O lado sombrio da inteligência emocional

Inteligência emocional é um conceito relativamente moderno. Tão estudado quanto apreciado nos últimos anos, hoje investigaremos o seu lado sombrio.
O lado sombrio da inteligência emocional
María Vélez

Escrito e verificado por a psicóloga María Vélez.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

Você já parou para pensar no lado sombrio da inteligência emocional? O conceito de inteligência emocional foi cunhado em 1990 por Salovey e Mayer, embora mais tarde tenha sido popularizado por um livro escrito por Daniel Goleman. Essa habilidade foi reconhecida como uma capacidade crucial para alcançar o sucesso em diferentes níveis, tanto acadêmico quanto profissional e pessoal.

O livro que Goleman publicou se tornou uma referência. Assim, o conceito de inteligência emocional se espalhou pelo mundo em teorias, palestras, estudos e debates. Em 2002, a UNESCO o incluiu em programas de educação para 140 países como uma peça essencial da aprendizagem emocional.

Daniel Goleman

O que é inteligência emocional?

As primeiras definições de inteligência se referiam às habilidades cognitivas, deixando de lado as emocionais. Posteriormente, surgiram teorias propondo inteligências múltiplas. Isso classificou a inteligência em diferentes tipos, como matemático, linguístico e emocional.

A inteligência intrapessoal passou a ser discutida, a qual se referia à capacidade de conhecer as próprias emoções e sentimentos através da autoanálise. Então, Goleman publicou o seu livro e se referiu a ela como inteligência emocional.

Para ele, significa a capacidade de se motivar, perseverar diante das frustrações, controlar impulsos e regular o humor, e também de ser capaz de sentir empatia e confiar nos outros.

Componentes

Nesta teoria, foram identificados vários componentes que se referem à definição anterior.

  • Autoconhecimento emocional: refere-se à capacidade de identificar, conhecer e expressar de maneira adequada e confiável os seus próprios sentimentos e emoções, e também os seus efeitos.
  • Autocontrole emocional: capacidade de controlar os próprios impulsos.
  • Automotivação: é o que permite alcançar seus próprios objetivos, gerenciando adequadamente as emoções.
  • Empatia: é definida como a capacidade de responder adequadamente às necessidades expressas pelos outros, bem como a capacidade de compartilhar esses sentimentos.
  • Relações interpessoais: nesse caso, é a capacidade de se relacionar eficientemente com os outros, fazendo com que se sintam bem e gerando emoções positivas.

Essa teoria teve muito sucesso e começou a ser assumida como algo básico e complementar à inteligência tradicional. Assim, concluiu-se que essas habilidades emocionais influenciam as habilidades adaptativas e cognitivas das pessoas.

O que se sabe?

O entusiasmo pela inteligência emocional como um fator determinante para o sucesso desencadeou hipóteses, modelos e pesquisas de campo. O curioso é que o conceito se tornou popular antes que soubéssemos demais a seu respeito.

Assim, aprendemos, por exemplo, que pessoas com uma maior inteligência emocional tendem a ter uma melhor saúde e satisfação com a vida, vão mais longe em suas profissões e têm menos problemas interpessoais.

Nesse ‘boom’ para estudar esse tipo de inteligência, os líderes públicos começaram a ser analisados, pois entendeu-se que eles deveriam ter uma capacidade especial para reconhecer, entender e gerenciar as emoções dos outros. Entre eles, foi estudado um dos líderes mais influentes do século 20, Adolf Hitler.

Isso deu origem a uma linha de pesquisa pouco comentada: o lado negativo da inteligência emocional.

O lado sombrio da inteligência emocional

Como discutido anteriormente, Adolf Hitler poderia ter apresentado uma grande inteligência emocional, mais uma arma que teria lhe servido para tomar o poder, com as consequências desastrosas conhecidas por todos.

Seria um dos maiores exemplos de como a capacidade de interpretar as próprias emoções, e especialmente as dos outros, nem sempre foi usada de maneira positiva. Os pesquisadores sociais começaram a se interessar por esse assunto.

A inteligência emocional tem sido associada ao narcisismo. Um grupo de pesquisadores austríacos estudou cerca de 600 pessoas, descobrindo que aqueles com maior pontuação nas escalas de avaliação tendiam a “seduzir” os outros para satisfazer os seus próprios interesses.

Outro estudo de Michigan concluiu que o narcisismo está altamente relacionado à capacidade de reconhecer emoções, que apesar de ser essencial para ter empatia, facilita a manipulação de outras pessoas.

Um estudo da Universidade de Toronto concluiu que uma pessoa com alta inteligência emocional tem uma probabilidade maior de envergonhar outras pessoas com o objetivo de obter o seu próprio reconhecimento. Além disso, um fato curioso extraído desse mesmo estudo é que essas mesmas pessoas eram mais hábeis em reconhecer emoções negativas do que positivas.

Essa mesma universidade constatou que, avaliando as tendências maquiavélicas, os trabalhadores que sabotavam os seus próprios colegas apresentavam níveis mais altos de inteligência emocional.

Manipular a mente humana

Conclusão sobre o lado sombrio da inteligência emocional

A inteligência emocional é uma capacidade que nos permite reconhecer e refletir sobre as nossas próprias emoções e as dos outros. Portanto, é uma habilidade importante para viver com maior bem-estar, dando às emoções o importante papel que elas realmente desempenham. Essa capacidade é crucial para atingir os seus próprios objetivos, pois influenciam outras habilidades pessoais.

No entanto, cabe a outros fatores, provavelmente pessoais, morais e contextuais, que essa grande habilidade seja usada para fazer o bem para si mesmo e para os outros.

Ser emocionalmente inteligente não significa que você tenha um melhor gerenciamento das emoções, mas que você deve levar em conta seus diferentes componentes e em que direção eles serão gerenciados.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.