Kufungisisa e o perigo de pensar excessivamente

Kufungisisa e o perigo de pensar excessivamente
Sergio De Dios González

Revisado e aprovado por o psicólogo Sergio De Dios González.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

No Zimbábue, as tribos locais têm uma expressão que resume com perfeição a maioria dos problemas psicológicos modernos. Trata-se da palavra kugungisisa, que poderia ser traduzida literalmente como “pensar excessivamente”, seja sobre os problemas da vida atual ou sobre acontecimentos traumáticos do passado.

Entre os Xonas, um dos povos dessa região, a tendência de dar muitas voltas na cabeça é vista como a causa de mal-estar. Atribui-se a esse comportamento problemas físicos e psicológicos. Assim, por exemplo, os nativos acreditam que pensar excessivamente pode provocar depressão ou ansiedade, mas também outros males relacionados ao corpo, como cansaço e dor de cabeça.

No entanto, há alguma verdade por trás do conceito de kufungisisa? É possível que pensar muito cause problemas? Nesse artigo, veremos a resposta.

Kufungisisa: quando pensar excessivamente nos prejudica

Ao longo da história, o ser humano tem se orgulhado de sua capacidade de refletir. Ao contrário de outros animais que se guiam pelo instituo, nós podemos pensar sobre o que acontece conosco. Contudo, essa capacidade é, na verdade, uma faca de dois gumes.

Pensamentos obsessivos

O resto das espécies não tem a capacidade de se sentir tão mal como nós temos. E, por mais contraintuitivo que pareça, é exatamente nossa habilidade de refletir que também nos traz vários tipos de problemas.

A tribo Xona não é o único grupo que evidenciou essa questão com seu conceito de kufungisisa. Pelo contrário, a base da psicologia moderna se encontra justamente nessa ideia. A partir do aparecimento da ciência cognitiva, o estudo da mente vem revelando que o que faz com que nos sintamos mal não é o que nos acontece, mas sim o que pensamos sobre isso e como reagimos.

Albert Ellis, o pai da terapia racional emotiva, tinha isso muito certo para si. O que nos afeta não é o que nos acontece, mas sim o que dizemos sobre o que nos acontece. No entanto, como é possível que nossa mente nos faça sentir mal?

Entendendo o papel do nosso cérebro

Os humanos se desenvolveram em um ambiente extremamente hostil. Apesar de agora vivermos com abundância, nossos cérebros continuam se comportando como se estivéssemos no Paleolítico. Por isso, muitas de nossas funções mentais se tornaram obsoletas hoje em dia.

Uma delas é a maneira como processamos a informação. Por nossos antepassados estarem sempre rodeados de perigos, era fundamental que considerassem todos os aspectos negativos e ameaçadores de suas vidas. Somente dessa forma poderiam se defender de animais selvagens, solucionar a escassez de comida ou procurar refúgio em momentos de necessidade.

Devido à maneira como a evolução funciona, nosso cérebro continua funcionando da mesma forma. O sistema de ativação reticular (SAR) é responsável por colocar nossa atenção em tudo que pode dar errado. Por isso, tendemos a nos concentrar no negativo.

Como os Xona sabiam ao descrever a ideia de kufungisisa, é essa forma de ver o mundo como algo hostil que nos faz sentir mal. No entanto, hoje em dia, dar muitas voltas nas coisas somente nos leva a nos preocupar em excesso, desperdiçar tempo e nos inundar de desconforto.

Como parar de pensar tanto

O papel do pensamento em nosso bem-estar é tão importante que quase todas as terapias psicológicas se concentram em mudar a nossa forma de ver o mundo. Nesse sentido, existem basicamente duas abordagens que foram transmitidas por milhares de anos:

  • Modificar o que dizemos sobre o que nos acontece
  • Viver no presente

Vejamos cada uma delas.

Mulher com dor de cabeça

1- Modificar nossos pensamentos

A primeira resposta ao mal-estar causado por pensar excessivamente é, simplesmente, modificar o que dizemos a nós mesmos. Segundo correntes como o estoicismo, o que nos acontece quase nunca tem importância. A psicologia cognitiva moderna recorre a essa ideia para nos ensinar a lidar com as coisas com mais perspectiva.

Segundo essas correntes, quase nada do que acontece é tão terrível. Se conseguirmos ter essa ideia em mente, grande parte do nosso mal-estar simplesmente se dissolverá. Assim, por exemplo, preocupar-se não teria sentido. Afinal de contas, aconteça o que acontecer, podemos ficar bem.

2- Viver o presente

Filosofias ancestrais como o budismo e correntes moderas como o mindfulness se baseiam na mesma ideia: a base do sofrimento é o pensamento. Esse é o mesmo conceito presente no kufungisisa. Para todos os pensadores que seguem essas formas de ver o mundo, a chave seria, portanto, conseguir silenciar a nossa mente.

Certamente, isso não é algo simples. Entretanto, com práticas como a meditação e a ioga, podemos conseguir. A ciência tem mostrado que silenciar nossa mente tem efeitos muito benéficos em nossa saúde física e mental.

A ideia do kufungisisa, ou de que pensar demais gera desconforto, é compartilhada por quase todas as culturas da história. Com um pouco de esforço, todos podemos aprender a evitar esse problema. Porém, se você acha que precisa de ajuda, não hesite em procurar um profissional de psicologia. Com a sua orientação, o caminho para a liberdade mental será muito mais simples de ser seguido.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.