Neurônios espelho e empatia: maravilhosos mecanismos de conexão

Neurônios espelho e empatia: maravilhosos mecanismos de conexão
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 15 novembro, 2021

Um dos processos mais fascinantes da neurociência é constituído por neurônios espelho e empatia. Com ele as ações e as emoções alheias não passam despercebidas e podemos ser capazes de dar uma resposta empática. São mecanismos que também têm um contexto social e sua implementação tem uma grande influência em nossas relações cotidianas.

Nos imaginemos por um momento sentado nas cadeiras de um teatro. Visualizemos agora um grupo de excelentes atores nos apresentando uma determinada obra, executando precisos movimentos corporais e gestuais e entoando cada palavra perfeitamente, conseguindo com isso nos contagiar com uma infinidade de emoções…

“Olhe com os olhos do outro, escute com os ouvidos do outro e sinta com o coração do outro.”
-Alfred Adler-

Nada disso faria sentido se não tivéssemos essa base biológica capaz de nos permitir ativar uma poderosa gama de sensações, sentimentos e emoções, como o medo, a compaixão, a alegria, a preocupação, a repulsão, a felicidade… Sem tudo isso o próprio “teatro” da vida não teria qualquer significado, seríamos como entidades vazias, uma civilização de hominídeos que não poderia ter desenvolvido algum tipo de linguagem.

Assim, não pode nos surpreender que o interesse pelos neurônios espelho e pela empatia não seja reduzido apenas ao mundo da neurociência ou da psicologia, também a antropologia, a pedagogia ou a arte têm se ocupado nas últimas décadas para conhecer um pouco mais dessa arquitetura interior, esses maravilhosos mecanismos sobre os quais ainda não sabemos tudo…

Neurônios conectados

Neurônios espelho e empatia, uma das maiores descobertas da neurociência

Não faltam cientistas ou psicólogos que afirmam com total certeza que os neurônios espelho farão pela psicologia o mesmo que a descoberta do DNA fez pela biologia na época. Deve-se dizer que saber a cada dia um pouco mais sobre neurônios espelho e empatia nos ajuda a conhecer uns aos outros um pouco melhor, no entanto, não devemos cair no erro de dizer que são esses processos, exclusivamente, aqueles que nos tornaram “humanos”.

O que somos atualmente é o resultado de uma infinidade de processos juntos. A empatia facilitou nossa evolução social e cultural, mas não foi a única determinante. Com tudo isso, queremos deixar claro que, em relação a essas dimensões da neurociência, ainda existem alguns mitos falsos que precisam ser descartados. Não é verdade, por exemplo, que as mulheres tenham mais neurônios espelho do que os homens.

“Você só pode entender as pessoas se as sente em você.”
-John Steinbeck-

Por outro lado, também não há estudos conclusivos sobre a afirmação clássica de que as pessoas com transtorno do espectro autista apresentam uma clara disfunção em seus neurônios espelho ou que se caracterizam por ter uma falta total e “absoluta” de empatia. Não é verdade. Na realidade, o problema real estaria mais no aspecto cognitivo, naquela “teoria da mente” onde a pessoa é capaz de inferir informações, fazer uma análise simbólica e, por sua vez, executar um comportamento apropriado e ajustado ao estímulo observado.

Para entender um pouco melhor esses processos, veremos mais dados sobre o que a ciência nos diz até o momento sobre neurônios espelho e empatia.

Árvores em forma de cabeças

Nossos movimentos e a relação com neurônios espelhos e empatia

Esse dado não é muito conhecido e é importante o recordarmos. A empatia não existiria sem o movimento, sem nossas ações, gestos, posturas… De fato, ao contrário do que podemos pensar, os neurônios espelho não são um tipo específico de neurônios. Na verdade, eles são células do sistema de pirâmide relacionadas ao movimento. No entanto, eles têm a particularidade de serem ativados não só com o nosso movimento, mas também quando observamos o dos demais.

Isso foi o que descobriu o Dr. Giacomo Rizzolatti, um neurofisiologista italiano e professor da Universidade de Parma que, na década de 90, investigava os movimentos motores dos macacos. Para ele era fascinante ver como existia uma série de estruturas neuronais que reagiam ao que outro membro da mesma ou de outra espécie estivesse fazendo.

Esta rede de neurônios piramidais ou neurônios espelho se localizam na convolução frontal inferior e no córtex parietal inferior e estão presente em muitas espécies, não apenas em nós. Os macacos e nossos animais de estimação, como os cachorros ou gatos, podem “empatizar” entre eles e conosco.

Os neurônios espelho em relação à nossa evolução

Ressaltamos há um momento que os neurônios espelho e a empatia não são um interruptor mágico que, em um determinado momento, iluminaram nossa consciência para nos permitir evoluir como uma espécie. Na verdade, foi uma sucessão de infinitas maravilhas, como a coordenação dos olhos que desenvolveu a nossa consciência simbólica, foi também esse salto qualitativo nas estruturas do pescoço e do crânio que possibilitaram a linguagem articulada…

Entre todos esses processos surpreendentes estão os realizados pelos neurônios espelho. Foram eles que mediaram nossa faculdade de compreender e interpretar certos gestos, para associá-los a um conjunto de significados e palavras. Desta forma, facilitaram a coesão social do grupo.

Pessoas em forma de árvores

A empatia, um processo cognitivo essencial para nossos relacionamentos

Os neurônios espelho nos permitem empatizar com aqueles que nos cercam. Eles são a ponte que nos conecta, que nos vincula entre nós e que, por sua vez, nos permite experimentar três processos muito básicos:

  • Poder conhecer e compreender o que a pessoa que tenho em frente sente ou experimenta (componente cognitivo).
  • Também podemos “sentir” o que essa pessoa sente (componente emocional).
  • Finalmente, e esse tipo de resposta sem dúvida exige maior sofisticação e sensibilidade, podemos, por sua vez, responder de forma compassiva, dando forma a esse comportamento social que nos permite avançar em um grupo.

Por outro lado, nesse ponto seria interessante refletir sobre uma ideia interessante que nos propõe o psicólogo da Universidade de Yale, Paul Bloom. Muitos de seus artigos têm sido bastante polêmicos por defender que a empatia, na atualidade, não está nos servindo para nada. Por trás desta declaração impressionante se esconde uma realidade óbvia.

Chegamos a um ponto em que todos somos capazes de sentir, ver e perceber o que a pessoa que tenho à minha frente ou que aparece na minha televisão sente, mas, no entanto, nos acostumamos a permanecer impassíveis.

Normalizamos o sofrimento alheio, estamos tão imersos em nossos próprios micromundos que não somos capazes de ir além da nossa bolha pessoal… Portanto, o Professor Singer nos incentiva a sermos “altruístas, eficazes e ativos”. Neurônios espelho e empatia compõem esse “pacote” padrão na programação do cérebro que todos nós temos. É como o Windows de um computador quando o compramos na loja, mas que devemos saber como usar efetivamente, aproveitando ao máximo seu potencial.

Pessoas com cérebros conectados

Devemos, portanto, aprender a olhar para os outros deixando de lado os preconceitos. Também não serve que nos limitemos a “sentir o mesmo que os outros sentem”, é necessário que possamos compreender sua realidade, mas manter a nossa para poder participar efetivamente do processo de ajuda, de apoio, de altruísmo.

Porque, afinal, o sentimento que não é acompanhado pela ação é inútil. Assim, se chegamos onde estamos, é precisamente porque fomos proativos, porque nos preocupamos com cada membro de nosso grupo social ao entender que juntos avançamos em melhores condições do que na solidão.

Lembremos, portanto, qual é o verdadeiro propósito dos neurônios espelho e da empatia: promover nossa sociabilidade, nossa subsistência, nossa conexão com quem está ao nosso redor.

Referências bibliográficas

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