos níveis de ansiedade.

Explosões de raiva: temperamento ou transtorno?

Com tudo que vimos, fica claro que se uma pessoa tem explosões frequentes de raiva sem razão e se torna violenta, ela precisa de ajuda profissional. Não é uma questão de temperamento, mas um problema que vai além e requer atenção antes de alcançar consequências mais sérias.


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  • Sloterdijk, P. (2014). Ira y tiempo: ensayo psicopolítico (Vol. 70). Siruela.

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