Mutismo seletivo: sintomas e tratamento

O mutismo seletivo é um transtorno de ansiedade infantil altamente complexo, caracterizado pela incapacidade de uma criança para falar e se comunicar com eficácia em determinados ambientes sociais, como a escola.
Mutismo seletivo: sintomas e tratamento
Gema Sánchez Cuevas

Revisado e aprovado por a psicóloga Gema Sánchez Cuevas.

Escrito por Sonia Budner

Última atualização: 22 dezembro, 2022

O mutismo seletivo é um transtorno infantil bastante complexo, caracterizado pela incapacidade da criança de se comunicar com eficácia em certos ambientes sociais. São crianças que falam em ambientes onde se sentem confortáveis, mas têm grande dificuldade em iniciar qualquer tipo de comunicação verbal e não-verbal em outros ambientes.

Na realidade, é um transtorno de ansiedade infantil – então, na base dele está a ansiedade – no qual o ambiente social desempenha um papel modulador. Interagir com outras pessoas em ambientes onde elas não se sentem seguras, como a escola, pode ser opressor. Assim, muitos acabam exibindo um mutismo seletivo ao ambiente que pode ser total ou parcial, dependendo da criança.

Ao contrário do mutismo traumático, em que a criança perde completamente a fala após ter experimentado um evento traumático, as crianças com mutismo seletivo não a perdem completamente. Elas podem conversar e socializar em alguns ambientes e com algumas pessoas. O seu silêncio é um meio de evitar a evitar a ansiedade social.

Criança chateada

Como se desenvolve?

Grande parte das crianças com mutismo seletivo parecem ter uma predisposição genética para a ansiedade. São crianças que, desde muito pequenas, mostram sinais de muita ansiedade e extrema timidez.

As estatísticas também mostram que grande parte delas tem um temperamento que favorece essa postura tão conservadora e, em muitos casos, incapacitante. Algumas hipóteses sugerem que crianças altamente inibidas parecem ter um baixo limiar de excitabilidade da amígdala. Isso faria com que interpretassem eventos ou circunstâncias como sinais de perigo potencial, quando na realidade não o seriam.

Apenas 20-30% delas têm alguma anomalia sutil da fala, de linguagem ou de aprendizagem. Nesses casos, o estresse adicional faz com que a criança se sinta muito mais ansiosa quando há circunstâncias em que ela deve se comunicar.

Há uma pequena proporção dessas crianças com temperamento inibido que vêm de famílias bilíngues ou que passaram um tempo em um país estrangeiro e, portanto, expostas a outra língua durante o desenvolvimento da linguagem (entre 2 a 4 anos).

O comportamento de uma criança com mutismo seletivo

É importante saber que uma criança com mutismo seletivo tem uma atitude comunicativa normal em ambientes nos quais se sente confortável. Os pais dessas crianças costumam comentar como elas são falantes, engraçadas, curiosas e até teimosas quando estão em casa.

Sintomas do mutismo seletivo

Quase todos os sintomas de uma criança com mutismo seletivo podem ser atribuídos à ansiedade. Alguns deles são:

  • Inibição temperamental: comportamento tímido e extremamente cauteloso em situações novas ou desconhecidas. Também podem ser inflexíveis, temperamentais e dominadoras em casa. Essas crianças precisam de ordem e controle internos.
  • Ansiedade social: mais de 90% das crianças que sofrem de mutismo seletivo apresentam um alto nível de ansiedade social, apesar de possuírem habilidades sociais adequadas à idade; simplesmente não as colocam em prática.
  • Sintomas físicos diversos: além do mutismo, essas crianças apresentam dores de estômago recorrentes, náuseas, vômitos, dores de cabeça e nas articulações, falta de ar, diarreia e nervosismo.
  • É bastante comum que essas crianças, em situações sociais que as sobrecarregam, mostrem uma expressão facial neutra e não sorriam. Até a sua linguagem não-verbal torna-se rígida, evitam o contato visual e parecem mais interessadas ​​em brincar sozinhas. Algumas podem apresentar esses sintomas na presença do grupo de crianças ou do professor, mas podem interagir normalmente com apenas alguns deles.
  • Elas também podem ter problemas com alimentação, intestino e bexiga, sensibilidade a luzes muito brilhantes ou sons muito altos.
  • Podem apresentar dificuldades com as sensações do tato, como a etiqueta no vestuário, ao serem tocadas por outras pessoas ou terem o cabelo penteado. São crianças com sentidos muito aguçados, muito perceptivas e sensíveis.
  • Dentro da sala de aula, elas tendem a se isolar dos outros. Têm dificuldade em seguir uma série de instruções e se distraem facilmente. Apesar disso, muitas crianças com mutismo seletivo são muito inteligentes e se concentram nos estudos como forma de escapar da interação social.
  • Pode aparecer a ansiedade comórbida: ansiedade de separação, transtorno obsessivo-compulsivo TOC, tricotilomania (arrancar os cabelos), fobias específicas e transtornos do pânico.
Menino com medo

Como o mutismo seletivo é tratado?

As terapias de intervenção em crianças que sofrem de mutismo seletivo estão focadas em incentivá-las a passar da comunicação não-verbal para a comunicação verbal. O objetivo principal é reduzir a ansiedade, aumentar a autoestima e desenvolver habilidades sociais e de comunicação. Existem várias abordagens a partir das quais pode ser proposta uma intervenção:

  • Terapia comportamental: busca, com reforço positivo, sobrepor sentimentos ou expectativas positivas à ansiedade, bloqueando indiretamente a resposta de evitação (silêncio).
  • Terapias lúdicas: psicoterapia e outras abordagens psicológicas que ajudam a aliviar a pressão de verbalizar e que ajudam a criança a relaxar.
  • Terapia cognitivo-comportamental: intervém sobre os pensamentos que geram ansiedade. Entende-se que, ao reduzir o nível de ansiedade que a criança sente, ela tenderá naturalmente a ser mais comunicativa.

De qualquer forma, seja um referencial teórico ou outro que respalde a intervenção, a solução não é forçar a criança a falar. Em vez disso, trata-se de transferir aquela sensação de segurança que a capacita em certos ambientes para aqueles nos quais ela não tem um alto grau de conhecimento ou controle, de maneira que a ansiedade seja reduzida.


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