Doenças psicossomáticas: o cérebro pode nos adoecer

A frase "o cérebro pode nos adoecer" faz alusão a um fato: muitas doenças orgânicas têm sua origem em problemas psíquicos não resolvidos.
Doenças psicossomáticas: o cérebro pode nos adoecer
Gema Sánchez Cuevas

Escrito e verificado por a psicóloga Gema Sánchez Cuevas.

Última atualização: 02 janeiro, 2020

A doutora Suzanne O’Sullivan é uma neurologista famosa, autora do livro ‘Isso é coisa da sua cabeça‘. Nessa obra, ela mergulha no desconhecido mundo das doenças psicossomáticas.

As doenças psicossomáticas são conhecidas há muito tempo, mas em pleno século XXI, continuam gerando perguntas e despertando muita incompreensão. Muitos pensam nelas como se fossem simulações. Não têm consciência de que, como diz O’Sullivan, “o cérebro pode nos adoecer”.

As doenças psicossomáticas não são doenças falsas. O que acontece é que seus sintomas são desencadeados por razões mentais.

Portanto, uma dor psicossomática nas pernas é totalmente real, o que acontece é que o problema não está nas pernas. Quem sofre disso, sofre como se realmente houvesse um dano externo. O que acontece é que esse tipo de doença não obedece a uma razão física, e sim a uma condição psíquica. Por isso afirmamos que “o cérebro pode nos adoecer”.

“De noventa doenças, cinquenta são produzidas pela culpa e quarenta pela ignorância”.
-Paolo Mantegazza-

Mulher de costas

As doenças psicossomáticas

O’Sullivan relembra que todas as emoções geram mudanças físicas. Ela usa como exemplo aquilo que sentimos na presença da pessoa que amamos: borboletas no estômago. É uma sensação física originada nos sentimentos e nas emoções.

O mesmo acontece quando, por exemplo, falamos em público. O coração bate mais forte e as pernas tremem.

Nestes exemplos, ninguém duvida da conexão entre emoções e manifestações físicas. Entretanto, quando falamos de doenças psicossomáticas, surgem as dúvidas.

Muitos pensam que o medo pode, sim, causar um tremor nas pernas, mas se negam a reconhecer que esse medo, em certas circunstâncias, possa dar origem a sintomas mais graves.

É uma contradição na qual muitos médicos também caem. Há uma forte tradição que nos leva a separar a mente do corpo e a considerar os fenômenos da mente como “ficções”, e os fenômenos físicos como “reais”.

Se os dois âmbitos fossem separados, não sentiríamos “borboletas no estômago”, nem calafrios diante de situações com uma alta carga emocional.

“O cérebro pode nos adoecer”

Para a própria Suzanne O’Sullivan, foi uma grande surpresa comprovar que o cérebro pode nos adoecer. No começo de sua prática médica como neurologista, ela recebia pacientes com sintomas graves.

Muitos pacientes apresentavam convulsões epilépticas, por exemplo. No entanto, ao pesquisar, ela descobriu que não havia um padrão neurológico que as explicasse.

Muitas vezes se perguntou se estes pacientes estavam fingindo. Com o tempo, descobriu que não. Estas pessoas sofriam de convulsões e epilepsia da mesma forma que aqueles pacientes nos quais era possível identificar uma causa neurológica.

Foi assim que ela entendeu que às vezes a causa de um quadro sintomático se origina na mente, e não no corpo. As manifestações da doença são basicamente as mesmas, o que varia é a origem e, portando, o protocolo de intervenção recomendado.

Cérebro se desintegrando

Um problema generalizado

O’Sullivan conta que muitos de seus pacientes mostravam-se decepcionados, inclusive irritados, quando eram informados de que seu problema era psicossomático. Eles costumavam pedir que os exames fossem repetidos ou buscavam segundas opiniões.

De alguma forma, esta deveria ser uma boa notícia para eles, mas não era assim. Em muitos casos, as pessoas sentiam que estavam sendo consideradas “loucas”.

Neste sentido, parece que somos muito menos hábeis na hora de identificar sintomas emocionais do que somos ao camuflá-los. Assim, esse mal-estar muitas vezes retorna em forma de sintoma físico, que normalmente é de ordem psicossomática.

Então, ao receber o diagnóstico, a pessoa precisa reconhecer aquilo que antes decidiu ignorar. E muitas não estão preparadas para isso ou não acreditam nessa relação.

Há um estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS) segundo o qual uma a cada cinco pessoas possui pelo menos seis sintomas físicos que não podem ser explicados por alguma razão orgânica. Ou seja, tem problemas psicossomáticos.

Outro estudo destaca que, entre os pacientes que estão hospitalizados, pelo menos 30% correspondem a casos de doenças psicossomáticas.

Em muitos casos, o problema continua sendo a resistência de muitos pacientes em aceitar o diagnóstico; seu medo de que exista alguma causa orgânica que não foi notada ou a motivação de simplificar a intervenção, depositando a responsabilidade sobre fármacos ou intervenções cirúrgicas, são duas das principais construções dessa resistência.

Por outro lado, isso é um problema, já que é necessária uma colaboração ativa do paciente para atacar o que está somatizado e produz a sintomatologia.

Em todo caso, o sofrimento é real e, portanto, nosso dever como sociedade é continuar investigando, ao mesmo tempo em que derrubamos muitos mitos que cercam as doenças psicossomáticas.


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  • Bornhauser, N., & Csef, H. (2005). Nuevas enfermedades ¿del alma?: Reflexiones psicosomáticas a propósito de algunas analogías estructurales entre síndrome de fatiga crónica, fibromialgia y sensitividad química múltiple. Revista chilena de neuro-psiquiatría, 43(1), 41-50.


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