O luto patológico em crianças

Saiba o que é e como se manifesta o luto patológico em crianças, por que ele acontece e como podemos tratá-lo.
O luto patológico em crianças
Bernardo Peña Herrera

Escrito e verificado por o psicólogo Bernardo Peña Herrera.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

O processo de luto é aquele que implica aceitar e se adaptar a uma perda, seja ela de um ente querido, um objeto ou uma situação. As crianças são especialmente sensíveis às mudanças e a perdas, o que pode gerar um luto patológico.

Por isso, o luto patológico em crianças se manifesta como uma verdadeira síndrome de não adaptação que pode ter importantes consequências para o desenvolvimento e o bem-estar. A seguir analisaremos o que é o luto patológico em crianças, qual o prognóstico que ele possui e qual é o tratamento mais eficaz.

O que é o luto patológico e que sintomas ele possui?

Ao longo de nossas vidas, todos já passamos pela perda de um ente querido. Dessa forma, sabemos que se trata de uma situação dolorosa e bastante complexa. Não obstante, em crianças essa reação dependerá principalmente do desenvolvimento da maturidade. Por volta dos 5 ou 6 anos as crianças começam a entender o que é a morte. As crianças de 9 ou 10 anos já entendem o conceito perfeitamente.

Efeitos do estresse tóxico na infância

Definitivamente, as crianças maiores compreendem que a morte é um processo irreversível. Que a pessoa falecida nunca mais vai voltar, e que cedo ou tarde deverão se ajustar e aceitar o mundo com a ausência desse ser antes familiar.

Por isso, dado o exposto anteriormente, o luto patológico em crianças tem alguns sintomas muito característicos:

  • Tristeza intensa
  • Choro persistente
  • Agressividade
  • Pensamentos sobre a morte
  • Negação da morte, incapacidade para aceitá-la ou raiva
  • Intensa melancolia e pena da pessoa falecida
  • Sentimento de vazio
  • Sentimento de solidão
  • Preocupação pela pessoa falecida
  • Anedonia, choque emocional duradouro ou apatia
  • Dificuldade para se comunicar
  • Reações emocionais intensas diante da lembrança do falecido
  • Transtornos psicossomáticos
  • Evitação de lugares, pessoas ou coisas relacionadas com o falecido e com a morte

Como resultado, esses sintomas interferem no funcionamento normal da criança, causando problemas significativos nas áreas acadêmica, social e familiar. Além disso, tanto a intensidade quanto a duração desse tipo de luto são claramente desproporcionais.

Tipos de luto patológico em crianças e em adultos

Horowitz (2003) identificou 4 tipos de luto patológico em crianças e em adultos. São eles:

  • Luto crônico: em adultos ele dura um ano, e em crianças 6 meses, e a dor pela perda se torna incapacitante. A pessoa não consegue se adaptar a sua nova vida.
  • Luto adiado: Após a perda a pessoa manifesta somente algumas emoções. No entanto, passando um tempo, sente uma forte carga emocional.
  • Luto exagerado: A pessoa se sente tão afetada pela dor que recorre a comportamentos autolesivos claramente prejudiciais. Além disso, aumenta a probabilidade de comorbidade com outros transtornos psicológicos.
  • Luto mascarado: a pessoa pode apresentar problemas físicos e emocionais que geram dificuldades. No entanto, ela não é consciente de que esses problemas são derivados do luto.

Luto normal vs. luto patológico

Um processo de luto normal se entende como uma etapa da vida na qual a pessoa:

  • Reage diante da perda
  • Compreende as implicações da perda
  • Reorienta a sua vida sem o ente querido
  • Aceita a perda
  • A lembrança do ser querido não provoca reações emocionais significativas
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Agora, quanto tempo deve durar esse processo? É aí que está a controvérsia. Na verdade, os cientistas e profissionais de saúde mental concordaram em estabelecer, mais que um critério temporal, um critério de ajuste. Dessa maneira, acordou-se que, em nenhum caso, um luto normal pode resultar em uma complicação incapacitante.

No entanto, o luto patológico em crianças envolve um quadro complicado que se prolonga por pelo menos 6 meses. Além disso, ele se caracteriza por sintomas:

  • Mais intensos e duradouros no tempo
  • Que geram comportamentos não adaptativos, de evitação e que, em última instância, interferem ou limitam a vida da criança
  • Que podem afetar a emotividade, autoestima e identidade da criança

Existe uma certa polêmica…

Alguns profissionais e cientistas rechaçam essa categoria diagnóstica reconhecida pelo DSM-5, argumentando que cada pessoa processa, interpreta e manifesta suas emoções de forma particular. Por isso, para esses psicólogos, médicos e psiquiatras, incluir o luto patológico como um transtorno psicopatológico não seria mais do que colocar um rótulo de doente em uma pessoa sensível diante de uma perda.

Ao mesmo tempo, no entanto, é importante reconhecer a importância de categorizar esses sintomas particulares para poder obter mais informações sobre o quadro, o curso e a prevalência do problema, assim como investigar possibilidades de tratamento eficaz.

Algumas recomendações

Hoje em dia existem tratamentos psicológicos eficazes para tratar o luto patológico em crianças e em adultos. Por isso, se você se identificou com essa leitura, recomendamos que você contate um psicólogo para tratar essa condição. No entanto, e sem prejuízo do dito anteriormente, queremos compartilhar também algumas recomendações sobre o luto patológico:

  • Fale com a criança e responda a suas perguntas e inquietações
  • Permita que a criança manifeste o que sente e o que pensa
  • É importante que as crianças tenham a informação apropriada sobre a morte, o que acontecerá agora que o falecido não está mais entre nós, etc.
  • Também é importante que perguntemos se a criança tem alguma dúvida, algum medo ou insegurança, e como podemos ajudar
  • Ser compreensivo e paciente com a criança
  • Mostrar a ela confiança e um apego seguro durante todo o processo

O luto é um processo complicado, sendo ou não algo patológico. Acompanhar as pessoas que sofrem uma perda e validar suas emoções são pilares essenciais para que se inicie a aceitação e a adaptação à nova realidade.


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