Mediar não é sobre falar, mas sobre ouvir
Os mediadores são aquelas pessoas que se dedicam a tecer o entendimento entre irmãos que lutam por uma herança, cônjuges que comparecem à corte para a guarda de crianças e vizinhos que se odeiam, chegando a conseguir levar as pessoas que não se olham nos olhos a apertar as mãos. A presidente da Associação Madrilenha de Mediadores, Ana Criado Inchauspe, dá a dica principal para mediar: mediador não fala, ouve.
Os especialistas em mediação dizem que o melhor acordo é aquele em que ambos os lados percebem que o outro também cedeu. E aquele que dura com o tempo. Os mediadores são os “coadjuvantes do filme”, os protagonistas são as partes. Assim, seu trabalho é fazer perguntas para que as partes envolvidas possam se ouvir, fazendo com que as reais necessidades apareçam.
A medição também parece ser a palavra-chave no cenário político. A mediação política participa das características essenciais da mediação e, portanto, o papel do mediador é o de um facilitador na negociação, na mera abordagem das partes, e deve abster-se de intervir com propostas ou com opiniões pessoais sobre o objeto da controvérsia.
Ninguém pode fazer tudo, mas todos podemos fazer algo.
Mediar: o entendimento alcançado pela compreensão das necessidades
Mediar é descobrir que a floresta é muito mais ampla do que a visão que as partes têm no início da negociação. Nesse sentido, é comum que cada parte chegue com seu discurso perfeitamente preparado. Cada um falou com as pessoas de seus círculos, cada um tem tudo muito claro e não tem a menor dúvida. No entanto, em muitas ocasiões essa história é construída sobre o que eles sentem, e não sobre o que acontece de verdade.
Os acordos, a fim de serem respeitados, devem ser alcançados e aceitos pelas partes. O mediador apenas os acompanha para alcançar esse ponto. Há perguntas que podem ser muito eficazes. Por exemplo, aquela pergunta que fala sobre o futuro: “Como você gostaria que o relacionamento de vocês fosse em cinco anos e o que deve ser feito para isso acontecer?”.
Quando cada parte consegue entender as necessidades do outro, a magia da compreensão surge. De repente, eles se transformam, abrem os olhos e se desculpam. Funciona desse jeito mesmo nas situações mais difíceis, mesmo quando tiver havido violência. A mediação não trata de falar, mas de ouvir as necessidades do outro.
Os princípios orientadores que guiam e implementam a mediação são: confidencialidade, voluntariedade, oralidade entre as partes e comunicação plena entre elas, além da imparcialidade do mediador interveniente.
As posições encontradas têm muito a ver com sentimentos
Cerca de 90% dos conflitos são decorrentes da emoção (por exemplo, o medo de que os outros pensem que, por termos cedido uma vez, sempre faremos isso; o medo de confessar o que realmente estamos procurando por medo de mostrar vulnerabilidade) e o resto é devido à falta de comunicação. Isso acontece em confrontações e negociações que ocorrem em todos os contextos, seja uma separação conjugal ou uma disputa comercial. Por outro lado, os conflitos mais difíceis ocorrem com quem mais gostamos: família, amigos, um casal. Pessoas em quem confiamos, pois as emoções que entram em jogo também costumam ser mais fortes e o histórico de confrontos mais longo.
O conflito é inerente ao ser humano, a nós. Estamos constantemente imersos em diferentes conflitos, não só com as outras pessoas, mas também com nós mesmos. Como seres sociais que somos, nos relacionamos continuamente uns com os outros, e a partir dessa interação há conflitos frequentes antes da existência de interesses conflitantes. Em si, não é tanto sobre os interesses serem opostos, mas sobre as partes os percebendo como tal. Na verdade, o acordo alcançado em muitos casos é o da colaboração.
Como dissemos antes, uma das causas mais frequentes no desenvolvimento de um conflito é a comunicação. A comunicação é básica na relação entre duas ou mais pessoas e seu curso pode desencadear um conflito ou resolvê-lo, dependendo das estratégias adotadas pelas partes. Nesse sentido, o papel do mediador é de garantir que os canais de comunicação permaneçam abertos com um objetivo final: chegar a um acordo que deixe as duas partes, de certa forma, satisfeitas.
As posições encontradas surgem quando construímos tudo sobre o que sentimos, e não sobre o que acontece de verdade.