Você dá tudo e lhe pedem mais: o fardo de ser o melhor

Você dá tudo e lhe pedem mais: o fardo de ser o melhor

Última atualização: 28 janeiro, 2017

Ser o melhor em algo nem sempre é tão positivo como muitos pensam. Quem se destaca em algo pode acabar sendo alvo de rejeição, de brincadeiras e até de abusos por parte dos outros. Todos nós conhecemos os casos de crianças que são excelentes alunas na escola e, em vez de serem admiradas por isso, acabam sendo vítimas de bullying por parte de seus colegas.

Neste sentido, todos já vimos como alguém que obtém um grande sucesso nem sempre é apoiado por aqueles que o rodeiam. Às vezes, essas pessoas se transformam em alvo de inveja, que se expressa como crítica ou minimização do que fazem. Inclusive às vezes acabam sendo usadas pelos outros para os seus próprios interesses.

É muito vasta a gama de homens e mulheres que foram os melhores em sua área em algum momento, enquanto ao mesmo tempo tiveram que lutar entre a solidão e a rejeição dos outros. Por que isso ocorre? É possível trabalhar para que isso seja diferente?

Quando ser o melhor envolve obrigações gratuitas

Adriana trabalhava em um dos centros educativos de um grande projeto para crianças abandonadas. Seu desempenho era excelente e, por isso, no fim de seu primeiro ano, lhe deram uma notícia desconcertante: eles lhe dariam apenas mais 30 crianças para que ela pudesse atender. “Você é a melhor, por isso confiamos que você pode fazer isso bem”. Mas eles não lhe pagariam mais, nem lhe dariam incentivos. Como recompensa, ela havia sido castigada.

Isso também acontece dentro de casa. Se o irmão mais velho tem mais habilidades de desenho, é provável que seus pais peçam que ele ajude seus irmãos com os deles. O mesmo pode ocorrer com línguas estrangeiras, matemática ou português. Se o mais novo é mais responsável, passará o resto da sua vida assumindo os deveres que exigem uma maior responsabilidade.

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Vemos isso frequentemente nas mães. Elas trabalham fora de casa, trabalham dentro de casa, têm tudo pronto quando é necessário e se um dia falam alguma coisa, começam a aparecer as reclamações. As pessoas supõem que elas sempre têm que fazer tudo, de forma perfeita e na hora certa. Sua dedicação e seu empenho têm mais exigências como “recompensa“.

A rejeição por ser o melhor

No âmbito do estudo também existem formas curiosas de tratar aquele que é o melhor. As pessoas dizem que eles são “nerds”, e isso é assumido como se fosse uma deficiência, em vez de uma virtude. Se o melhor da classe não ajuda a todos os seus colegas, isso vai gerar uma rejeição profunda. Se ele ajuda, irá se transformar em um idiota usado pelos outros. É como se não importasse por qual ângulo olhássemos, ser o melhor nunca teria uma saída.

As coisas não são diferentes no campo profissional. O que sabe mais, ou o que pode mais, sempre deve estar aí, pronto para prestar sua colaboração aos demais. Caso contrário, passará por antipático e pode acabar sendo descriminado ou isolado.

Isso não acontece apenas com os mais inteligentes ou talentosos. Os mais responsáveis também acabam fazendo o trabalho que corresponde a todo um grupo ou equipe. Os mais compreensivos acabam tentando apagar todos os conflitos ou se convertendo no pano de lágrimas dos outros. Cabe aos mais corajosos assumir as tarefas que exigem mais coragem, como se fossem imunes. E se algum deles não fizer nada disso, será acusado de egoísta.

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Existe uma saída?

Sem dúvida, ser melhor em algo também é um obstáculo. Embora o fato de contar com habilidades, destreza ou conhecimentos superiores à média das pessoas que o rodeiam exija responsabilidades, também é verdade que muitos se aproveitam disso para dar cargas adicionais aos que sabem mais, podem mais ou querem mais.

Na verdade, algumas das pessoas que sempre tentam fazer tudo com excelência, que não evitam o desafio de fazer as coisas, e de fazer da melhor forma possível, acabam se sentindo culpadas se não respondem às exigências dos outros. Elas aprendem a dar por certa a fantasia de que devem cobrir as carências e as limitações dos demais. Assim, acabam se sobrecarregando de responsabilidades e desenvolvendo um nível de autoexigência que pode ser muito destrutivo.

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A saída está em aprender a definir limites. Todo dom que a vida nos dá deve ser compartilhado, mas cada um de nós tem a responsabilidade de compensar de alguma forma os favores que nos fazem, ou as ajudas que nos oferecem. O fato de ser melhor em algo não traz apenas mais obrigações e responsabilidades; isso também será recompensado com gratidão e consideração.

Imagens cortesia de SurrealismBlack, Al Stephert.


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