As memórias que os nossos cinco sentidos evocam

As memórias que os nossos cinco sentidos evocam

Última atualização: 16 maio, 2016

Caminhando pela rua distraída com meus pensamentos e memórias, senti um cheiro vindo de uma padaria próxima, que invadiu meu nariz com um aroma de biscoitos e madalenas fumegantes, ovos, manteiga e açúcar, que me transportaram para outro tempo, outro lugar.

De repente, ao invés de estar em uma rua da minha cidade, estava em uma casa nas montanhas com dez anos de idade e brincando com meu irmão no jardim, enquanto minha mãe cozinhava. Isso acontece com todos nós; um cheiro, um som, um sabor ou uma imagem nos transporta para um mundo de recordações.

Nossos sentidos podem evocar claramente as memórias emocionais do nosso passado, liberando emoções positivas, como o prazer e a felicidade, ou negativas, como o medo e a raiva. Uma canção pode trazer de volta um momento especial com uma pessoa ou uma viagem com os amigos, uma paisagem pode trazer lembranças da adolescência e do que vivemos em um lugar determinado.

“Eu costumava escrever para você, agora escrevo para os momentos que passei com você”.

-Victor de Hoz-

Dos cinco sentidos, o olfato é um dos mais potentes ao evocar memórias. Um simples perfume pode desencadear uma cascata de sentimentos, o cheiro de café, o cheiro da grama molhada, um perfume… libertam a nossa imaginação e nos transportam para outro lugar e outro tempo.

Os cheiros das lembranças

O olfato é o sentido que está mais próximo do hipocampo, uma estrutura cerebral responsável pela memória, que por sua vez está ligado ao sistema límbico, que é o centro emocional do cérebro. Os outros sentidos (visão, paladar, tato, audição), têm que percorrer um longo caminho para chegar as partes do cérebro responsáveis pelas memórias e emoções.

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Portanto, a própria estrutura do nosso corpo e do cérebro são responsáveis por despertar nossas memórias. São memórias vivas, capazes de reproduzir sensações que contêm uma mistura de ternura e tristeza que nós chamamos de nostalgia.

“Existem lembranças que não vou apagar, pessoas que não vou esquecer, silêncios que prefiro calar”.

-Fito Páez-

Um estudo realizado pela psicóloga Silvia Álava Llamado, “Os cheiros e as emoções”, demonstrou que as pessoas se lembram de 35% do que sentem o cheiro, e apenas 5% do que veem. Participaram desta pesquisa 1.000 pessoas de ambos os sexos, com idades entre 25 e 45 anos, e concluiu-se que a memória pode perceber até 10.000 aromas diferentes, mas consegue reconhecer apenas 200.

De acordo com esse estudo, quando sentimos um perfume esse cheiro fica registrado no cérebro juntamente com a emoção que sentimos nesse momento. Então, quando nos lembramos do cheiro, sentimos a emoção. Voltando para o estudo, 83% dos participantes disseram que lembram de momentos felizes com determinados cheiros e que sentir um cheiro familiar afeta mais do que ver um objeto que lhes traga algumas lembranças.

“Era inevitável: o cheiro das amêndoas amargas sempre lhe recordava o destino dos amores não correspondidos”.

-Gabriel Garcia Márquez-

As memórias que vemos

A imagem de um objeto, de um quarto ou uma paisagem, por exemplo, podem nos levar a um momento de nossas vidas que pode ser muito agradável. Também podemos experimentar a sensação de ter estado lá antes ou ter experimentado uma situação antes, o que é conhecido como um “déjà vu”.

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Com relação a essa sensação existem duas teorias: uma que argumenta que, ao registrar um evento em nossa memória, uma área do cérebro faz isso com um certo atraso em comparação com as outras memórias e então ocorre o dèjà vu. Outra teoria, no entanto, supõe que um fato pode ativar na memória algumas recordações com as quais tem uma relação real ou imaginária.

O sabor e as memórias

Quando comemos, o cérebro integra todas as sensações com informações armazenadas na memória e busca dados sobre algumas preparações que relacionamos com essas mesmas sensações, situações anteriores ou outros alimentos com estímulos semelhantes. Portanto, os sabores podem transformar as sensações derivadas dos alimentos em recordações.

A audição e as memórias

Com relação aos sons, todos nós já tivemos uma “trilha sonora” em algum momento da nossa vida, (aquela música especial que faz parte dos nossos bons momentos). Segundo o professor de psicologia Peter Janata, da Universidade da Califórnia em Davis: “Nosso dia a dia precisa de uma trilha sonora escolhida por nós mesmos, mas muitas das nossas memórias musicais são filmes mentais, que vêm à nossa cabeça quando ouvimos uma música familiar, que acaba atuando como nossa trilha sonora.

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Janata explicou em seu estudo, publicado pela revista Córtex Cerebral, como em uma determinada região do cérebro relacionada ao armazenamento e recuperação das memórias os neurônios funcionam como um centro de conexão entre melodias familiares, memória e emoção.

Portanto, todos os nossos sentidos podem nos levar ao passado e evocar as nossas memórias de determinados momentos. Dessa forma, podemos reviver momentos felizes e agradáveis; é só uma questão de se deixar levar.


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