Líquido cefalorraquidiano: o suporte do nosso sistema nervoso central

Líquido cefalorraquidiano: o suporte do nosso sistema nervoso central
Sara Clemente

Escrito e verificado por psicóloga e jornalista Sara Clemente.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

O líquido cefalorraquidiano (LCR), ou fluído cérebro espinhal, é um dos principais fluídos do corpo humano. Sua função primordial é a de proteger o tecido cerebral e a medula espinhal. Assim, ele serve de amortecedor diante de impactos do sistema nervoso central e do crânio, ou dos ossos circundantes. Em condições normais, o LCR soma um volume entre 100 e 150 ml.

É transparente e o seu conteúdo químico é diferente daquele do soro, mas similar ao do plasma sanguíneo. Ele tem a mesma consistência que a água e está composto essencialmente por H2O, minerais (sódio, potássio, cálcio e cloro), sais inorgânicos (fosfatos) e vitaminas (especialmente do complexo B). Também contém eletrólitos, leucócitos, aminoácidos, colina e ácido nucléico, entre outros componentes.

Punção lombar

Um tipo de fluído extracelular

O corpo tem 4 compartimentos de fluídos, que se dividem em intracelulares e extracelulares. Aproximadamente, dois terços do total da água do nosso organismo é fluído intracelular ou intravascular. Ou seja, a parte líquida do citoplasma das células. O resto é extracelular. Existem 3 fluídos deste último tipo:

  • O plasma sanguíneo, ou seja, a porção líquida do sangue, que está contido nos vasos sanguíneos e nas cavidades cardíacas.
  • O intersticial, também chamado tissular, que está alojado no interstício ou espaço que existe entre as células.
  • E, em terceiro lugar, o líquido cefalorraquidiano ou fluído cérebro espinhal, que banha o encéfalo e a medula espinhal. A seguir, vamos nos aprofundar na sua composição, localização e funções.

Localização e circulação

O LCR circula pelo espaço subaracnóideo, os ventrículos cerebrais e o canal ependimário. Vamos por partes:

  • O espaço subaracnóideo: é o que existe entre a meninge intermediária (aracnoides) e a mais interna (pia-máter). A pia-máter está em contato com a superfície cerebral, e por um pequeno espaço pelo qual circula o líquido cefalorraquidiano, separa o crânio do encéfalo.
  • Os ventrículos cerebrais: são quatro cavidades anatômicas situadas no cérebro, que estão interconectadas entre si. Em conjunto, eles formam o sistema ventricular, pelo qual circula o LCR.
  • O canal ependimário: é um conduto que percorre toda a medula espinhal. Contém mais de 140 ml de líquido cefalorraquidiano do corpo de um indivíduo médio. Ocupa o centro da medula espinhal, situando-se no centro da comissura cinzenta, e dividindo-a em uma parte anterior e outra posterior.

Síntese e percurso do LCR

A maior parte do LCR é criado através do plasma sanguíneo, nos plexos coroides dos ventrículos cerebrais. Uma vez sintetizado, passa aos ventrículos laterais, situados em ambos os hemisférios cerebrais, e, posteriormente, através dos orifícios interventriculares, no terceiro ventrículo (situado no nível do diencéfalo).

A partir daí ele percorre o aqueduto de Sylvius e vai parar no quarto ventrículo, que tem forma triangular e se encontra no rombencéfalo, muito próximo ao tronco do encéfalo e ao cerebelo. Uma vez realizado esse percurso, sai para o espaço subaracnóideo através de orifícios conhecidos como o de Magendie e de Luschka, e banha toda a superfície do sistema nervoso central.

Cérebro humano

Finalmente, é reabsorvido nos seios venosos, em um processo passivo que não requer energia. Em condições normais, o LCR se reabsorve de forma muito rápida, quase na mesma velocidade com a que se forma nos plexos coroides, o que faz com que a pressão intracraniana se mantenha sempre constante.

O LCR se renova a um ritmo de 6 ou 7 vezes ao dia, aproximadamente, e seu ciclo médio de vida não costuma ultrapassar as 3 horas. Quando se obstruem as vias pelas quais circula o líquido cefalorraquidiano, e ele fica acumulado em algum compartimento cerebral e causa a hidrocefalia. A consequência imediata é um aumento de pressão intracraniana.

Funções do líquido cefalorraquidiano

O líquido cefalorraquidiano é um dos fluidos corporais do nosso organismo e suas funções são muito variadas:

  • Protege o sistema nervoso central contra possíveis traumatismos, pancadas e impactos. Pode-se dizer que ele é capaz de amortecer o movimento intracraniano em até 97%.
  • Assume uma dupla função biológica. Por um lado, de nutrição, já que se encarrega de transportar hormônios, anticorpos, linfócitos ao tecido nervoso. Por outro, de eliminação, já que se desfaz dos resíduos metabólicos neurais.
  • Age como um isolante elétrico da medula espinhal.
  • Permite diagnosticar uma série de doenças neurológicas, alterações nas meninges, hemorragias subaracnóideas ou tumores cérebro-espinhais.
  • É a via de entrada para a anestesia epidural.

O LCR é, como vemos, essencial para a manutenção e a preservação do sistema nervoso central. Pequenas mudanças em sua densidade ou quantidade podem gerar, portanto, consequências graves no funcionamento cerebral.

Referências bibliográficas

  • Zweckberger, K.; Sakowitz, O.W.; Unterberg, A.W.; et al. (2009) Intracranial pressure-volume relationship. Physiology and pathophysiology Anaesthesist. 58:392-7.

Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.