Por que as mulheres se manifestam no dia 8 de março?
Por que as mulheres se manifestam no dia 8 de março? Muitas pessoas se fazem essa pergunta. Algumas dizem que, em pleno século XXI, a discriminação contra as mulheres não existe ou é pontual. Também argumentam que as reivindicações feministas fazem pensar que a mulher é fraca e precisa de mais proteção, mesmo quando vivemos em uma época em que as mulheres não poderiam estar melhores.
Por outro lado, há aquelas pessoas que defendem as manifestações dizendo que ainda há muito a se fazer em relação à real igualdade entre homens e mulheres. Elas falam sobre a diferença salarial, o feminicídio, o medo que nós, mulheres, sentimos ao andar sozinhas pelas ruas, a invisibilidade da mulher na ciência e muitos outros temas.
Todas as opiniões são válidas, mas são apenas opiniões, sem dados que as sustentem. Por isso, neste artigo vamos tentar olhar para a realidade com dados a fim de analisar se as mulheres realmente têm razões para sair às ruas no dia 8 de março.
Motivos para ir às ruas no dia 8 de março
“Feminismo: princípio de igualdade de direitos entre mulheres e homens”.
-Definição do dicionário Real Academia de la Lengua Española-
A diferença salarial em dados
A diferença salarial que existe entre as remunerações recebidas por um homem e uma mulher ao realizar o mesmo trabalho se baseia em duas razões:
- Embora pertençam à mesma categoria profissional e, portanto, devam receber o mesmo salário, aos homens têm acrescidos em seu salário-base diferentes complementos que fazem com que sua remuneração final aumente de maneira indireta.
- As mulheres reduzem sua jornada de trabalho mais frequentemente do que os homens porque são elas as responsáveis pelo cuidado da família. Esses cuidados podem ser direcionados aos pais, filhos ou qualquer outro membro familiar dependente, fator que faz com que seus salários e suas chances de progredir na carreira profissional sejam menores quando se compara com os homens.
“As mulheres na Europa continuam recebendo em média 16,3% a menos que os homens. A diferença salarial entre homens e mulheres não se reduziu nos últimos anos e se deve, em grande medida, ao fato de que as mulheres costumam ter um nível de emprego inferior e em setores menos remunerados, recebem menos promoções, interrompem mais suas carreiras profissionais e desempenham mais trabalhos não remunerados”.
-Relatório da Comissão Europeia de 20 de novembro de 2017-
As mulheres na ciência
Quando falamos de mulheres na ciência, nós nos referimos às mulheres como referências educacionais e históricas dos nossos filhos. Essa análise consiste em parar para examinar os livros de história, ciência, química, física, matemática ou literatura, buscando qualquer referência feminina.
O resultado dessa análise é preocupante: as mulheres não existem, a não ser como meras acompanhantes históricas de figuras masculinas. As mulheres não são mais do que um apêndice, um apoio aos homens em suas conquistas. No estudo ESO: uma genealogia do conhecimento ocultada, realizado pela UNED (Universidade Nacional de Educação a Distância, universidade espanhola) pode-se conferir um desenvolvimento mais completo dessa ideia.
Outra forma de analisar esse fator é tentar se lembrar de referências femininas na cultura ou na ciência. Muitas pessoas conhecem Nelson Mandela, mas menos pessoas conhecem Rosa Parks; nós conhecemos Thomas Edison, mas poucos já ouviram falar de Beulah Louise Henry, embora ambos sejam importantes em suas áreas de conhecimento.
A penalização da maternidade no mercado de trabalho e o teto de vidro
Segundo um estudo realizado pelo Observatório Social de “La Caixa”, chamado As mulheres têm menos oportunidades de serem contratadas?, elaborado por pesquisadores da Universidade Pompeu Fabra, as mulheres têm 30% menos chances de chegar a uma entrevista de trabalho em igualdade de condições com os homens. Ou seja, com o mesmo currículo, aqueles que chegavam às entrevistas e recebiam melhores propostas de condições de trabalho eram homens.
Essa diferença se acentua ainda mais quando há filhos, já que segundo esse estudo, uma mulher com filhos tem 35,9% menos chances de ser chamada para uma entrevista de trabalho quando comparamos com um homem nas mesmas condições. Isso acontece porque somos nós que nos dedicamos aos cuidados familiares e o homem simplesmente “ajuda”, não é o responsável pelos cuidados.
Mas isso não é tudo. Segundo um estudo realizado com a população sueca, Does the gender composition in couples matter for the division of labor after childbirth? (A composição de gênero dos casais influencia a divisão do trabalho após o parto?, em tradução livre), a diferença salarial que surge com a maternidade em casais lésbicos, nos quais uma das mulheres foi mãe biológica, desaparece após 5 anos, algo que não acontece com os casais homossexuais.
O estudo esclarece que essa diferença desaparece nos casais homossexuais devido à divisão equitativa da criação dos filhos entre ambos os membros do casal.
A violência praticada pelo homem contra a mulher
Por fim, e não menos importante, analisamos a violência praticada pelo homem contra a mulher. A violência de gênero recebe esse nome porque as vítimas sempre são mulheres, e o ato ocorre pelo simples fato de serem mulheres. Na Espanha, desde o ano de 2003, data em que teve início a contagem de assassinatos resultados desse tipo de violência, morreram mais de 800 mulheres.
Segundo um artigo intitulado Violência contra as mulheres: uma nova visão estrutural, a violência contra as mulheres é uma estratégia para manter o poder patriarcal e uma forma de impedir que as mulheres saiam do lugar de desigualdade que tradicionalmente ocupam. Por isso, comparativamente está mais legitimada do que a violência contra os homens, e tal legitimação é expressa nos códigos jurídicos e penais, os quais são uma cristalização dos valores da sociedade em que são formulados.
Depois de ler tudo isso, você acha que não temos motivos suficientes para nos manifestar a favor do feminismo no dia 8 de março? Qual é a sua opinião sobre esse assunto?