Filho âncora, quando os pais amarram emocionalmente uma criança
As crianças precisam de liberdade para conquistar a sua autonomia. Só assim elas estruturam a sua identidade, as suas próprias crenças e as suas opiniões, e isso lhes permite trilhar o caminho da vida adulta. Quando os pais amarram emocionalmente um filho, tornam-se um obstáculo para o seu desenvolvimento, transformando-o em um filho âncora.
Existem pais que, desde a infância dos filhos, começam a conceber o seu destino a partir das suas próprias necessidades. Eles antecipam o futuro e atribuem responsabilidades que não correspondem a eles. Eles veem na criança um refúgio contra a solidão ou uma tábua de salvação contra as perdas da velhice. Eles também podem esperar que um deles cuide de seus irmãos ou dê continuidade a algum tipo de tradição familiar.
Alguns pais acreditam que sua estabilidade emocional ou financeira depende de os filhos morarem com eles. Esses pais são vítimas dos próprios medos e inseguranças e, ao não os superarem, os transmitem aos filhos, para que fiquem com eles. A maioria não está ciente disso, mas eles causam muitos danos.
“Um filho é uma pergunta que fazemos ao destino.”
-José María Pemán-
O mandato no filho âncora
Os pais usam frases invalidantes para manipular seus filhos. Com o tempo, elas se transformam em sentenças. Esse tipo de relacionamento doentio se traduz em um contrato que o filho âncora costuma cumprir.
Com isso, esse filho desiste dos seus próprios planos. Em muitos casos, sacrifica a possibilidade de constituir família, de se formar em um determinado local ou de aceitar uma oportunidade profissional interessante. Os planos que ele busca concretizar sempre incluem os pais: este se torna o requisito fundamental.
O mandato consiste em assumir a responsabilidade pelo bem-estar e felicidade de seus pais, independentemente do custo. As crianças que assumem esse papel devem carregar uma enorme carga emocional e se sentem culpadas só de pensar em levar uma vida independente.
Existem filhos âncora que continuam a viver no que foi a casa de seus pais, “cumprindo” o destino que lhes foi atribuído, mesmo quando não eles existem mais. Em outros casos, os filhos constituem uma família própria, mas os conflitos com os pais decorrentes desta decisão os fazem regredir, se divorciar e regressar à casa em que cresceram.
Consequências relevantes
Os problemas parentais não resolvidos podem estragar toda uma geração de filhos e até mesmo se estender além disso. É bem provável que esses pais tenham sido criados da mesma maneira que hoje procuram “treinar” seus descendentes.
Essa forma de manipulação afetiva exercida pelos pais resulta em filhos frustrados e sem grandes expectativas de vida. Ao usar o filho âncora como uma espécie de muleta, ele está sendo forçado a esquecer a sua própria existência.
Nesse sentido, os filhos reprimem suas necessidades e desejos em favor de um suposto amor. Esse afeto é irracional e neurótico. Em muitos casos, com a morte dos pais, essas crianças se sentirão perdidas por não saberem o que fazer com a sua liberdade e com a sua vida.
A dependência contínua do filho âncora
Em geral, esse tipo de situação pode dar origem a fortes sentimentos de amor e ódio pelos pais. Na verdade, em alguns casos esta situação é fonte de alterações permanentes com reclamações constantes de ambas as partes. Quando o relacionamento persiste, torna-se doentio.
Esse vínculo mútuo restringe a liberdade dos envolvidos e impede a realização dos desejos e metas mais almejados. Da mesma forma, alimenta a insegurança e a baixa autoestima do filho âncora.
Assim, conceber a vida como uma série contínua de sacrifícios com base em um conceito mal compreendido de amor tem consequências. Pode causar sérios problemas no funcionamento psíquico, como fobias ou transtorno obsessivo-compulsivo.
Da mesma forma, a culpa experimentada pela violação do mandato pode desencadear doenças psicossomáticas ou outros tipos de distúrbios. Estes têm repercussões importantes no organismo da pessoa afetada, pois a carga que ela passa a suportar supera as suas capacidades.
O que esperar?
É importante que os filhos tenham uma atitude positiva em relação aos pais, o que não significa que eles tenham o direito de determinar o seu futuro.
Além disso, o que sabemos hoje é que criar filhos responsáveis e independentes tem um efeito favorável na forma como eles acabam contribuindo para o bem-estar dos seus pais. Nestes casos, quando surgir alguma dificuldade, as crianças estarão atentas para colaborar com o melhor das suas habilidades. Além disso, é mais difícil ocorrer o rompimento do relacionamento.
No fim das contas, para a maioria dos pais, não há maior satisfação do que ver seus filhos se sustentando por conta própria. Que sejam felizes com a vida que escolheram, mantendo nela, por sua própria vontade, a presença de quem um dia os viu crescer, lhes permitiu crescer e os encorajou a crescer.
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Chávez, M. A. (2017). Tu hijo, tu espejo (nueva edición): un libro para padres valientes. Grijalbo.