Fritz Perls, uma curiosa personalidade na história da psicologia

Fritz Perls, uma curiosa personalidade na história da psicologia

Última atualização: 08 janeiro, 2018

Friedrich Salomon Perls, mais conhecido como Fritz Perls, foi um médico, psiquiatra e psicanalista alemão considerado o pai da Gestalt Terapia. Perls foi um homem contraditório e fascinante, que passou sua vida inteira cercado por intelectuais, debates teóricos e viagens pelo mundo.

Nasceu em Berlim, no dia 8 de julho de 1893, em um gueto judeu. Teve duas irmãs mais velhas, Else e Grete. Seu pai, Nathan, era comerciante de vinhos e frequentemente estava ausente de casa. Sua mãe, Amalia, vinha de uma família da baixa burguesia e influenciou o interesse de Fritz pela arte, que acompanhou toda sua vida.

Durante uma entrevista, Grete descreveu a infância de seu irmão como algo selvagem. Era uma criança difícil, ainda que um bom estudante. Estudou no Mommsen-Gymnasium de Berlim, um centro educativo bastante severo, o qual respirava antissemitismo por todos os corredores. Perls foi expulso quando tinha 13 anos de idade. Como castigo, seu pai o obrigou a trabalhar como aprendiz em uma loja de doces.

A relação de Perls com seu pai sempre foi bastante conflituosa. Em seu diário, ele definiu seu ascendente como um homem hipócrita e de moral contraditória, que odiava a sua mãe e a enganava com outras mulheres. Essa rejeição chegou tão longe que Perls se negou a ir ao funeral de seu pai.

Fritz Perls e seu encontro com a filosofia e a psicanálise

Por iniciativa própria, Fritz Perls retomou seus estudos em um colégio de orientação humanista, o Askaniches Gymnasium. Naquela época conheceu Max Reinhardt, um diretor de teatro que cultivou nele um grande interesse por essa arte, o qual perdurou até a sua morte.

Mais adiante em sua vida, iniciou seus estudos em medicina. Pouco depois teve início a Primeira Guerra Mundial e Perls se alistou como voluntário da Cruz Vermelha. Essa experiência o marcou profundamente, ainda que só tenha vindo a falar dela muitos anos depois em sua biografia “A vida na agonia das trincheiras: horror de viver e horror de morrer”.

Fritz Perls acompanhado

Em 1920 Fritz Perls recebeu seu diploma de médico da Universidade Frederick Wilhelm de Berlim. Logo em seguida se especializou em neuropsiquiatria. Depois, conheceu o filósofo Friedlander, cuja influência viria a ser determinante em sua obra. Em 1923 decidiu viajar para Nova York, mas voltou frustrado porque não obteve permissão para validar seu diploma, já que não sabia falar inglês. Seu mal-estar o levou para a psicanálise com Karen Horney. E esse fato mudou sua vida.

Perls ficou fascinado pela psicanálise e então decidiu tornar-se psicanalista. Teve, no entanto, que se mudar para Frankfurt para ocupar uma vaga de assistente junto a um psiquiatra chamado Kurt Goldstein, que trabalhava com a teoria da psicologia da Gestalt. Lá conheceu Laura Possner, uma estudante que anos mais tarde viria a ser sua esposa, ainda que sua família e sua analista da época, Clara Happel, não concordassem com a relação. Perls tinha 36 anos e Laura somente 24.

Um ano depois começou a trabalhar como analista em Viena, e em 1928 tornou-se terapeuta em tempo integral em Berlim. Entre essa data e 1930, Perls teve contato com a psicanálise de Eugen Harnick e logo depois de Wilheim Reich. Este último havia sido discípulo do próprio Freud, mas havia se distanciado de seus postulados. Boa parte da teoria que depois desenvolveu Perls se inspirou no enfoque de Reich.

O nascimento da Gestalt Terapia

Uma vez que Hitler subiu ao poder, Fritz Perls foi para a Holanda, onde não obteve permissão para trabalhar. Depois de passar grandes dificuldades com sua esposa e sua filha recém-nascida, Ernst Jones o ajudou a conseguir um trabalho como professor de psicanálise em Johannesburgo, na África do Sul. Junto com sua esposa Laura, fundaram lá o Instituto Sul Africano de Psicanálise. Em 1936 foi convidado para um congresso e Praga, e lá expôs algumas de suas ideias, que causaram grande revolta. Isso o afetou de tal maneira que ele acabou se distanciando da psicanálise tradicional.

União da humanidade

Com a ajuda de sua esposa, Perls começou a dar forma a sua própria teoria. Em 1942 mudou-se para Nova York e publicou seu primeiro livro: “Eu, fome e agressão. Uma revisão da teoria e do método de Freud”. Quatro anos mais tarde fundou “O grupo dos sete” com outros intelectuais. Em 1951 foi lançada o que muitos consideram a bíblia dessa nova teoria, no título original: “Gestalt Terapia: excitação e crescimento da personalidade humana” .

A nova obra nasceu graças à ajuda do poeta Paul Goodman, que deu forma literária a várias de suas páginas. Trata-se de um texto completo que faz uso da teoria da Psicologia da Gestalt, da psicanálise, da fenomenologia, do existencialismo e do pragmatismo americano. Mais adiante Perls também adicionaria alguns postulados do budismo, após uma viagem ao Japão.

A Gestalt Terapia a partir daí teve um futuro contraditório. Em 1956 Perls se separou de Laura, e os dois levaram a teoria adiante para caminhos diferentes. Enquanto Laura e Paul Goodman se mantiveram totalmente fiéis aos princípios iniciais, Perls se afastou desse ponto de vista e acabou incorporando princípios do Zen, assim como ensinamentos dos kibbutz israelenses. Em seus últimos dias, Fritz se comportava mais como um guru do que como um terapeuta. Morreu de um infarte, depois de uma longa viagem.

A teoria da  Gestalt Terapia

De forma bastante simples e didática, poderíamos afirmar que a Gestalt Terapia é uma corrente que tem como aspecto principal a forma como os sujeitos experimentam a realidade, sendo menos importante os fatos experimentados. Não há um enfoque no que ocorre com cada pessoa, mas sim na forma como essa pessoa percebe o que aconteceu. Em outras palavras, enfatiza os processos, e não os conteúdos. Este enfoque é parte da psicologia humanista e sustenta três princípios fundamentais:

Borboleta voando
  • A ênfase no aqui e agora. Para a Gestalt Terapia, os seres humanos não percebem o passado, o presente e o futuro como realidades separadas. Pelo contrário, os três tempos formam uma unidade que só existe no presente. Tanto o passado como o futuro são projeções do presente. Por isso, o que deve ser feito e trabalhado é sempre sobre o “aqui e agora”, de modo que seja encontrada uma maneira de resolver as dificuldades e alcançar uma vida mais repleta de autorrealização.
  • A tomada de consciência. Para alcançar um nível maior de bem-estar é necessário olhar minuciosamente para si mesmo. Essa é a base para que possam ser desenhadas novas maneiras de olhar e perceber a experiência que se vive no aqui e agora. É um caminho que aposta na mudança de perspectiva, passando pela que temos agora e por outros modos de olhar para que possa ser formada uma nova visão sobre as experiências pessoais.
  • Assumir a responsabilidade. O processo de conscientização deve levar a um momento em que seja possível assumir as consequências de todas as nossas ações. Os erros devem enfim ser aceitos, e desse modo se torna possível a avaliação dos riscos em nossa forma de agir, gerando assim autonomia. Desse modo é possível dar uma direção para a nossa existência, com mais liberdade e significado.

Por último, a Gestalt Terapia de Fritz Perls propõe um processo de intervenção sobre o indivíduo, pelo indivíduo. Destinado a que esse consiga rever e elaborar novamente suas representações sobre a realidade, e consiga construir uma vida mais autônoma e centrada em suas próprias potencialidades. Essa teoria tem aplicação em muitos campos: como o clínico, o campo social e inclusive no campo de trabalho.

Bibliografia:

Biografía de Fritz Perls. (2017). Fritzgestalt.com.

Biografía de Friedrich Salomon Perls. (2017). Psicomundo.org.

Chicón, M. (2017). Fritz Perls: Biografía y Teorías Principales – Lifeder. Lifeder.

Sarrió, C. (2017). Fritz Perls: Inicios de la Terapia Gestalt – Parte 1. Terapia Gestalt Valencia Clotilde Sarrió.


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