Não tenha medo de renascer

Não tenha medo de renascer
Gema Sánchez Cuevas

Escrito e verificado por a psicóloga Gema Sánchez Cuevas.

Última atualização: 21 dezembro, 2017

Precisamos vencer o medo de renascer. Nascer não é um momento, mas sim um processo que acontece várias vezes ao longo da vida. No ser humano, o nascimento tem a ver com se desprender do outro para sempre. Cortar o laço que nos amarra a alguém. Entrar em um mundo desconhecido e assumir essa condição de individualidade e, portanto, de solidão, que nos determina.

Ao longo da vida muitas vezes nos encontramos em situações semelhantes às que experimentamos no nascimento. As grandes separações, as grandes despedidas, o confronto de grandes começos…

São situações maravilhosas e aterrorizantes ao mesmo tempo. Um verdadeiro desafio que coloca à prova tudo o que somos. A vida é o que nos coloca diante desse tipo de experiência na maioria das vezes. Mas o nascimento também pode ser um processo voluntário. Uma decisão que tomamos quando a evidência nos mostra que um grande ciclo morreu e que é hora de inaugurar um novo. É hora de superar o medo de renascer e recomeçar.

“Quem não está ocupado em nascer, está ocupado em morrer”.
-Bob Dylan-

Bebê logo depois de nascer

O trauma de nascer

Muito tem se falado sobre o trauma do nascimento. Ao mesmo tempo, pouco se sabe sobre ele. Presume-se que o feto passe por momentos de grande angústia no momento do nascimento. A necessidade de atravessar, de sair para o mundo em meio a dificuldades, é um momento dramático. Nós tocamos nossas vidas, literalmente, naquele momento.

O grito e o choro anunciam que estamos fora. Agora, somos um ser individual, jogado eternamente na solidão depois de ter desfrutado o mel da simbiose com nossa mãe. O mundo para o qual chegamos tem muita hostilidade, aqui fora já não faz o mesmo calor.

Nessa nova etapa há frio, há fome. São novas sensações. No ventre nunca as tínhamos experimentado. Antes não precisávamos pedir nada, agora sim. Pode ser que atendam ao nosso chamado, pode ser que não. É possível que compreendam nossas necessidades, mas o contrário também pode acontecer. Da segurança completa, saímos para a incerteza.

Nascer de novo e de novo

Nunca voltaremos a ser tão indefesos quanto na primeira vez em que nascemos. Mas teremos que voltar a nascer em repetidas oportunidades. E também irá se repetir o trauma que acompanha esses processos. É um ciclo de vida inevitável.

Várias vezes vamos sentir que estamos habitados por duas forças concorrentes. Uma delas sugere que existe um amplo mundo além das fronteiras conhecidas. É uma força que nos convida a explorar, a nos arriscar. A outra força, por outro lado, nos atrai para tudo o que já conhecemos. Enfatiza as vantagens de nos mantermos atados. Como podemos vencer este medo de renascer?

Borboleta batendo suas asas

Muitas vezes não teremos escolha. Nós seremos lançados para uma nova etapa, para um novo mundo, sem que ninguém nos consulte. A morte de alguém amado, por exemplo, não é algo que podemos aceitar ou rejeitar. Simplesmente acontece e nos leva, mais uma vez, a uma dimensão hostil, onde teremos que nos reinventar. O mesmo acontece com qualquer grande perda ou com qualquer mudança radical no contexto habitual.

O grande passo para vencer o medo de renascer

Às vezes somos nós mesmos os responsáveis ​​por nos desenvolvermos e decidirmos o momento e o lugar para renascer. Isso acontece quando finalmente aceitamos que devemos completar o processo de individualização, com todas as suas maravilhas e todas as suas limitações.

Acontece quando saímos da casa dos pais, por exemplo. Ou quando decidimos terminar um relacionamento que prometeu ser a resposta para toda a nossa solidão. Também quando reconhecemos que o contexto pesa demais e que é necessário recomeçar em um ambiente desconhecido, talvez a milhares de quilômetros de onde está nossa casa. O mesmo acontece ao deixar um vício para trás ou ao desistir de algum sonho que finalmente reconhecemos como equívoco.

Mulher em praia diante do por do sol

É impossível nascer de novo sem algum trauma. Esses processos não são realizados em completa serenidade e com moderação. Pelo contrário, são decisões que custam. E custam lágrimas, estranheza, dúvidas e gasto de energia. No entanto, assim como quando nascemos pela primeira vez, mais adiante da passagem pelo estreito túnel, todo um novo mundo nos espera por explorar.

Dentro de cada um de nós vive esse navegante aventureiro que é capaz de navegar mil vezes para descobrir novos mundos. Também há a criança assustada que chama a mãe toda vez que abre a porta para sair da casa. É preciso tempo e esforço para decidirmos nascer. Mas adiante, lá fora, nos espera tudo o que somos capazes de ser.


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