Impacto do transtorno obsessivo-compulsivo nas relações interpessoais

Você já se perguntou alguma vez como são as relações entre a pessoa que tem TOC e sua família? Você acha que essa condição complica ter um parceiro? Conheça toda a informação neste artigo.
Impacto do transtorno obsessivo-compulsivo nas relações interpessoais
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 30 maio, 2023

Nem sempre se fala nisso, mas o impacto do transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) na família, no parceiro e até nas relações de amizade pode ser muito problemático. Embora essa condição se enquadre em um espectro e nem todos os pacientes sejam iguais, é comum que surjam desafios notáveis, capazes de produzir grande deterioração psicossocial.

Medo, ansiedade e ciclos de pensamento intrusivos e persistentes são comuns no TOC. Quem a sofre põe à prova a paciência do seu meio, que tem de conviver com seus pensamentos obsessivos e/ou comportamentos ritualizados, identificando-os como fonte indubitável de sofrimento.

Nem todos compreendem a que se deve este singular padrão de comportamento e, à incompreensão, junta-se a rejeição. Continue a leitura e mergulhe um pouco mais nessa realidade.

As dificuldades de uma pessoa com TOC em seu ambiente próximo sempre dependerão do grau de sua condição clínica. Quem apresenta o transtorno focado, sobretudo, no campo da saúde ou da limpeza, sofre mais nas relações cotidianas.

Impacto do transtorno obsessivo-compulsivo no ambiente social

Mulher estressada no trabalho pelo impacto do transtorno obsessivo-compulsivo nos relacionamentos
A pessoa com transtorno obsessivo-compulsivo teme ser julgada ou criticada por conhecidos ou colegas de trabalho.

Existem grandes diferenças individuais em como o TOC afeta a família, o parceiro ou os laços de amizade. Porém, são muitos os pacientes que chegam à consulta cansados do desgaste que suas rotinas causam nos outros, tornando-se fonte de conflito. A deterioração social de quem mostra essa realidade psicológica pode ser imensa.

Assim, em um estudo dos médicos Keith D. Renshaw e Catherine M. Caska, publicado pela Oxford Academic, nota-se como é comum alguém com TOC ter problemas significativos a nível social e interpessoal. Embora esses conflitos possam gerar sofrimento na relação com todos os círculos, a família se destaca pela sua frequência.

Esse sofrimento tem a ver com a impotência, já que as pessoas que querem ajudar quem sofre de TOC não conseguem fazê-lo de forma eficaz. A psicoeducação, nesses casos, é fundamental em ambas as esferas, tanto no paciente quanto no seu ambiente. Veja abaixo como o TOC afeta diferentes esferas sociais.

1. Impacto na família

O impacto do transtorno obsessivo-compulsivo na família costuma ser mais complexo do que se acredita. É, em primeiro lugar, porque esta condição tende a ser mal diagnosticada. De fato, quase 50% dos casos são detectados erroneamente ou até mesmo recebem tratamento inadequado (Glazier et al., 2013, 2015; Perez et al., 2022 ).

  • Isso se traduz em um círculo fechado sofrendo por não saber como ajudar um parente que lida com uma doença mental.
  • Os pacientes sofrem, assim como pais, mães ou irmãos que não entendem o comportamento daquele familiar com TOC.
  • O entorno realiza padrões inadequados, como criticar os rituais da desordem e ridicularizar os comportamentos ou preocupações.
  • A pessoa com transtorno obsessivo-compulsivo, sentindo-se incompreendida, eleva ainda mais seus pensamentos ansiosos e angustiados.
  • Muitas vezes esses pacientes envolvem seus familiares para que também façam parte de seus rituais. É o que se chama de acomodação familiar e consiste em modificar rotinas para permitir que a pessoa com TOC integre seus comportamentos compulsivos.

Muitas famílias acabam se acomodando aos rituais compulsivos do paciente com TOC, para não contrariá-lo e não lhe causar mais estresse ou por acreditarem que é um hábito passageiro.

2. Impacto em amigos, conhecidos e colegas de trabalho

Pessoas com transtorno obsessivo-compulsivo geralmente apresentam baixa autoestima. A esta característica acrescenta-se alguma depressão encoberta, fruto do peso dos seus medos, dos seus pensamentos obsessivos não tratados. Tudo isso delineia uma anatomia psicológica repleta de dificuldades na hora de construir relacionamentos sociais saudáveis.

  • Sentem-se discriminadas por conhecidos ou colegas.
  • Elas sofrem de alta insegurança em suas interações diárias com conhecidos e colegas de trabalho.
  • Elas são condicionados pelo sentimento de vergonha. Eles se preocupam em ser julgados, destacados ou ridicularizados por suas obsessões ou rituais.
  • É difícil para elas manter amizades. Frequentemente orbitam entre a necessidade de proximidade e validação dos outros com o desejo de isolamento.
  • Elas também têm dificuldade em manter empregos. É difícil para elas serem pontuais e produtivas; temem ser apontados ou estigmatizados por seus chefes ou colegas, devido à sua conduta.
  • Muitas pessoas com TOC sofrem em silêncio por não conseguirem se integrar em seus ambientes sociais, por não agir, responder e se comportar de maneira eficaz como os outros.

3. TOC e relacionamentos afetivos

O impacto do transtorno obsessivo-compulsivo nos relacionamentos afetivos costuma ser problemático. A pessoa com TOC duvida de qualquer vínculo afetivo, por mais sólido que seja. Ela duvida disso em sua mente repetidamente e é incapaz de desfrutar do amor.

  • Elas são ainda definidos por uma combinação complexa de apego ansioso e evitativo. Ou seja, anseiam por reforço constante da pessoa amada, mas, por sua vez, o medo de serem abandonados os leva a evitar e se distanciar.
  • Esse comportamento caótico esgota seus parceiros e os abandonos e separações são frequentes. Tal cenário causa uma ferida atrás da outra, o que encoraja ainda mais o padrão de medo, ansiedade e pensamentos ruminantes.
  • Muitas pessoas com transtorno obsessivo-compulsivo desenvolvem «TOC de amor relacional». Nesta condição o companheiro ocupa todo o seu tempo e obsessão. Aparecem o medo do abandono e a necessidade persistente e autodestrutiva de proporcionar ao outro infinitos sinais de afeto.

A pessoa com “TOC amoroso ou relacional” não consegue manter um emprego ou focar em outra área que não seja a pessoa amada. A obsessão é combinada com o medo do abandono e com comportamentos rituais para liberar essa ansiedade.

Amigo apoiando outro simbolizando o impacto do transtorno obsessivo-compulsivo nos relacionamentos
Se você conhece alguém com TOC, para ajudá-lo, a primeira coisa é saber em que consiste o transtorno.

Como ajudar alguém que você conhece com transtorno obsessivo-compulsivo?

Como você pode ajudar se for familiar, companheiro, amigo ou conhecido? O mais importante é saber em que consiste esse distúrbio. A psicoeducação no TOC contribui para que a sociedade tenha uma visão mais sensível dessa realidade. Além disso, detalha algumas diretrizes de suporte nesses casos.

Deixar espaço para a preocupação sem reforçar obsessões

Há famílias e casais que atuam como reforçadores dos rituais. Por exemplo, ajudar aquele ente querido com TOC a classificar os alimentos por cor. Você não pode acomodar seu padrão compulsivo, nem mudar suas rotinas para eles. O melhor a fazer é dar-lhes espaço para falar sobre seus medos e obsessões, mas sem nunca facilitar seus rituais.

Não permitir que tenha comportamentos evasivos

Aquele amigo ou conhecido com TOC que alguém tem, pode estar evitando cada vez mais responsabilidades e tarefas simples. A pessoa com transtorno obsessivo-compulsivo é definida pelo comportamento de evitação que alimenta sua ansiedade. Não facilite a vida dele nesse sentido, raciocine com essa pessoa e seja solidário para que ela não caia nesse loop persistente de evasão.

O TOC é tratado. Incentive-o a procurar ajuda especializada

O impacto do transtorno obsessivo-compulsivo nas relações interpessoais pode ser imenso. Isso leva a pessoa a um estado de grande esgotamento psicossocial no qual aparecem outras comorbidades como a depressão. Se você tem um familiar, companheiro ou conhecido com TOC, oriente-o a pedir a ajuda de um profissional.

A terapia comportamental de exposição com prevenção de resposta é muito eficaz no tratamento dessa condição. Trata-se de um modelo que, segundo um estudo da Northwestern University, possui boas evidências científicas; torna mais fácil para a pessoa entender o distúrbio e reduzir sua ansiedade para evitar compulsões ou rituais.

É uma jornada terapêutica para deixar de lado muitos medos e moldar uma abordagem mental mais saudável. Todos merecem construir relacionamentos felizes e gratificantes; seja aquela mão amiga que conduz um ente querido para o bem-estar.


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