As feridas do hiper-romantismo

As feridas do hiper-romantismo

Última atualização: 15 agosto, 2016

Quem nunca quis se sentir como uma princesa? Quem não sentiu que seu coração estava realmente sangrando quando um amor vai embora? Quem nunca quis que chegasse o príncipe encantado que parece nunca aparecer? São situações associadas ao hiper-romantismo.

O ser humano possui uma faca de dois gumes que é a fantasia. Graças à fantasia fomos capazes de fazer descobertas, criar maravilhosas histórias, canções, etc.

No entanto, muitas vezes caímos no erro de acreditar em certas ideias imaginárias e dá-las como certas como se fossem reais, quando nunca foram e nunca serão.

A fantasia é ótima para os contos de fadas, mas evidentemente, a vida real está muito longe de se parecer a um conto, e nem precisamos que o seja.

O amor e a fantasia

Atualmente temos um problema com o tema do amor e o hiper-romantismo. Acreditamos que encontrar o amor é um dos objetivos mais importantes de nossa vida porque sem este amor nunca poderemos ser pessoas felizes.

Associamos a felicidade ao amor romântico, ao amor “verdadeiro”, ao “sem você não sou nada.”

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A sociedade e a cultura nos dizem que sem nossa metade da laranja seremos seres incompletos, tristes, condenados à infelicidade e à solidão. E o problema é que nós acreditamos nestas ideias, e por isso sofremos tanto por amor.

É tão intenso o nosso medo de ficarmos sozinhos, de não termos alguém ao nosso lado que nos ame incondicionalmente, assim como nós o amamos, que caímos em certas condutas irracionais e prejudiciais para nós mesmos e também para nossos parceiros.

Em nome do amor somos capazes de abandonar a nós mesmos, de não nos respeitarmos, de fazer coisas que atentem contra a nossa dignidade, e de perder nossa liberdade individual, nossos gostos, nossos sonhos.

De onde vêm as ideias do hiper-romantismo?

Se tentarmos nos lembrar de certos filmes ou livros, nos daremos conta de como os apaixonados eram capazes até de sacrificar a sua própria vida por amor, como se fosse a única fonte de gratificação existente que não podemos não ter.

Desde que somos muito pequenos, vimos como as princesas esperavam ansiosas que um príncipe encantado viesse resgatá-las de uma vida extremamente triste.

Se este príncipe nunca chegasse, elas não poderiam aproveitar a vida sob nenhuma hipótese. Isso nos transmitiu a ideia prejudicial da dependência em um casal, muito característica do hiper-romantismo.

Nas músicas temos outros exemplos muito claros. Quase todas as canções falam de amor romântico, e dizem algo como “devolva-me a vida,” “sem você eu morro,” “se você se vai fico sem ar,” etc.

Não nego que sejam músicas maravilhosas que podemos apreciar, mas insisto que a fantasia deve ter um limite.

“Te amo porque quero amar-te, porque te escolhi e gosto de estar ao teu lado; não porque sejas imprescindível para a minha felicidade. Não preciso de ti, prefiro a ti…”
-Walter Riso-

Não somos nem príncipes nem princesas e não estamos em nenhum conto de fadas. Esta é a vida real e se queremos ser felizes devemos aceitar isso.

O amor não é mais do que um conjunto de reações químicas que um dia, gostemos ou não, deixa de ocorrer. E isso não é bom nem ruim, é normal.

Os sentimentos não duram para sempre, não são eternos como dizem as canções. A figura do amor para sempre formada pelas crenças do hiper-romantismo, inquebrável e perfeito, não existe, e se nos obcecarmos pensando que devemos viver um conto, sofreremos muitíssimo no dia em que algo errado ocorrer em nossa relação.

Juntamente com estas ideias temos muita chance de cair na dependência emocional, nos ciúmes irracionais, na depressão no dia em que formos abandonados.

Nossa mente está nos dizendo que precisamos de alguém para sermos felizes. Não sabemos separar o desejo da necessidade, e por culpa disso ocorrem muitas coisas ruins:

  • Sofreremos muita ansiedade buscando e buscando este alguém que irá nos tirar do “fundo do poço,” o que nos conduzirá a diversas decepções e fracassos quando as coisas não ocorrerem como imaginamos.
  • Quando encontrarmos este alguém, estaremos sempre muito angustiados pela possibilidade de perdê-lo, e também não seremos capazes de desfrutar a relação.

Como devemos agir?

É necessário ser consciente de que ninguém precisa de ninguém para estar bem. Os casais maduros, duradouros e saudáveis não dizem a si mesmos que ou estarão juntos para sempre ou serão um fracasso.

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Eles gostam de estar juntos, se desejam, se amam, mas não precisam um do outro. Se amanhã as coisas não estiverem bem, a vida lhes oferecerá milhares de outras oportunidades.

Este é o verdadeiro amor e isso é o que deveríamos dizer a nós mesmos:

“Te amo mas não preciso de você. Te quero em liberdade, porque gosto de estar com você, porque nos sentimos bem juntos, não porque preciso de alguém ao meu lado, não porque tenho medo da solidão, não porque você me completa, pois eu já sou um ser completo com meus defeitos e virtudes. Tudo bem se você estiver presente ou ausente. Eu apenas te amo.

Eu o amo, mas eu sou a pessoa mais importante para mim mesmo. Darei a você muitas coisas, mas não irei me perder neste processo. Se somos felizes caminhando um ao lado do outro, apoiando-nos e ajudando-nos, ótimo, se não, também não há problema.

Quero beijá-lo a cada despertar e ao nos deitarmos, quero abraçá-lo intensamente, quero construir um futuro ao seu lado, quero ouvir um ‘te amo’ de seus lábios, quero viver junto e aproveitar a vida com você.

Quero, apenas quero… mas não preciso.”


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