Meu parceiro é muito passivo em nosso relacionamento: por que isso acontece?

A passividade é um inimigo do amor. Se você sente que carrega o peso do relacionamento, e seu parceiro considera o afeto algo já estabelecido, cuidando muito pouco desse vínculo no dia a dia, recomendamos o artigo a seguir.
Meu parceiro é muito passivo em nosso relacionamento: por que isso acontece?
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 06 maio, 2023

No campo das relações conjugais existe uma receita muito eficaz para o desastre: a passividade. Apaixonar-se por alguém que, longe de trabalhar no vínculo diariamente, o considera já estabelecido e mal lhe dá atenção, dói. Porque o amor exige grande dinamismo e, como disse Eric Fromm, é como uma arte que exige esforço, disciplina e tempo.

Apesar disso, é comum recair em relacionamentos dominados pela passividade de um de seus membros. São pessoas que nos prejudicam sem sequer levantar um dedo, que nos perturbam pela falta de iniciativa e pela falta de resposta emocional. O que chama a atenção é que por trás desse comportamento nem sempre existe falta de afeto, mas uma forma muito distorcida de responder ao amor.

Deve-se notar que esta dimensão não tem nada a ver com um caráter tranquilo ou calmo. Estamos diante de um perfil de personalidade que não entende a responsabilidade de ter um companheiro. É alguém inseguro, sem iniciativa e acostumado a delegar para os outros. Na verdade, são figuras com uma clara inclinação para a dependência; deixar que o outro faça, decida, aja e resolva. O que está por trás desse comportamento? O que podemos fazer? Nós o analisamos.

A passividade no casal é uma das principais causas da ruptura afetiva.

Garoto e garota conversando sobre meu parceiro ser muito passivo em nosso relacionamento
Os comportamentos passivos afetam qualquer cenário em um casal: emocional, econômico, trabalhista, etc.

Meu parceiro é muito passivo em nosso relacionamento: possíveis causas

Existe uma frase que aparece com frequência em muitas sessões de terapia: “é que meu parceiro é muito passivo”. É comum reclamar que a outra pessoa não fala, não age, não assume as responsabilidades do relacionamento com a mesma energia e disposição que nós. No momento em que uma pessoa assume sozinha todo o peso de um vínculo afetivo, essas bases estremecem.

O que chama a atenção é que geralmente existe um fato que pode nos parecer contraditório. Há pessoas muito assertivas e decididas na área social e laboral; no entanto, elas são muito passivas no nível afetivo. No momento em que entram nessa esfera de intimidade emocional e responsabilidade afetiva, carecem de um número infinito de habilidades.

Isso significa que, por um tempo, uma das partes é quem puxa esse elo, até que, aos poucos, o desgaste, as contradições e o sofrimento fazem com que se pare. E fazemos isso nos perguntando se tal sacrifício vale a pena. Porque mesmo que a outra pessoa seja solicitada a agir e responder, a mudança quase nunca se materializa. Os motivos? Nós os veremos em breve.

A falta de interesse ou o peso da rotina no casal pode ser um fator para que, aos poucos, um dos integrantes da relação assuma uma atitude passiva e “deixe o outro fazer”.

1. Educação, preconceitos culturais e fatores pessoais

Por trás da forma como construímos e agimos em um relacionamento, existem fatores sociais e culturais inconscientes; por exemplo, sexismo e papéis tradicionais. Poderíamos até sugerir que ainda existem homens que deixam os aspectos emocionais, as tarefas parentais, etc. para as mulheres. Além disso, existem mulheres que são muito propensas à dependência.

No entanto, essas realidades estão mudando e existem fatores mais relevantes que podem explicar essa passividade. Por exemplo, existem perfis de personalidade com zero competências na esfera afetiva e relacional. Talvez estejam desde a infância acostumados com os outros alimentando suas necessidades e validando suas emoções.

2. Apego ansioso-passivo

O apego ansioso é outro elemento pelo qual alguém fica obcecado em receber o afeto dos outros de forma passiva, sem investir na reciprocidade. São pessoas que entendem o amor de forma unidirecional e visando apenas a obtenção de “recursos emocionais”.

3. Criação autoritária e exigente: o peso da insegurança

A passividade pode ser fruto de uma educação baseada na crítica constante e na sombra do autoritarismo. Os desvalorizaram por tanto tempo que, no final, decidiram não agir para evitar qualquer conflito. Deixar ir, permitir que outros assumam a responsabilidade pelo relacionamento por mera insegurança pessoal, é uma explicação.

4. Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade

Pessoas com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) geralmente apresentam comportamentos passivos em relacionamentos afetivos. É comum que se esqueçam de muitas coisas, não terminem o que começaram e tenham dificuldade em demonstrar seu compromisso com o outro na relação. Estudos como os realizados na Universidade de Ohio mostram as dificuldades que às vezes são apresentadas por quem convive com essa realidade.

5. Má gestão de discrepâncias e conflitos

Ninguém pode se surpreender. Algumas pessoas, após uma série de desentendimentos com o parceiro, optam pelo clássico: “se você não me der o que preciso, paro de trabalhar nessa relação”. São pessoas com zero capacidade de comunicação, baixa resistência à frustração e baixa inteligência emocional.

Algumas pessoas com atitudes nitidamente infantis, após uma série de conflitos ou desentendimentos no relacionamento, decidem parar de agir, assumir responsabilidades e até mesmo falar conosco.

6. Falta de interesse no relacionamento

Se meu parceiro está muito passivo em nosso relacionamento há algum tempo, vamos considerar outro motivo óbvio. Podemos ter chegado a um ponto em que o desinteresse ou o peso da rotina sufoca o relacionamento. Como bem sabemos, nem todos são capazes de dar o passo e dizer de forma assertiva: “Sinto que o que temos não vai bem ou não sinto o mesmo”.

São situações em que, de repente, nos vemos sozinhos com uma pessoa que não tem mais o olhar e o coração voltados para nós.

Pessoas em uma cama para representar que meu parceiro é muito passivo em nosso relacionamento
Se nosso parceiro é muito passivo, devemos agir e exigir mudanças. A comunicação é fundamental.

O que fazer nessas circunstâncias?

Se meu parceiro é muito passivo, a última coisa que devo fazer é tornar a situação crônica. Às vezes, por medo da solidão ou mesmo da separação, optamos por assumir toda a responsabilidade. No entanto, devemos ser claros: amar alguém que é passivo no amor já é estar sozinho. É ter uma pessoa presente, mas ausente, alguém que não se importa, que não apoia nem se compromete.

O que fazer então? A passividade é, na verdade, uma resposta aprendida a outro problema que está sendo deixado de lado. E isso é fundamental. O primeiro passo será a comunicação, estabelecendo um diálogo assertivo e sincero para entender o que está acontecendo. Devemos saber o que motiva esse comportamento e nosso parceiro, por sua vez, deve assumir a responsabilidade pela mudança.

Um casal é uma equipe, mas também duas pessoas com seus próprios problemas. Todos nós temos feridas latentes para curar e realidades para atender. Caso não se faça isso, esses lastros condicionarão qualquer relação afetiva. O amor exige dinamismo, reciprocidade, ser diariamente artífices de afeto, cuidado e atenção. Se isso não estiver presente, um relacionamento murcha em pouco tempo.


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