Uma mudança para melhor nem sempre é indolor

O medo e a resistência à mudança estarão sempre presentes. Lembre-se de que não é fácil sair da zona de conforto.
Uma mudança para melhor nem sempre é indolor
Gema Sánchez Cuevas

Escrito e verificado por a psicóloga Gema Sánchez Cuevas.

Última atualização: 27 abril, 2024

Uma mudança para melhor também é um desafio, uma aventura que, na maioria das vezes, nós empreendemos parcialmente ou totalmente às cegas. Mudar nos obriga a enfrentar a incerteza do que vai acontecer e abandonar o mecanismo de segurança ao qual estávamos acostumados.

Escolher um caminho pouco conhecido, que ainda não trilhamos, é um exercício de coragem e, muitas vezes, de inteligência. É difícil transitar por um lugar inóspito, mesmo quando se supõe que esta nova forma é muito melhor do que a anterior, seja assumir um cargo de trabalho com maior responsabilidade, incluir uma rotina de exercícios em nosso dia a dia, ou começar uma relação amorosa.

Apesar de ser uma mudança para melhor, é um processo e, como tal, devemos atravessar uma série de etapas com os seus respectivos estados emocionais e as suas consequências. Além disso, devemos considerar que o nosso cérebro prefere a permanência, a estabilidade e a sensação de segurança do que já é conhecido; assim, em algumas ocasiões, ele nos engana, criando dúvidas e utilizando a nostalgia para nos segurar.

Portanto, existem mudanças que, apesar de nos levarem ao que tanto desejamos, também doem. De alguma forma, mudar é dizer adeus ao que, até agora, fazia parte de nossas vidas, sejam hábitos, pessoas ou situações. O que podemos fazer para controlar essa sensação de perda?

“Quando sopram os ventos da mudança, alguns constroem muros. Outros constroem moinhos”.
– Provérbio chinês –

Mulher desanimada

Dizer adeus, um dos passos mais difíceis

Começar uma nova etapa supõe deixar outra para trás e, para que tudo dê certo, o melhor é que esta última seja concluída. Ou seja, que não deixemos nenhum assunto pendente. Para isso, é necessário dizer adeus, mas nem sempre é fácil, já que é preciso uma grande dose de coragem e uma compreensão clara sobre o que queremos para nós mesmos. Ainda assim, continua sendo muito complexo.

A despedida do que estávamos fazendo ou sentindo até agora inclui assumir e controlar o que sentimos em relação ao tema. Por exemplo, se decidimos optar pelo divórcio porque pensamos que é o melhor para nós e que, deste modo, vamos estar bem, nós temos que controlar a tristeza que sentimos por terminar o relacionamento com a outra pessoa. Apesar de ser uma mudança para melhor, este fim também causa dor.

Se não controlarmos bem os nossos sentimentos, eles podem frear o nosso processo de transformação; ou seja, impedir a mudança ao tardar a conclusão da etapa na qual estamos. Pode ser por medo, por indecisão, ou talvez por receio do que os outros vão pensar de nós. A questão é que, ao não controlar bem o nosso estado emocional, ficamos presos. Por isso, é importante esclarecer que a dor, a tristeza, e inclusive a irritação, podem estar associadas a uma mudança para melhor.

Para nos ajudar a seguir adiante, podemos nos perguntar o que nos motiva a permanecer assim, o que esperamos ao dar esse passo, o que não queremos perder. As respostas para estas perguntas esclarecerão o caminho e a confusão emocional que sentimos. Nós nos lembraremos da razão pela qual decidimos mudar.

Uma vez que já estejam esclarecidas as dúvidas, só resta aceitar a dor; ou seja, atravessar o mal-estar para deixar para trás a etapa de lagarta e começar a ser borboleta. Além disso, lembraremos que uma mudança sempre é um intercâmbio de perdas e ganhos entre o nosso “eu” do passado e o nosso “eu” do futuro, através de uma via: o “eu” do presente. Assim, é importante identificar aquilo do qual nos despedimos e as oportunidades que buscamos ao realizar essa mudança.

“A vida não é um problema a ser resolvido, e sim uma realidade a ser experimentada”.
– Soren Kierkegaard –

Borboleta voando

Enfrentar a mudança para melhor com responsabilidade

O adeus não é o ponto final no processo de mudança, nem sequer o último parágrafo do capítulo. Concluída a etapa anterior, falta se abrir à nova realidade, gerada pela atitude iniciada e o atual repertório de condutas. Uma realidade repleta de incertezas que vai exigir, além da mudança planejada, um processo de adaptação às consequências.

A mudança nos empurra a um universo de possibilidades, onde a nossa atitude funciona como bússola. Assim, a atitude com a qual enfrentamos tudo isso depende de nós. Controlar o nosso lado emocional também é necessário nesta nova etapa: é aqui que precisamos manter a calma, recordar os momentos em que estivemos perdidos, mas entender que, finalmente, nos encontramos.

Haverá aspectos da nova situação que parecem agradáveis, outros que podem ser desconhecidos e, inclusive, alguns que não agradem muito. Em última instância, a vontade e a responsabilidade de permanecer é toda nossa. A chave está em não se perder neste novo caminho.

Como vemos, as mudanças para melhor podem ser dolorosas porque implicam dizer adeus a uma parte da nossa história. A renúncia é o preço a pagar quando queremos e precisamos iniciar uma nova etapa.

“Aprendi que não se pode retroceder, que a essência da vida é ir adiante. A vida, na realidade, é uma rua de mão única”.
– Agatha Christie –


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