Nem cão, nem lobo, psicologia de um velho índio

Nem cão, nem lobo, psicologia de um velho índio

Última atualização: 26 maio, 2015

“A terra é profunda e a sua sabedoria é grande. Escute as pedras e escute o vento. Se todos fizessem algo pelos outros, não haveria ninguém necessitado em todo o mundo.”

No livro “Nem Lobo, nem Cão. Por Caminhos Esquecidos com um Índio Ancião”, Kent Nerburn nos traz o testemunho e as palavras de um índio Lakota. De tempos em tempos, sempre vale a pena lembrar ou voltar a olhar para estas culturas tão diferentes do nosso próprio estilo de vida.

Mas você pode estar se perguntando, por quê? Talvez porque nunca é demais conhecer algo novo a cada dia, algo que tem a ver com a nossa natureza como seres humanos. Às vezes, sem perceber, costumamos nos encher de pressa com o café da manhã, nos amarrando com obrigações e preocupações enquanto fechamos as janelas àquilo que, possivelmente, nos dá oxigênio e luz. O que é verdadeiramente importante.

Os pensamentos dos índios Lakota estão enraizados nas coisas simples que fazem por si sós, um autêntico legado psicológico que merece ser lembrado para ter em conta. Trata-se de um tipo de sabedoria que pode nos ajudar perfeitamente a desenvolver algumas competência sociais e pessoais.

Psicologia de um sábio índio

Audição ativa: Os índios Lakota costumavam dizer que o homem branco sempre resolvia as coisas discutindo. Que eram incapazes de se ouvirem uns aos outros para aprender. Esta é, sem dúvida, uma dimensão essencial em muitas perspectivas da psicologia atual: a escuta ativa. “Nós índios sabemos do silêncio. Não temos medo dele. De fato, pra nós é mais poderoso do que as palavras. Nossos anciãos foram educados nos modos do silencio e eles nos transmitiram esse conhecimento. Observe, escute e então aja, nos diziam. Essa é a forma de viver.”

Capacidade de aprendizagem: Manter uma mente aberta, saber observar, aprender para se adaptar e sobreviver. Os índios Lakota viviam da natureza e compreendiam a necessidade de aprender todos os dias, com o seu meio e as pessoas, para avançar na sobrevivência.

O respeito era essencial para eles, por isso nunca entendiam por que o homem branco jamais conseguiu ter o mesmo ponto de vista deles. “Observe os animais para ver como cuidam das suas crias. Observe os anciãos para ver como se comportam. Observe ao homem branco pra ver o que ele quer. Sempre observe primeiro, com coração e mente quietos, e então você aprenderá. Quando você tiver observado suficientemente, então poderá agir”.

Negociação e solução de conflitos: Todos já lemos e inclusive aprendemos muitas das pautas redigidas em centenas de livros sobre a solução de conflitos, articuladas a partir de várias perspectivas psicológicas. Entre elas, estão a necessidade de saber ouvir de forma ativa, de ter empatia com o outro para compreender o seu ponto de vista, e de sermos suficientemente assertivos para colocar em voz alta os seus pensamentos e necessidades.

Os índios Lakota também tinham isso claro e tentaram transmiti-lo ao homem branco: a necessidade de ouvir, de guardar silêncio para entender uns aos outros.

“Nas suas festas todos procuram falar. No trabalho estão sempre tendo reuniões nas quais todos interrompem a todos e todos falam cinco, dez ou cem vezes. E a isso chamam de “resolver um problema”. Quando estão em um ambiente e há silêncio, ficam nervosos. Precisam preencher os espaços com sons. Assim, falam por impulso, mesmo antes de saber o que vão dizer. Para os índios isto é uma falta de respeito e inclusive algo muito estupido. Se você começar a falar, eu não vou lhe interromper. Quando você acabar, tomarei a minha decisão sobre o que você disse, tendo primeiro compreendido o seu ponto de vista.”

O valor que os Lakota atribuíam às palavras era essencial. Para eles “eram sementes para plantar e deixá-las crescer”. Talvez por isso chegaram a se entender e a manter-se tão unidos tanto como povo, e como unidade familiar. “Raras avis” para os homens brancos, que jamais quiseram chegar a compreender o porquê da sua tranquila quietude, da sua incompreensível harmonia e desse ar primitivo intimamente arraigado à natureza.

Pode ser que atualmente continuem nos parecendo estranhos e algo antiquados, mas o seu legado está coberto de grandes verdades e simples ensinamentos que merecem ser lidos e ouvidos. Em silêncio e para dentro de nós mesmos.

Para nos fazer pensar…


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