Meu parceiro é muito passivo em nosso relacionamento: por que isso acontece?
No campo das relações conjugais existe uma receita muito eficaz para o desastre: a passividade. Apaixonar-se por alguém que, longe de trabalhar no vínculo diariamente, o considera já estabelecido e mal lhe dá atenção, dói. Porque o amor exige grande dinamismo e, como disse Eric Fromm, é como uma arte que exige esforço, disciplina e tempo.
Apesar disso, é comum recair em relacionamentos dominados pela passividade de um de seus membros. São pessoas que nos prejudicam sem sequer levantar um dedo, que nos perturbam pela falta de iniciativa e pela falta de resposta emocional. O que chama a atenção é que por trás desse comportamento nem sempre existe falta de afeto, mas uma forma muito distorcida de responder ao amor.
Deve-se notar que esta dimensão não tem nada a ver com um caráter tranquilo ou calmo. Estamos diante de um perfil de personalidade que não entende a responsabilidade de ter um companheiro. É alguém inseguro, sem iniciativa e acostumado a delegar para os outros. Na verdade, são figuras com uma clara inclinação para a dependência; deixar que o outro faça, decida, aja e resolva. O que está por trás desse comportamento? O que podemos fazer? Nós o analisamos.
A passividade no casal é uma das principais causas da ruptura afetiva.
Meu parceiro é muito passivo em nosso relacionamento: possíveis causas
Existe uma frase que aparece com frequência em muitas sessões de terapia: “é que meu parceiro é muito passivo”. É comum reclamar que a outra pessoa não fala, não age, não assume as responsabilidades do relacionamento com a mesma energia e disposição que nós. No momento em que uma pessoa assume sozinha todo o peso de um vínculo afetivo, essas bases estremecem.
O que chama a atenção é que geralmente existe um fato que pode nos parecer contraditório. Há pessoas muito assertivas e decididas na área social e laboral; no entanto, elas são muito passivas no nível afetivo. No momento em que entram nessa esfera de intimidade emocional e responsabilidade afetiva, carecem de um número infinito de habilidades.
Isso significa que, por um tempo, uma das partes é quem puxa esse elo, até que, aos poucos, o desgaste, as contradições e o sofrimento fazem com que se pare. E fazemos isso nos perguntando se tal sacrifício vale a pena. Porque mesmo que a outra pessoa seja solicitada a agir e responder, a mudança quase nunca se materializa. Os motivos? Nós os veremos em breve.
A falta de interesse ou o peso da rotina no casal pode ser um fator para que, aos poucos, um dos integrantes da relação assuma uma atitude passiva e “deixe o outro fazer”.
1. Educação, preconceitos culturais e fatores pessoais
Por trás da forma como construímos e agimos em um relacionamento, existem fatores sociais e culturais inconscientes; por exemplo, sexismo e papéis tradicionais. Poderíamos até sugerir que ainda existem homens que deixam os aspectos emocionais, as tarefas parentais, etc. para as mulheres. Além disso, existem mulheres que são muito propensas à dependência.
No entanto, essas realidades estão mudando e existem fatores mais relevantes que podem explicar essa passividade. Por exemplo, existem perfis de personalidade com zero competências na esfera afetiva e relacional. Talvez estejam desde a infância acostumados com os outros alimentando suas necessidades e validando suas emoções.
2. Apego ansioso-passivo
O apego ansioso é outro elemento pelo qual alguém fica obcecado em receber o afeto dos outros de forma passiva, sem investir na reciprocidade. São pessoas que entendem o amor de forma unidirecional e visando apenas a obtenção de “recursos emocionais”.
3. Criação autoritária e exigente: o peso da insegurança
A passividade pode ser fruto de uma educação baseada na crítica constante e na sombra do autoritarismo. Os desvalorizaram por tanto tempo que, no final, decidiram não agir para evitar qualquer conflito. Deixar ir, permitir que outros assumam a responsabilidade pelo relacionamento por mera insegurança pessoal, é uma explicação.
4. Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade
Pessoas com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) geralmente apresentam comportamentos passivos em relacionamentos afetivos. É comum que se esqueçam de muitas coisas, não terminem o que começaram e tenham dificuldade em demonstrar seu compromisso com o outro na relação. Estudos como os realizados na Universidade de Ohio mostram as dificuldades que às vezes são apresentadas por quem convive com essa realidade.
5. Má gestão de discrepâncias e conflitos
Ninguém pode se surpreender. Algumas pessoas, após uma série de desentendimentos com o parceiro, optam pelo clássico: “se você não me der o que preciso, paro de trabalhar nessa relação”. São pessoas com zero capacidade de comunicação, baixa resistência à frustração e baixa inteligência emocional.
Algumas pessoas com atitudes nitidamente infantis, após uma série de conflitos ou desentendimentos no relacionamento, decidem parar de agir, assumir responsabilidades e até mesmo falar conosco.
6. Falta de interesse no relacionamento
Se meu parceiro está muito passivo em nosso relacionamento há algum tempo, vamos considerar outro motivo óbvio. Podemos ter chegado a um ponto em que o desinteresse ou o peso da rotina sufoca o relacionamento. Como bem sabemos, nem todos são capazes de dar o passo e dizer de forma assertiva: “Sinto que o que temos não vai bem ou não sinto o mesmo”.
São situações em que, de repente, nos vemos sozinhos com uma pessoa que não tem mais o olhar e o coração voltados para nós.
O que fazer nessas circunstâncias?
Se meu parceiro é muito passivo, a última coisa que devo fazer é tornar a situação crônica. Às vezes, por medo da solidão ou mesmo da separação, optamos por assumir toda a responsabilidade. No entanto, devemos ser claros: amar alguém que é passivo no amor já é estar sozinho. É ter uma pessoa presente, mas ausente, alguém que não se importa, que não apoia nem se compromete.
O que fazer então? A passividade é, na verdade, uma resposta aprendida a outro problema que está sendo deixado de lado. E isso é fundamental. O primeiro passo será a comunicação, estabelecendo um diálogo assertivo e sincero para entender o que está acontecendo. Devemos saber o que motiva esse comportamento e nosso parceiro, por sua vez, deve assumir a responsabilidade pela mudança.
Um casal é uma equipe, mas também duas pessoas com seus próprios problemas. Todos nós temos feridas latentes para curar e realidades para atender. Caso não se faça isso, esses lastros condicionarão qualquer relação afetiva. O amor exige dinamismo, reciprocidade, ser diariamente artífices de afeto, cuidado e atenção. Se isso não estiver presente, um relacionamento murcha em pouco tempo.
Todas as fontes citadas foram minuciosamente revisadas por nossa equipe para garantir sua qualidade, confiabilidade, atualidade e validade. A bibliografia deste artigo foi considerada confiável e precisa academicamente ou cientificamente.
- Dejnožka, Jan. (2016). Personal Relationships: Emotions and Responsibilities.
- Foss, Berit & Eriksson, Katie & Nåden, Dagfinn. (2018). Love and Responsibility: A New Understanding of Leadership. Nursing Science Quarterly. 31. 148-156. 10.1177/0894318418757023.
-
Wymbs, B. T., Canu, W. H., Sacchetti, G. M., & Ranson, L. M. (2021). Adult ADHD and romantic relationships: What we know and what we can do to help. Journal of marital and family therapy, 47(3), 664–681. https://doi.org/10.1111/jmft.12475