A mente silenciosa: chaves do pensamento relaxado

A mente silenciosa: chaves do pensamento relaxado
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 15 novembro, 2021

A mente silenciosa não tem pesos, é diáfana, livre e luminosa como a superfície do mar. Nela, o egoísmo se dissolve instantaneamente, as pressões externas se apagam e até mesmo os turbilhões internos cheios de obsessões e pensamentos negativos perdem a intensidade. Nada pode ser tão saudável como colocar em prática esse pensamento relaxado com o qual é possível encontrar calma em meio ao caos.

Gordon Hempton, um conhecido ecologista acústico, nos diz que o silêncio é uma “espécie” em perigo de extinção. Além disso, de acordo com esse especialista da natureza, do som e do bem-estar, o silêncio e a quietude são vitais para a nossa sobrevivência. Pode ser que esta última declaração nos pareça um pouco excessiva, mas na realidade, tem uma validade e uma transcendência evidentes.

“A tranquilidade é a percepção de uma mente calma e tranquila”.
-Debasish Mridha-

O ser humano está perdendo a capacidade de ouvir. E não nos referimos apenas à capacidade de sermos receptivos ao que o nosso ambiente nos diz, nos comunica ou nos evoca desde os estímulos mais complexos e refinados. As pessoas dificilmente se ouvem. O silêncio, de acordo com o professor Gordon Hempton, nos obriga a estar presentes e a sermos honestos. É uma forma de expor a alma, de mostrar a mente e de abrir o coração para nos reencontrarmos autenticamente.

Assim, poderíamos dizer quase sem erro que ter uma mente silenciosa é uma maneira de ampliar espaços internos para nos conectarmos com o que nos envolve e com o que somos. É uma maneira de revelar como investir em saúde e bem-estar, uma prática que todos deveríamos aplicar no nosso dia a dia.

Mulher com bolas flutuando ao seu redor

Nossa mente é a principal fonte de exaustão

Vamos admitir, às vezes nossa mente é um animal com uma energia tremenda, é infatigável, é inquieta, devora tudo, enreda tudo e, quase sem percebermos, pode se tornar nossa pior inimiga. Essa máquina de pensar não compreende os tempos de descanso e, portanto, não hesita em nos tirar horas de sono para nos manter alertas, para alimentar a ruminação, a conversa inútil e a obsessão até criar um nevoeiro denso para nos perdermos, isolados no oceano da ansiedade ou da depressão.

Meister Eckhart, um famoso filósofo dominicano e alemão do século XIII, já dizia naquela época que o único meio de acalmar a angústia interna era abraçando o silêncio. Segundo ele, a quietude e a ausência de som ao nosso redor podem agir como um fogo purificador. É como uma casa tranquila onde a alma se torna mais intuitiva, onde se refresca nosso olhar e se aprofunda o conhecimento.

O que o Mestre Eckhart nos explicou em seus dias tem claras conotações místicas, nós sabemos. No entanto, é curioso como, ao longo da nossa história, é precisamente o mundo da religião e da espiritualidade que reivindicou de alguma forma a importância do silêncio. Buda, por exemplo, também explicou em seus textos que colocar em prática uma mente silenciosa era o caminho para acabar com a exaustão, a mentira, e ser livre de todos os tipos de atividades egoístas…

A mente silenciosa, em essência, é aquela que não se distancia da realidade nem a evita. Além disso, está sempre alerta, está sempre acordada e procura, acima de tudo, ver a natureza da realidade, tanto externa quanto interna.

“O silêncio é o único amigo que jamais trai”.
-Confúcio-

A mente silenciosa e o pensamento relaxado

Temos claro que a mente pode muito frequentemente ser nossa principal fonte de exaustão. Nós também sabemos que uma maneira de praticar o pensamento relaxado é nos iniciando na meditação, no mindfulness ou mesmo na ioga. Já nos disseram muitas vezes, e até mesmo é possível que já tenhamos tentado alguma vez sem sucesso, a ponto de dizermos que a meditação não é para nós.

Não tendemos para uma opção com olhos fechados, por mais conhecida que seja. Para praticarmos e nos beneficiarmos de uma mente silenciosa existem muitos outros caminhos, muitos outros bloqueios para abrir essa “estadia mental calma”. A chave, como tudo na vida, consiste em encontrar a resposta que melhor se ajuste a nós, nossas necessidades e personalidade. Portanto, será útil refletir sobre as propostas que serão detalhadas abaixo.

Mulher observando paisagem bonita

4 princípios para praticar a mente silenciosa

O primeiro objetivo, por mais curioso que seja, é deixar de ter medo do silêncio. É difícil admitir, mas é uma realidade óbvia. Algo tão simples como procurar um ambiente natural sem qualquer indício de civilização em quilômetros e nos sentarmos lá em completa solidão pode ser, para muitos, algo assustador.

  • O silêncio nos expõe e faz com que nos sintamos privados de “algo”. No entanto, esse “algo” é muitas vezes toda a superficialidade e os pesos que arrastamos em nossa mente. Por isso, é necessário permitir-nos ser abraçados pelo silêncio sem medo, com intimidade, com honestidade para deixar ir tudo que for desnecessário…
  • Uma hora de solidão por dia. Para moldar uma mente silenciosa, devemos aprender ou re-aprender a estar sozinhos. A solidão livremente escolhida por um momento de tempo é saudável, é catártica e nos reinicia em todos os sentidos.
  • Empatia por si mesmo. Para acalmar a mente inquieta, a mente insaciável e seus pensamentos negativos, precisamos praticar uma empatia real com nós mesmos. Desta forma, voltaremos nosso olhar para dentro, para ser a voz relaxada que pode nos dizer: “Tudo está bem, acalme-se, detenha o rumo desses pensamentos e concentre-se. Tudo irá melhorar a partir de agora. Apenas aprecie o silêncio“.
  • Desacelerar as coisas não é perder tempo. Outra estratégia sensacional é aprender a ir mais devagar no nosso dia a dia. Devemos entender que ir mais devagar nem sempre é sinônimo de perda de tempo. Desacelerar a nossa vida, nos permitindo estar mais presentes, também favorece a calma mental.

Para concluir, a mente silenciosa não é qualquer tipo de entelequia, não é uma capacidade impossível de adquirir, treinar ou algo que apenas aqueles que levam anos meditando podem desfrutar. Este tipo de pensamento relaxado requer vontade, autocontrole e uma boa dose de amor próprio, para nos convencermos de que nossa própria mente nunca pode e nem deve ser nosso pior inimigo.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.