Não lidar com o que dói é uma decisão inteligente, não covarde

Não lidar com o que dói é uma decisão inteligente, não covarde

Última atualização: 26 fevereiro, 2017

Escolher ser forte e lidar com a dor é a melhor coisa que podemos fazer, mas às vezes essa estratégia não implica revivê-la e se contorcer nela constantemente. Evitar alguma coisa que dá trabalho e que o desafia a alcançar o que valoriza na vida é fugir. Evitar se encontrar constantemente com o que perturba o seu estado de ânimo e está impedindo você de viver com tranquilidade é inteligência emocional.

A liberdade e a força também estão no fato de evitar topar repetidamente com aquilo que nos incomoda ou nos causa dor. Ser forte é enfrentar os seus medos e fantasmas, como o medo da rejeição de nos mostrarmos do jeito que somos. E somos tanto o que gostamos quanto o que não gostamos. Por isso, não lidar com o que dói é uma decisão inteligente, não covarde.

Não lidar com a dor inútil que nos impede de evoluir

Alguns psicólogos humanistas como Carl Rogers já apontavam que a tendência de todo ser humano é a autorrealização. Outros como Kelly, Royce e Powell falavam da capacidade do ser humano de ser um agente ativo que constrói a sua realidade com o fim de se adaptar ao mundo e de, também, construir a sua própria individualidade.

Este processo de busca e experimentação é totalmente apaixonante se pouco a pouco vamos encontrando aquilo que nos faz crescer como pessoas, e não ficamos estancados em um protótipo mais parecido com um robô do que com uma pessoa original e dinâmica, que muda com o tempo e as circunstâncias.

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A depressão e a ansiedade às vezes têm a sua origem na imobilidade. Uma imobilidade que deriva da crença imposta de que, para ser uma pessoa válida, é preciso ostentar uma força incomum diante daquilo que não suportamos. Além disso, somada a esta crença está a ideia de que o sucesso está em poder superá-lo e sair vitoriosos.

Muitos transtornos psicológicos aparecem quando não somos capazes de dizer “CHEGA” a tempo. Uma coisa aparentemente fácil em alguns contextos, mas tremendamente difícil para algumas pessoas que preferem se sentar em um assento desconfortável e perigoso do que fazer o esforço de consertá-lo.

Dizer CHEGA é necessário

Em nosso mundo o estado de felicidade já não é mais um estado de ânimo, mas sim uma imposição constante: estar feliz, ser forte, e principalmente se mostrar assim. Esta necessidade criada se transforma em um cárcere emocional que não deixa fluir todo o complexo dinamismo psíquico do qual os seres humanos dispõem.

Um dos fatores desse dinamismo é o descontentamento e a dor que certas pessoas e situações nos provocam. Os seres humanos sentem dor, sempre sentimos isso, mas poder evitá-la quando isso está em nossas mãos é uma sadia estratégia emocional. Isso não determina que sejamos mais ou menos fortes, mas mostra a nossa própria inteligência para evitar aquilo que sabemos que sempre nos debilitou.

“Seja forte filho, essa criança não conseguirá te vencer; enfrente-o”. “Seja forte diante de um término, você precisa conseguir ver o seu ex com outra”. “Seja forte e aguente, mesmo que você não goste desse trabalho, você terá seu salário”. “Relacione-se com todo tipo de pessoas, mesmo que às vezes sejam más, a vida é assim”. “Não leve tão a sério o desprezo da sua família, o sangue é sangue”. Quem já não ouviu estas frases alguma vez?

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Embora seja verdade que a vida é assim, com momentos duros, não precisamos definir a força e a covardia nestes termos. A força tem mais a ver com afirmações do tipo “Tenho que conseguir falar em público algum dia porque isto é importante para o meu trabalho”; “Hoje tenho vontade de ficar numa boa e não tenho porque estar no mesmo lugar que o meu ex quando ainda não superei o término”. “Não vou me calar diante do desprezo da minha mãe em público” ou “Vou deixar esse trabalho porque ele acaba comigo e não é o que quero na vida”.

Para a grande maioria, as últimas afirmações pertencem a um mundo utópico, a pessoas imaturas e egoístas. Contudo, as primeiras perpetuam muito mais situações de dor e injustiça do que as segundas. Criam pessoas infelizes com seu trabalho, companheiros e amigos. Criam pessoas incapazes de alcançar a autorrealização por não saberem diferenciar a dor inútil da dor valiosa.

Entender mal a força cria pessoas covardes com relação a seus próprios sentimentos. Desperdiça talentos e paixões por colocar-se em lugares e junto a pessoas erradas. Assim, pense que se você é inteligente, você não precisará desenvolver tanta força para enfrentar situações complicadas. Não se sinta um covarde, mas sim alguém que luta por aquilo que o faz mais forte e não que se empenha em lidar com aquilo que o fragiliza.


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