Necessitados compulsivos: um perfil cada vez mais comum

Necessitados compulsivos: um perfil cada vez mais comum
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 15 novembro, 2021

Os necessitados compulsivos dão voltas ao nosso redor como insetos persistentes em busca de alimento. Falam apenas um idioma: o do “eu quero, eu preciso, tenho que lhe dizer…”. Falamos de pessoas incapazes de gerenciar sua frustração, que carecem de autonomia pessoal e do impulso para se responsabilizar por suas vidas de forma coerente e madura.

Muitos psicólogos dizem que esse excesso de “necessidade” é o autêntico transtorno do século XXI. Talvez seja a própria sociedade que tenha nos empurrado para esse tipo de comportamento. Uma maneira de agir guiada, em muitos casos, por um certo desejo consumista e por uma necessidade quase constante de preencher nossos vazios existenciais.

Tudo o que você precisa é deixar de precisar.

Falta “algo” e não sabemos muito bem o que é. É por isso que, às vezes, nos tornamos almas penadas rondando por nossos cenários sociais em busca de um reforço ou um estímulo para satisfazer nossa ânsia inexplicável. Às vezes fazemos isso, procuramos um amor impossível, buscamos novas experiências, procuramos um móvel novo, roupas novas, uma nova série de televisão que nos faça esquecer o estresse, comida que alivie nossa ansiedade, etc.

Todos nós precisamos de coisas, todos nós precisamos de pessoas, todos, de certa forma, somos necessitados cotidianos. No entanto, o problema aparece quando essa carência nos converte em necessitados compulsivos. Nós nos referimos a um tipo de perfil que procura com algum desespero por algo que não sabe definir, perturbando os outros e os colocando na obrigação de preencher suas necessidades e satisfazer suas demandas.

Mulher sendo puxada por nuvens

Os necessitados compulsivos enchem os consultórios dos psicólogos

É um fenômeno crescente que merece ser abordado, e acima de tudo, entendido. São cada vez mais necessitados compulsivos, um dos perfis mais frequentes nas consultas de psicólogos. Chegam confusos, com um alto nível de frustração, e muitas vezes até com raiva de como o mundo os trata, de como eles são tratados, em essência, por sua família e amigos.

Ninguém parece estar à altura das suas expectativas. Ninguém conseguiu lhes dar o carinho que eles merecem. As pessoas que estão sempre lá para eles podem ser contadas nos dedos de uma mão e, às vezes, nem isso. Os necessitados compulsivos veem e compreendem o mundo a partir de sua própria perspectiva, portanto, eles são incapazes de perceber até que ponto chegam suas exigências constantes, suas demandas egoístas, suas demandas totalitárias.

Sua atitude é tão infantil que o psicólogo se vê na obrigação de romper, em primeiro lugar, aquela barreira, para fazê-los entender que, por trás da constante necessidade, existe um vazio insondável. Conseguir isso não é nada fácil, porque estamos diante de um manipulador secreto acostumado desde sempre ao mínimo esforço e que sejam os outros a nutri-los, resolvê-los, libertá-los de todo peso, medo ou problema.

Homem fazendo terapia

Os necessitados compulsivos precisam “consumir” para viver. Consomem nossas energias e nossos ânimos, consomem seu dinheiro e seu tempo em experiências para encontrar um substituto para a felicidade. No entanto, o que conseguem no final é também consumir a eles mesmos ao intensificar suas deficiências e desespero.

Como ajudar os necessitados compulsivos

A qualidade de vida de uma pessoa que tem a sensação clara de que sempre carece de “algo” pode ser terrível. Já disse Albert Ellis em sua época que “os pensamentos de constante necessidade nos fazem perder o controle e levam a emoções negativas”. Se isso acontece, se deve a um fato tão simples quanto óbvio: o sentimento de “necessitar algo” está relacionado ao nosso senso de sobrevivência.

Ou seja, esse vazio que precisamos preencher nos leva a pensar que não seremos capazes de seguir adiante. Se não me ajudam, se não me apoiam, se eu não tenho isso ou aquilo ou a outra coisa, então tudo irá se desmoronar. Assim, o sentimento de falta gera medo, o medo necessidade, e a necessidade desespero. Estamos diante de um círculo vicioso que deve ser desativado e trabalhado de forma mais lógica, saudável e significativa.

Chaves para parar de precisar

O primeiro passo que daremos com o necessitado compulsivo é trabalhar com suas verdadeiras necessidades. Por isso, vale a pena fazer um exercício de esclarecimento para substituir o “eu preciso” pelo “eu quero”. Por exemplo:

  • “Eu preciso que os outros me escutem” ⇔ “Eu preciso me sentir valorizado porque não me amo o suficiente.”
  • “Eu preciso que os outros me ajudem a resolver meus problemas” ⇔ “Eu preciso de ajuda porque me sinto incapaz de lidar com o que acontece comigo.”

Uma vez que a pessoa tenha esclarecido seus vazios ou pontos fracos, como baixa autoestima, insegurança, incapacidade de resolver problemas, falta de decisão, etc., é hora de trabalhar em profundidade cada um desses aspectos.

Mulher em dúvida

Outro ponto decisivo neste processo é fazer com que o necessitado compulsivo aplique em seu dia a dia uma simples regra: “Procurar em mim mesmo aquilo que eu preciso nos outros”.

  • Ou seja, se preciso de alguém para resolver algo, tentarei fazê-lo sozinho. Se quero que alguém me dê seu apoio em um determinado aspecto, vou tentar me motivar primeiro, encontrar forças e palavras positivas em meu interior para alcançar este objetivo.
  • Além disso, esse perfil é caracterizado por ter um crescimento pessoal inacabado. É aconselhável, portanto, favorecer novas experiências que o façam refletir, relativizar esquemas e trabalhar sua abertura emocional.

Por último, mas não menos importante, nunca é demais trabalhar com eles a empatia, a consciência social, que eles entendam que os outros também têm necessidades e que, na vida, não só se deve saber como conjugar os verbos “querer ou precisar”, também há outro de igual importância, “oferecer”.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.