O que é o método ABA e como funciona?

O método ABA é uma alternativa terapêutica promissora. Agora, gostaria de saber em que consiste e quais resultados estão sendo obtidos com ele? Neste artigo, falamos sobre os resultados.
O que é o método ABA e como funciona?

Última atualização: 04 abril, 2024

Poderíamos considerar o método ABA como uma modalidade terapêutica que se concentra no desenvolvimento de habilidades sociais, de aprendizagem e de comunicação. Geralmente, é aplicado em casos de crianças com transtorno do espectro do autismo (TEA), embora também seja uma alternativa terapêutica comum em outros transtornos.

Esse modelo foi desenhado com base em diversas investigações realizadas pelo Dr. Ivar Lovaas, do Departamento de Psicologia da Universidade de Los Angeles, em 1987. Esse pesquisador mostrou que os comportamentos de crianças com autismo poderiam ser modificados com o método ABA. Desde então, seu uso se expandiu.

No entanto, a sua implementação é atualmente muito questionada. Existem vários profissionais e pessoas que se opõem à sua aplicação e rejeitam o seu uso, pelos possíveis efeitos negativos que pode causar em pessoas com autismo.

Neste artigo você aprenderá o que é o método ABA, suas características e sua aplicação. Você também aprenderá algumas das razões apresentadas por aqueles que são a favor e contra a sua implementação em pessoas com autismo. Vamos ver mais detalhes.

A grande descoberta da minha geração é que os seres humanos podem alterar as suas vidas alterando as suas atitudes mentais.”

-William James-

Criança com autismo de volta

O método ABA: um facilitador da autonomia

O nome do método ABA vem de uma sigla em inglês que corresponde a Applied Behavior Analysis. Sua tradução seria “análise comportamental aplicada”. Cada um desses elementos corresponde a um princípio desse tipo de terapia:

  • Análise. Corresponde ao princípio da “análise comportamental experimental”. Refere-se ao fato de o progresso ser avaliado com base em intervenções que são registadas e medidas.
  • Comportamento. Tem a ver com o fato de esse modelo se basear nos princípios do condicionamento clássico e operante, ou seja, do behaviorismo.
  • Aplicado. Refere-se ao fato de os princípios se aplicarem aos comportamentos observados, em contraste com os modelos que se referem a comportamentos inferidos.

O objetivo do método ABA é facilitar o desenvolvimento e a autonomia dos pacientes. Isso é feito desenhando um programa específico e personalizado das habilidades que cada indivíduo necessita para avançar em seu desenvolvimento.

Enfatiza as habilidades necessárias para adquirir novos aprendizados: atenção, cooperação e imitação. Também promove o desenvolvimento de competências sociais básicas e de comunicação que garantem uma interação adequada.

As características do método ABA

Além dos princípios do método ABA, existem também sete características que definem sua aplicação. São as seguintes:

  • Educação baseada no sucesso. São fornecidas as ferramentas necessárias para alcançar sucessos sucessivos, evitando frustrações desnecessárias. Isso motiva e fortalece a autoconfiança.
  • Estruturação. O procedimento é estruturado e dividido em etapas alcançáveis, partindo do simples ao complexo, até que a pessoa alcance o desenvolvimento da habilidade.
  • Registro. O registo é diário, sistemático e inclui avaliações para medir o progresso e recolher informações objetivas sobre o progresso. Se necessário, o programa pode ser reestruturado para torná-lo mais funcional.
  • Individualização. Cada programa deve ser ajustado às características específicas da pessoa e por isso é necessária uma avaliação inicial minuciosa.
  • Generalização. A educação terapêutica começa em casa e, à medida que avança, deve ser aplicada a outros ambientes cada vez mais amplos.
  • Ação coordenada com os pais. O trabalho é coordenado com os pais, que devem participar ativamente na intervenção para reforçá-la e complementá-la.
  • Apoios científicos. As ações e a terapêutica como um todo são respaldadas pela produção científica nesse sentido.
Psicóloga aplicando o método ABA a uma criança com autismo

Como é aplicado?

A aplicação do método ABA começa com uma avaliação detalhada do paciente criança ou adulto. Essa revisão inicial nos permite elaborar um programa de intervenção personalizado, visando o desenvolvimento específico das competências exigidas por cada pessoa. Estamos falando de um planejamento que normalmente exige uma dedicação de nove horas semanais.

O que se segue é a formação dos terapeutas que ficarão encarregados do caso. Eles devem identificar ou descobrir evidências de investigação que apoiem a sua intervenção, melhorando as suas competências na prestação de apoio. Da mesma forma, no caso das crianças, é realizado um processo de formação com os pais, no qual lhes é explicado o seu papel no processo.

Via de regra, quanto mais detalhado for um programa, melhor ele funcionará. Deve conter as ações, divididas em etapas, que serão realizadas. Concluída essa parte, são aplicadas as quatro ações básicas do método ABA:

  • Ensaio discreto.
  • Apresentação e retirada de apoio.
  • Busca de reforços eficazes.
  • Cadastro sistemático.

Os dados disponíveis indicam que o método ABA atinge o seu objetivo: o desenvolvimento de competências cognitivas, sociais e de comunicação. No entanto, os dados a esse respeito não são conclusivos. Em alguns casos, oferece resultados magníficos, enquanto em outros a sua implementação é quase imperceptível. De uma forma ou de outra, o certo é que precisamos de mais e melhores pesquisas para aperfeiçoá-lo.

A polêmica em torno do método ABA

Nos últimos anos, tem havido muito debate sobre a relevância e eficácia desse método. Muitas pessoas com autismo e os seus defensores se opõem às intervenções focadas no ABA, enquanto outras são a favor da sua utilização. Vamos ver um pouco quais são os motivos contra e a favor.

Razões contra

Um dos motivos pelos quais muitas pessoas são contra o ABA é que, por ser uma intervenção comportamental, busca a extinção de padrões comportamentais que não se enquadram no padrão de normalidade social. Isso, segundo os opositores, acaba sendo prejudicial para as pessoas com TEA, pois as incentiva a esconder seus traços autistas.

“Forçar uma criança a parar com esses comportamentos tranquilizadores é em grande parte prejudicial e inútil. Nossa hipótese é que a única razão pela qual o ABA tenta “extinguir” tais comportamentos é, em geral, deixar as pessoas neurotípicas mais confortáveis”.

Sandoval-Norton, et al. (2021)

A terapia ABA tem sido rotulada como abusiva, não apenas pelo motivo acima, mas também porque pode acabar sendo traumática. Um estudo publicado na revista Advances in Autism encontrou sintomas de estresse pós-traumático em quase metade dos participantes expostos a essa terapia, enquanto aqueles que não receberam a intervenção tiveram 72% de chance de serem assintomáticos. Os autores desse estudo observaram que:

“Com base em observações clínicas, as crianças expostas ao método ABA demonstraram reações de luta/fuga/congelamento a tarefas que de outra forma seriam consideradas prazerosas para um colega não exposto, e essas respostas aumentaram em gravidade dependendo da duração da exposição ao ABA”.

Outra razão pela qual esse método tem sido criticado é que, segundo pesquisas, ele reduz a motivação, aumenta a dependência e diminui a autoestima em pessoas com autismo de alto funcionamento. De acordo com essas conclusões, as pessoas não melhoram, e sim pioram.

Nesse sentido, Sandoval-Norton, em artigo publicado na revista Advances in Neurodevelopmental Disorder, cita dois estudos nos quais se questiona a eficácia do ABA no tratamento do autismo. O primeiro deles aponta que 76% das pessoas tratadas com ABA apresentam pouca ou nenhuma alteração e 9% pioram. Enquanto o segundo estudo não encontrou correlação significativa entre o número de horas de intervenção com ABA e os resultados obtidos.

“As mudanças positivas observadas foram ‘pequenas e podem não ser clinicamente significativas’, e a grande maioria das pessoas que recebem serviços não experimenta nenhuma mudança na única coisa que a ABA pretende tratar.”

-Sandoval-Norton-

Outro motivo que podemos destacar são os conflitos de interesse em diversas investigações que sustentam a sua eficácia. Um estudo publicado na Frontiers in Psychology aponta que há um índice muito alto de conflitos de interesse em pesquisadores que aprovam o uso do ABA.

Os conflitos de interesses podem enviesar os estudos e fazer com que os investigadores demonstrem que as suas intervenções têm efeitos positivos quando, na verdade, não são eficazes, dizem os investigadores.

Razões a favor

Os argumentos de pessoas e profissionais que são a favor do ABA para tratar transtornos do espectro do autismo são geralmente baseados em estudos que apoiam a sua aplicação. Vejamos alguns deles.

Uma meta-análise indica que o ABA é eficaz para socialização, comunicação e linguagem expressiva. No entanto, os pesquisadores não encontraram efeitos significativos na linguagem receptiva, no comportamento adaptativo, nas habilidades da vida diária, no coeficiente intelectual, no coeficiente intelectual verbal, no coeficiente intelectual não verbal e no comportamento restrito e repetitivo.

Por sua vez, a Association for Science in Autism Treatment apoia a análise comportamental aplicada como uma intervenção eficaz para muitas pessoas com transtornos do espectro do autismo. Da mesma forma, afirma que é eficaz para aumentar comportamentos e ensinar novas habilidades.

O National Autism Center, numa revisão e análise que realizou sobre intervenções para o transtorno do espectro do autismo, destaca o método ABA como uma das intervenções com evidências suficientes de sua eficácia.

Em linha com o acima exposto, um estado da arte em análise comportamental aplicada ao tratamento do autismo também apoia a sua eficácia. Neste estudo, publicado na Association for Behavior Analysis International’s Newsletter , pode-se ler que:

  • Todas as pessoas que têm autismo recebem algum grau de benefício do ABA.
  • Nenhum outro tratamento para o autismo atende aos padrões de comprovação científica que o ABA atende, e não há outras intervenções cientificamente aprovadas que produzam resultados semelhantes.
  • Mais de 1.000 artigos científicos revisados ​​por pares sobre o autismo descrevem os sucessos do ABA.

Essa mesma publicação aponta que a intervenção comportamental intensiva precoce através da análise comportamental aplicada melhora o desenvolvimento e o desempenho intelectual de crianças com autismo.

Um artigo publicado pela Cogent Psychology argumenta que o ABA vem de estudos bem controlados e de alta qualidade que demonstram sua eficácia em populações com autismo. Além do mais, de acordo com vários pesquisadores, possui algumas das melhores evidências para o tratamento do TEA.

Como se pode notar, o debate é muito próximo e ambas as perspectivas possuem pesquisas que sustentam suas posições quanto ao uso do ABA. Todas essas polêmicas nos deixam uma mensagem muito clara: é preciso desenvolver novas pesquisas para fechar a lacuna que se abriu.

Considerações finais

Não há unanimidade ou acordo geral quanto ao uso dessa intervenção para pessoas autistas. Cada vez mais vozes se levantam contra ela, apesar de várias investigações e instituições apoiarem a sua aplicação.

Todas essas polêmicas e tensões são necessárias para proporcionar espaços de diálogo que nos permitam melhorar e desenvolver intervenções em favor da neurodiversidade, da inclusão e do respeito a todas as pessoas autistas.

Esperamos que este artigo o motive a refletir e investigar mais sobre o método ABA e sua aplicação nos transtornos do espectro do autismo.


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