Felicidade e prazer: como se relacionam?

O prazer e a felicidade são duas dimensões muito distintas. De fato, determinadas formas de obter prazer podem acabar com a nossa felicidade.
Felicidade e prazer: como se relacionam?
Sergio De Dios González

Escrito e verificado por o psicólogo Sergio De Dios González.

Última atualização: 27 janeiro, 2023

Qual é a relação entre felicidade e prazer? Existem tantas definições de felicidade que é impossível enumerá-las. É como se cada um de nós tivéssemos um perfil muito específico no qual existe um conjunto multicolorido de elementos, dando forma a uma estrutura particular. Dentro desse universo, habita o prazer.

Nós poderíamos entender o prazer como a sensação – ou elemento subjetivo – associado ao positivo, à euforia que, muitas vezes, nasce da satisfação de uma necessidade ou desejo. Ou seja, o prazer estaria muito relacionado com o alívio, mas também com a ambição.

Além disso, dentro do prazer encontramos outra particularidade: alguns o definem como a ausência de dor. Não obstante, são muitas as pessoas que parecem pensar o contrário: falamos do sadomasoquismo.

Esta associação é muito mais real do que pensamos. Por exemplo, não é estranho ver a dor expressa no rosto de muitos atletas e, no entanto, essa é uma sensação da qual eles desfrutam. Assim, poderíamos falar sobre isso com um pouco mais de precisão e dizer que o contrário do prazer seria a dor, mas a dor descontrolada, que a pessoa não pode parar ou regular.

Algo muito similar acontece com o medo. Muitas pessoas são capazes de desfrutar dessa emoção quando sabem anteriormente que o que está para acontecer não terá nenhum tipo de consequência para a vida real, como pode ser o caso de um livro ou filme. O prazer nasce, então, de “enganar” o cérebro.

A felicidade

Uma canção da banda La Oreja de Van Gogh diz que a felicidade é uma maquiagem de sorriso amável.  Isso se reflete no fato de que em nossa sociedade, a felicidade talvez tenha passado a ser só mais um objeto de consumo. Um objeto que passou a ter um valor e que exige ser quem na verdade não somos.

Isso acontece ao fazer parte de um ciclo que, talvez, nos adapte à sociedade, mas que também nos desnaturaliza um pouco.

Assim, ganhamos incomodidade trabalhando mais horas e aceitando más condições de trabalho para pagar por atividades que antes nós mesmos fazíamos e nas quais a comunidade ajudava. Estamos falando de fazer comida, limpar a casa ou cuidar dos filhos.

Nesse sentido, alguns estudos dizem que este estado que podemos chamar de felicidade é obtido através do equilíbrio, de uma boa gestão dos desejos, de uma boa organização da pirâmide de necessidades e de um contato social com significado. No entanto, este contato pessoal parece seguir uma norma: quanto menos trabalhoso for, maior a chance de ser significativo.

Traduzindo, um contato social que demande um baixo investimento de recursos seria, por exemplo, uma conversa pelo telefone deitado no sofá. Um contato social que demande um investimento considerável seria aquele no qual temos que nos mover e para o qual, de alguma forma, vamos nos isolar.

Além disso, um estado real de felicidade muda nossa perspectiva de mundo. Nos coloca na posição de fazer a seguinte pergunta a nós mesmos: “O que podemos dar?” em vez de “O que podem nos oferecer?” Isso deixa para trás a dimensão de sermos pessoas necessitadas e nos transforma em pessoas que podem ajudar a satisfazer necessidades.

Felicidade e otimismo

Felicidade e prazer

Talvez uma das diferenças que melhor limitem o espaço entre a felicidade e o prazer seja que este último tem um circuito neuronal muito mais simples (primitivo). Isso propicia, entre outras consequências, que o prazer possa ser muito destrutivo.

Falamos, por exemplo, dos vícios. Pensemos que, de algum modo, o prazer não deixa de reforçar uma forma de cobrir uma necessidade. Por exemplo, fumar quando alguém sente que a ansiedade está crescendo.

Por outro lado, a felicidade parece ser o horizonte que responde à inquietude do ser humano que vai  além da própria adaptação ao meio. Também tem a ver, e muito, com a própria adaptação/aceitação de suas características.

Não se trata de viver por mais tempo ou alcançar um maior sucesso reprodutivo. Trata-se também de prestar atenção em como vivemos ou em como nos reproduzimos. Para falar disso, geralmente acrescentamos o prefixo meta. Por exemplo, ao pensar sobre como pensamos (avaliar a qualidade do nosso pensamento) formamos nosso metapensamento.

Por isso que, em boa medida, sabendo do perigo que o prazer possui, a felicidade se sustenta em boa parte na gestão que fazemos desse prazer – biologicamente, podemos dizer, da liberação e recaptação dos neurotransmissores associados.

Assim, por exemplo, a melhor forma de satisfazer uma necessidade nem sempre é a mais cômoda, rápida e econômica.

Fazer esta mudança é complicado porque no mundo primitivo quase não existia a necessidade de impôr limites a nós mesmos.

Isso requer uma evolução pessoal, assim como evoluíram na nossa sociedade, por exemplo, supermercados e lojas oferecendo vários produtos a preços que nos permitem consumir grandes quantidades.

Dessa forma, foi assim que a felicidade passou a ter um encontro íntimo com o prazer, ao incluir um terceiro elemento. Um autocontrole que impeça que acabemos sendo prisioneiros de um prazer obtido de uma determinada forma, enquanto enterramos nossa própria eudaimonia.


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  • Margot, J.-P. (2007). La felicidad. Praxis Filosófica, (25), 55–80.

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