Luto na velhice

Perder alguém importante nas últimas etapas de nossas vidas pode ser tão desolador que perdemos a fé em um caminho de vida que de repente se torna frio, vazio e diferente. Quais são as características do luto na velhice?
Luto na velhice
Gorka Jiménez Pajares

Escrito e verificado por o psicólogo Gorka Jiménez Pajares.

Última atualização: 20 fevereiro, 2023

O luto na velhice pode ser especialmente angustiante. A perda de familiares próximos que foram companheiros de viagem de pessoas mais velhas pode ser uma experiência tremendamente dolorosa. Isso sobe ao expoente máximo quando quem perde é o casal. Perder um cúmplice de aventuras, um criador de sorrisos, um protetor de sonhos pode ser muito doloroso.

Além disso, agravam-se os fatores que envolvem o luto na velhice, uma vez que essa idade é caracterizada pela perda de contatos sociais.

“O luto nos desafia a amar mais uma vez.”

-Terry Tempest Williams-

Idosos preocupados com a morte na velhice
O aumento da solidão e dos processos emocionais que acompanham o luto na velhice podem constituir um trampolim para padecer quadros clínicos tão limitantes como a depressão.

Mochilas de lembranças

Na velhice, as pessoas carregam na mochila muitas perdas, que podem ser internas (mudanças no estilo de vida) ou externas (família, amigos, companheiro). Quando os idosos perdem o companheiro ou companheira de vida, encontram-se numa situação em que têm de lidar tanto com a dor da perda como com a necessidade de ter outras figuras de apoio.

Algumas características do luto na velhice

Muitas vezes, o luto na velhice é acompanhado de uma dor dilacerante pela ausência de alguém que os acompanhou por tantos anos, além de um intenso desamparo por se encontrarem em um mundo diferente e por vezes cruel com os idosos.

Além disso, mesmo que desejem e tentem recomeçar uma nova etapa da vida, sua saúde física e as circunstâncias externas muitas vezes constituem barreiras poderosas que os impossibilitam de fazê-lo. Esta é uma das razões pelas quais devemos ter atenção especial quando se trata de oferecer apoio, carinho e afeto aos idosos que perderam seus entes queridos.

«A perda de familiares na velhice é o desencadeador de 20% dos casos de depressão nos idosos».

-Emilio Gamo Medina-

Na velhice, o luto por um amigo, familiar ou companheiro também subtrai uma parte importante do passado. Eles estão cientes de que seu futuro é mais curto do que o dos mais jovens, o que pode diminuir a fé e a esperança intrínsecas ao luto em outras fases da vida.

Além disso, a cultura, os valores e a sociedade em que foram criados são diferentes daquela em que vivem hoje. Essas mudanças podem agravar sua sensação de desconexão com o mundo. As âncoras que os mantinham conectados até hoje não estão mais lá, e isso pode desencadear uma verdadeira avalanche emocional que pode ser tremendamente difícil de superar.

Fatores que ajudam na recuperação

As pessoas mais velhas costumam ser extraordinariamente sábias. A bagagem de experiências, as lições aprendidas e as estratégias que desenvolveram ao longo da vida podem ajudá-las a enfrentar, resolver e sair para uma nova etapa. Estas experiências determinarão quão fácil será sair do luto.

Evite a superproteção

A superproteção nunca foi boa. Muita atenção pode fazer com que as pessoas mais velhas percam algumas habilidades muito mais cedo.

Uma pessoa superprotegida é uma pessoa isolada dos processos que nos fazem crescer como pessoas. É importante acompanhá-los, mas sem cair nessa trama. É o próprio idoso quem deve enfrentar a situação, e podemos ajudá-lo fazendo-o saber que o acompanhamos em sua dor, embora sem detê-lo.

“A dor sem lágrimas sangra internamente.”

-Christian Nevell-

Ouvir

Se a pessoa mais velha falar sobre seu ente querido, ouça. Ela está construindo uma narrativa das memórias que compartilha com o falecido, e isso é importante para ela integrar a perda em sua vida.

Uma maneira de ajudar é prestando atenção ao que ela nos diz. Mesmo que sejam mensagens repetidas, porque a repetição faz parte do processamento do luto. A escuta bidirecional é importante, parafrasear o que elas estão nos dizendo ou parar para perguntar e examinar uma memória específica (“Vovô, conte-me sobre aquela vez que a vovó fez…”) pode ser um ato tremendamente ansiolítico para os idosos.

“Ouvir honestamente é o melhor remédio que podemos oferecer.”

-James cameron-

Pessoa segurando as mãos de uma pessoa mais velha
Ouvir como a pessoa se sente é útil e também uma forma de integrar a perda.

Acompanhar

Até que o idoso se reconecte com a sociedade e o meio ambiente, é importante passar tempo com ele. Isto é diferente de estar constantemente atento a como ele ou ela está. Queremos dizer chamá-lo, convidá-lo a fazer atividades conosco, ou simplesmente ir à sua casa e sentar-se no sofá juntos.

A mensagem transmitida pelo acompanhamento pode até carecer de palavras. O ato de se conectar e deixá-lo ver que estamos ali, com ele ou ela, naquele momento, pode ser tremendamente íntimo. A intimidade que emana do acompanhamento é uma ferramenta poderosa que reduz a solidão da perda.

“Dor compartilhada é dor diminuída.”

-Rabino Grollman-

Quando envelhecemos, nos tornamos mais vulneráveis. Começam a ocorrer perdas, que são naturais porque são produzidas pelo efeito da idade, doença ou envelhecimento. Diante da morte de filhos, irmãos menores ou cônjuge, produzem-se emoções mais intensas do que em outros casos, aumentando o desconforto emocional que sentem.

É por esta razão que as pessoas mais velhas devem ser levadas em conta na hora de prestar apoio de uma forma mais amável, mais íntima e mais próxima. Se os idosos construíram o mundo em que vivemos agora, devemos ser capazes de dar-lhes o apoio necessário para continuar a viver com dignidade e saúde nele quando tiverem que enfrentar uma perda dolorosa.

“Um idoso é alguém que tem muitos mortos adiante dele.”

-Simone de Beauvoir-


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