O mal-estar emocional associado ao acúfeno

O mal-estar emocional associado ao acúfeno
Laura Reguera

Escrito e verificado por a psicóloga Laura Reguera.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

Pode ser que as palavras acúfeno ou tinnitus não sejam familiares para você, mas a realidade é que todos nós, em algum momento de nossas vidas, já os tivemos ou vamos passar por isso. Nunca aconteceu com você de, sem nenhum motivo aparente, surgir um zumbido ou um apito na sua audição sem que ninguém mais ao seu redor estivesse ouvindo? Esse apitar no ouvido não tem nenhum significado supersticioso como costumam dizer, como alguém estar falando mal de você pelas suas costas. Isso é um acúfeno!

Em geral esse som, seja mais ou menos incômodo, é temporário e acaba desaparecendo, não é? Imagine agora que ele estivesse presente de forma persistente, que você o ouvisse o tempo todo. Como você acha que isso influenciaria a sua vida cotidiana? Continue lendo e descubra a importância de trabalhar os fatores psicológicos e emocionais diante de um acúfeno.

“Os acúfenos me impedem de viver um momento de silêncio absoluto”

O que exatamente é um acúfeno?

Com essa breve introdução todos já temos uma ideia geral do que é um acúfeno, não é mesmo? Mas, para compreendê-lo melhor, vamos explicar de forma mais exata o que é essa condição. Em primeiro lugar, um acúfeno ou tinnitus é a percepção de um som sem que de fato exista uma fonte sonora externa que o origine.

Vejamos um exemplo. Se esse apito ou zumbido que estamos percebendo de fato existe, se por exemplo a televisão está emitindo um som, então não seria um acúfeno. Por outro lado, temos que ter em mente que, ainda que não haja uma fonte externa de som, isso não quer dizer que estejamos necessariamente tendo uma alucinação auditiva.

Além disso, o tinnitus pode ser percebido somente em um dos ouvidos, em ambos, ou pode dar a sensação de estar ocorrendo em toda a cabeça. Por último, ainda que estejamos falando de apitos e zumbidos, também pode acontecer de serem percebidos outros ruídos mais complexos, como o som de grilos ou o barulho das ondas do mar. Serão sempre, no entanto, ruídos, e nunca vozes e frases nítidas.

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Que tipos de acúfenos existem?

Em uma primeira classificação, feita a partir do tipo de som que estamos percebendo, geralmente podemos classificar os acúfenos como objetivos e subjetivos. Já desenvolveremos a explicação sobre cada um deles, mas antes é importante esclarecer que quando falamos de um som subjetivo, isso não quer dizer que a pessoa o esteja inventando.

O acúfeno objetivo é a percepção de um som que é gerado no corpo e que é conduzido até a cóclea mediante uma condução óssea, ou de um som que é conduzido até a cavidade do ouvido médio. Então, não diria respeito a nenhuma alteração do sistema auditivo, sendo um som físico que é percebido assim como qualquer som externo seria.

Isso quer dizer que pode ser escutado também pelos médicos mediante auscultação e que sua origem são ruídos arteriais, fístulas arteriovenosas e sopros venosos. Esse tipo de acúfeno tem um bom prognóstico, mas são apenas 5% dos casos de tinnitus. Pelo contrário, o acúfeno subjetivo só é percebido pelo paciente. Ou seja, é a percepção de sons na ausência de sons físicos.

Como já falamos, isso não significa que a pessoa está inventando o som. E sim que é uma espécie de sensação fantasma que ocorre devido a patologias no ouvido ou no sistema nervoso auditivo. Nesse tipo de patologia, as causas são otológicas, cardiovasculares e vasculares, metabólicas, neurológicas, farmacológicas, dentais e psicológicas. Sim, psicológicas. O acúfeno pode começar a ser percebido depois de uma época de intenso mal-estar emocional.

“O cuidado com os ouvidos é algo a que infelizmente ninguém dá atenção até que efetivamente surja um problema”.
-Chris Martin-

Como o acúfeno pode influenciar a vida de quem sofre com ele?

Agora que já conhecemos um pouco mais sobre o acúfeno… Como ele pode influenciar a vida de quem sofre da condição? Como tudo, depende de cada caso. Há pessoas que não sentem nenhum mal-estar e que conseguem interiorizar o som como mais um aspecto de sua vida, sem que isso chegue a interferir no desenvolvimento normal do seu dia a dia. Dessa forma, essas pessoas conseguem percebê-lo e não se importar, assim como acontece com pessoas que vivem em grandes cidades e não estão o tempo todo preocupadas com o barulho da rua que entra pela janela.

Mas também há casos de pessoas nas quais esse sintoma causa muitas emoções de valência negativa, como ansiedade, tristeza ou raiva. Nesses casos, as pessoas costumam entrar em um círculo vicioso em que sua atenção fica fixada constantemente no acúfeno, e por isso não deixam de percebê-lo nunca. Desejam deixar de escutá-lo, mas o fato de não conseguirem faz com que suas preocupações a respeito aumentem. Temem que o som aumente de intensidade ou que não possam controlá-lo.

“Ou você se acostuma com ele ou você fica louco”.
-Steve Martin-

Mulher com acúfeno

Geralmente, a pessoa fica presa nesses pensamentos, sem sair desse ciclo de ruminação, dando voltas e voltas no mesmo pensamento. Além disso, isso faz com que deixem de lado as atividades de lazer ou atividades prazerosas. Entram então círculo vicioso do qual não conseguem sair, fazendo com que seu mal-estar aumente e, com ele, a percepção do acúfeno também. Há ainda os problemas de sono que o acúfeno pode causar.

Como ocorre em muitas das vezes em que temos problemas emocionais, não saber lidar com algo não quer dizer que aquele que sofre tem alguma culpa. Pelo contrário, o que acontece é que há uma falta de ferramentas efetivas para regular suas emoções e manejar o fato de ter que viver com o acúfeno. Por isso é importante procurar a ajuda de um psicólogo adequado, especializado no tratamento desse tipo de patologia, que nos ajude a lidar com ela.

Imagens cortesia de Chris Benson, Aaron Burden e Callie Morgan.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.