Homens e mulheres machistas: um problema que deve ser solucionado entre todos
Os homens e as mulheres machistas dão forma e perpetuam uma sociedade retrógrada e injusta. Essas atitudes, muitas vezes flagrantes ou camufladas nos micromachismos clássicos, são baseadas em um autoritarismo tão enferrujado quanto prejudicial. Resolver esse esquema e afastá-lo das instituições e da mentalidade das pessoas é, sem dúvida, responsabilidade de todos.
Victor Hugo dizia que a primeira igualdade é a equidade. Quase dois séculos se passaram desde este pensamento e outros tantos desde que Mary Wollstonecraft, Virginia Woolf, Simone de Beauvoir ou Emilia Pardo Bazán deram seus testemunhos para “nos despertar” e nos permitir avançar neste mesmo tema. Em igualdade e liberdade. No entanto, muitas vezes parece que cruzamos apenas a linha de partida ao analisar as conquistas que alcançamos.
Os Estados Unidos, por exemplo, está liderado por um homem (eleito por voto popular) com opinião muito clara e enfática sobre o sexo feminino: “As mulheres são, em essência, objetos esteticamente agradáveis”. Vivemos em uma sociedade em que qualquer cenário é ideal para sexualizar a mulher e colocá-la numa situação de inferioridade. Além disso, estamos num mundo onde as leis continuam exalando com muita frequência a mesma essência machista, autoritária e patriarcal que persiste geração após geração. Legislatura após legislatura.
O nosso sistema tem grandes deficiências e preconceitos óbvios, nós sabemos disso. Renovar esse substrato psicológico, social e político não é algo que pode ser feito de um dia para o outro. Para conseguir isso, é preciso mudar mentalidades, e algo assim só pode ser alcançado de uma forma: com a determinação e colaboração de todos, ou pelo menos de uma boa maioria.
Homens e mulheres machistas, um problema de todos
Podemos encontrar homens e mulheres machistas todos os dias em nosso dia a dia. Eles estão em nossas famílias, em nossos empregos e entre os nossos amigos. Além disso, pode até ser que sejamos um deles. Uma daquelas pessoas que praticam e perpetuam o machismo sem perceber.
As nossas ações, comentários ou formas de responder podem conter em seu “DNA” manifestações claramente micromachistas. São sequelas da nossa educação. Elas também refletem a influência de uma cultura que nos molda de forma silenciosa, persistente e estudada. Além disso, pode ser que denunciemos de forma aberta a desigualdade e a violência contra a mulher; no entanto, a maioria das pessoas pode cair nas armadilhas do machismo no momento em que menos espera.
Portanto, devemos ter um aspecto muito claro. Os homens e as mulheres machistas não vêm ao mundo com essas atitudes. Não é algo inato nem o resultado de uma conexão cerebral que em um dado momento nos leva a ser e a agir dessa maneira. Assim, da mesma forma como aprendemos a ler, a andar de bicicleta ou a memorizar os verbos irregulares do inglês, as pessoas também “aprendem” a ser machistas. Nós apenas seguimos um modelo e o interiorizamos.
O machismo que não se vê, mas que se absorve
Os homens e as mulheres machistas são o resultado desse esquema de supremacia masculina que foram inalando, absorvendo e integrando em seu interior ao longo da infância e adolescência. Sabe-se, por exemplo, que os estereótipos ligados ao gênero são assumidos muito cedo. A revista Science demonstrou há pouco tempo que as meninas começam a se sentir “menos brilhantes” do que os meninos ao seis anos de idade.
O fato de pensarem que são menos inteligentes se deve ao contexto em que criamos as nossas crianças. É o resultado do que elas veem em seu dia a dia e daquilo que lhes transmitimos. Os meninos, por outro lado, são educados (muitas vezes) com base na afirmação da individualidade. Somos confrontados com esse traço abrangente de machismo onde prevalece o senso de força e superioridade. É uma casca que deve ser mantida a todo custo, onde as únicas emoções legítimas e permissíveis no clube da masculinidade são a autoridade e a libido sexual.
Livrar-se do corpete do machismo
Não é fácil se livrar do corpete da masculinidade imperante e dominante. No entanto, movimentos como o #MeToo têm dado visibilidade ao que vem acontecendo nas sombras há muitos anos. Por um lado, esses fenômenos virais atendem a uma necessidade. Eles dão apoio social às mulheres, encorajam-nas a denunciar, a ter coragem de falar, a se empoderar, a saber que não estão sozinhas.
O segundo aspecto que está sendo alcançado é igualmente interessante. Estão se despertando consciências, denunciando injustiças para dar presença a uma realidade que sempre existiu. A discriminação, violência contra as mulheres, sexualização ou falta de sensibilidade dos nossos códigos legais são fatos que estão se tornando evidentes. Os homens e as mulheres machistas estão aí, não há dúvidas, mas as vozes que colocam suas atitudes e comportamentos em evidência estão crescendo.
Todos iremos ganhar se nos livrarmos do corpete do machismo, iremos respirar melhor e teremos uma maior liberdade. Assim, e mesmo que haja quem pense que há bastante igualdade no nosso dia a dia, basta olhar à nossa volta com um pouco mais de empatia para perceber que não é bem assim. As atitudes machistas estão em todos os lados. Nas palavras que um homem diz à sua parceira. Está na forma como uma mãe educa seu filho. Na publicidade. Naquela música que dançamos, mas em cuja letra nunca prestamos atenção…
Para concluir, vamos lembrar que a mudança só será possível se todos tomarmos consciência desse péssimo substrato patriarcal. Além disso, não basta apenas ser capaz de sentir, ver ou cheirar. A consciência não serve de nada se não for acompanhada da ação, se não formos capazes de criar uma sociedade baseada na equidade, respeito, liberdade e em uma justiça real.