Por que o inconsciente coletivo de Carl Jung deveria nos interessar?

Por que o inconsciente coletivo de Carl Jung deveria nos interessar?
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 15 novembro, 2021

Sensações, pensamentos, memórias, rituais, mitos… A humanidade partilha elementos comuns que, segundo a teoria do inconsciente coletivo de Carl Jung, configuram uma espécie de herança psíquica. Estaríamos, portanto, frente a um “baú” de significados que herdamos como grupo social e que, de algum modo e segundo essa teoria, afeta o nosso comportamento e as nossas emoções.

Todos já ouvimos falar dessa contribuição de Jung ao mundo da filosofia e da psicologia no início do século XX. A mesma que motivou sua ruptura com a teoria psicanalítica e que, de algum modo, o distanciou ainda mais de Sigmund Freud. Assim, enquanto para este último o inconsciente era apenas a parte da mente onde guardamos todas as experiências que um dia foram conscientes e que depois foram reprimidas ou esquecidas, Carl Jung foi muito além e transcendeu o plano individual.

“O pêndulo da mente se alterna entre perceber e não perceber, e não entre certo e errado”.
-Carl Jung-

Esse psiquiatra, psicólogo e ensaísta não via o inconsciente como uma manifestação pessoal do próprio indivíduo. Pelo contrário, em sua prática clínica e em sua própria experiência, ele intuía uma espécie de consciência universal muito mais profunda. O inconsciente coletivo seria, na verdade, como a noite cósmica ou o caos primordial do qual emergem os arquétipos e a herança psíquica que todos compartilhamos como humanidade.

Poucas teorias foram tão polêmicas dentro do mundo da psicologia. O pensamento de Jung constitui uma das primeiras tentativas de revelar os mecanismos que agem abaixo do nosso nível de consciência sobre nossos pensamentos e condutas.

Inconsciente coletivo de Carl Jung

A teoria do inconsciente coletivo de Carl Jung tem alguma utilidade prática?

O próprio Carl Jung disse uma vez que a teoria do inconsciente coletivo é uma dessas ideias que, por ser transcendente e importante, projeta a sensação de ser absurda. No entanto, quando nos aprofundamos nela, começamos a encontrar elementos familiares e até reveladores.

Falamos de uma das pedras angulares do pensamento de Jung. No entanto, ao mesmo tempo, também foi origem de muitos de seus problemas, porque assim como é explicado em seus próprios livros, ele passou metade da vida defendendo essa noção do inconsciente das vozes que o criticavam por não ter dado forma ao tema através do método científico.

Tendo chegado a esse ponto, muitos se perguntarão o que realmente é o inconsciente coletivo e qual utilidade ele tem. Para entender esse conceito de forma simples, vamos analisar uma analogia. O inconsciente coletivo de Carl Jung pode ser entendido como uma base de dados herdada. Como uma nuvem de informação na qual se armazena a essência da nossa experiência como humanidade e que todos teríamos no inconsciente.

Ao mesmo tempo, esse inconsciente coletivo seria formado por certos elementos: os arquétipos. Esses fenômenos psíquicos são como unidades de conhecimento, imagens mentais e pensamentos que todos temos sobre o que nos envolve e que emergem de forma instintiva. Um exemplo disso seria a “maternidade” e o significado que tem para nós, a “persona”, outro arquétipo entendido como essa imagem de nós mesmos que queremos compartilhar com os demais, a “sombra”, ou aquilo que, pelo contrário, desejamos esconder e, até mesmo, reprimir para nós mesmos.

O inconsciente coletivo de Carl Jung

Arquétipos, emoções e finalidade da teoria de Carl Jung

Sabendo disso e retomando a pergunta antes colocada sobre a utilidade dessa teoria, é importante fazer a seguinte reflexão. O inconsciente coletivo de Carl Jung nos propõe enquadrar um fato. Nenhum de nós se desenvolve de forma isolada e separada desse envoltório chamado sociedade. Somos engrenagens de uma máquina cultural, de uma sofisticada entidade que nos transmite esquemas, que nos ensina significados que herdamos uns dos outros.

Desse modo, esses arquétipos anteriormente citados nos recordam muitos desses padrões emocionais que todos temos. Quando chegamos ao mundo, construímos um vínculo com nossas mães e, ao mesmo tempo, à medida que desenvolvemos nossa identidade, queremos que os outros nos valorizem e nos apreciem por ela, enquanto preferimos esconder o que não nos agrada ou o que nos incomoda.

A teoria de Carl Jung e sua proposta sobre o inconsciente coletivo refletem, na verdade, muitos de nossos instintos, de nossas pulsões mais profundas como seres humanos: aí estão o amor, o medo, a projeção social, o sexo, a sabedoria, o bem e o mal, etc. Assim, um dos objetivos do psicólogo suíço era conseguir que as pessoas construíssem um “eu” autêntico e saudável, no qual todas essas energias, no qual todos os arquétipos, estivessem em harmonia.

Ao mesmo tempo, um aspecto não menos interessante sobre o inconsciente coletivo de Carl Jung é que, assim como ele explicou, essa energia psíquica vai mudando com o tempo. Em cada geração há variações culturais, sociológicas e ambientais. Tudo isso teria um impacto em nossa mente e nos estratos inconscientes nos quais novos arquétipos vão se formando.


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