O impacto psicológico da desigualdade

O impacto psicológico da desigualdade
Roberto Muelas Lobato

Escrito e verificado por o psicólogo Roberto Muelas Lobato.

Última atualização: 27 janeiro, 2023

A desigualdade é um fenômeno muito presente na realidade atual. Uns têm muito e outros têm pouco, o que se aplica tanto ao dinheiro quanto às oportunidades. Evidentemente, isso afeta nossos estilos de vida assim como a qualidade de vida que levamos. Mas os efeitos da desigualdade não param por aí, existem também efeitos psicológicos.

No contexto atual, caracterizado pelas dificuldades e pela instabilidade econômica, as diferenças entre as classes sociais tendem a crescer. Deste modo, temos três classes bem marcadas: os ricos que possuem quase tudo, uma classe média com pouco capital, se a compararmos aos ricos, e os pobres que não têm nada. De modo conjunto, a economia e a classe social de pertencimento vão produzir os efeitos psicológicos que relatamos a seguir.

Desigualdade social

Desigualdades cotidianas

A classe social à qual pertencemos influencia a forma como percebemos a realidade, como nos sentimos e como nos comportamos.

As pessoas de classe baixa vão perceber que os eventos que acontecem ao seu redor dependem de forças externas que escapam de seu controle. Estas pessoas costumam ter mais empatia e compaixão, têm comportamentos altruístas ou, em outras palavras, realizam mais ações positivas para com os outros sem ganhar nada em troca. Tudo isso em comparação com a classe alta.

Por outro lado está a economia, o dinheiro. A diferença entre a quantidade de dinheiro que os mais ricos e os mais pobres possuem vai determinar a desigualdade econômica de uma sociedade.

Desta forma, se em uma sociedade os ricos tiverem vinte vezes mais dinheiro que os pobres e em outra eles tiverem mil vezes mais, a primeira sociedade terá menos desigualdade econômica que a segunda. Assim, as pessoas de sociedades mais desiguais costumam ser mais desconfiadas, competir mais pelos recursos econômicos e estar a favor de que existam desigualdades econômicas.

Desigualdade de classe social

Todos nós crescemos em uma determinada classe social, e a maioria sempre vai viver em uma classe social muito similar a qual cresceu. Por essa razão, desenvolvemos uma forma de pensar, sentir e agir muito similar às pessoas que nos rodeiam. Isso, por sua vez, determina como nos relacionamos com outras pessoas.

As pessoas de classe social baixa costumam viver em ambientes nos quais existe muita incerteza, nos quais sua vulnerabilidade é alta e as ameaças são importantes e frequentes. Isso as leva a perceber que as suas ações e as oportunidades que têm não dependem delas, mas sim de elementos externos que não podem controlar. Conjuntamente, são mais sensíveis ao contexto.

As pessoas de classe alta têm mais recursos econômicos e sua hierarquia social é mais alta. Vivem em sociedades com alta segurança, mais liberdade de escolha e que se caracterizam pela estabilidade. Por isso, estas pessoas aprendem a perceber que elas têm a capacidade de influenciar o contexto e, diferentemente das pessoas de classe baixa, tornam-se mais sensíveis às opiniões de outras pessoas.

Embora sejam as pessoas de classe baixa as que desenvolvem maior empatia, as de classe alta são mais precisas na hora de identificar as emoções que as pessoas com as quais interagem sentem (empatia cognitiva).

Coeficiente de Gini: índice de desigualdade

Coeficiente de Gini: índice de desigualdade

Desigualdade econômica

Compreende-se que a desigualdade econômica é uma consequência da forma como os recursos são distribuídos em uma sociedade. A distribuição pode ser mais igualitária ou menos, mais desigual. Como pode ser entendido de forma simples, as sociedades desiguais apresentam mais problemas para aqueles que têm menos.

Alguns destes problemas são de saúde, obesidade, gestações não desejadas, abuso de drogas e, além disso, apresentam mais crimes. No entanto, também existe outro tipo de problema: os psicológicos.

As pessoas que vivem em sociedades mais desiguais tendem a ser mais desconfiadas. Por isso, também são mais desagradáveis com os demais e participam menos em atividades sociais. Existe uma menor interação entre as pessoas, sobretudo quando vivem em bairros diferentes.

Por outro lado, há mais competitividade nas sociedades mais desiguais. Isso faz com que as pessoas experimentem mais sentimentos de ansiedade ao serem menosprezadas, principalmente aquelas que têm um status mais baixo, mesmo que as pessoas também tendam a valorizar a si mesmas de forma mais positiva para evitar que isso aconteça.

Definitivamente, as sociedades menos desiguais apresentam-se como melhores contextos nos quais viver. Os benefícios, tanto materiais quanto psicológicos, são muito maiores neste tipo de sociedade. Além disso, nessas sociedades as classes sociais são mais similares.

E, como se fosse pouco, quanto maior é a desigualdade social em um país, mais provável é que seus habitantes prefiram uma sociedade mais desigual ou se preocupem menos com a desigualdade.


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